COVID-19

Ipojuca critica Estado por não ter finalizado protocolo sobre retomada de comércio na Praia de Porto de Galinhas

Após reportagem do JC sobre a volta de barraqueiros e ambulantes à praia de Porto de Galinhas, o Governo do Estado respondeu que estava "finalizando os últimos ajustes do protocolo" para incluir categorias no plano de retomada. Prefeitura de Ipojuca defende que seus índices justificam o retorno das atividades

Katarina Moraes
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Katarina Moraes
Publicado em 20/08/2020 às 11:40 | Atualizado em 21/08/2020 às 13:38
FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Os serviços dos barraqueiros estavam paralisados por cinco meses devido à pandemia - FOTO: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Com informações da repórter Roberta Soares

Barraqueiros repetiram a ação realizada nessa quarta-feira (19) e voltaram a montar suas estruturas de guarda-sóis coloridos e cadeiras nas praias Ipojuca, no Litoral Sul, com destaque para Porto de Galinhas, cartão-postal de Pernambuco, nesta quinta-feira (20), após cinco meses de paralisação devido à pandemia. Os ambulantes também começaram novamente a circular nas faixas de areia do balneário, considerado um dos principais cartões-postais do Estado. A prática, no entanto, não foi permitida pelo Plano de Convivência com a Covid-19, elaborado pelo Governo de Pernambuco, e as classes ainda não ganharam previsão para retorno regular às atividades. À reportagem, a Prefeitura de Ipojuca demonstrou preocupação pela gestão estadual ainda não ter concluído o protocolo para a retomada da categoria, conforme foi declarado ao JC pelo próprio Governo de Pernambuco, e defende que seus índices epidemiológicos justificam retorno das atividades.

O JC publicou, nessa quarta, uma reportagem sobre o protesto dos ambulantes e barraqueiros, que voltaram à orla de Porto de Galinhas, Serrambi, Muro Alto e Maracaípe após cerca de 150 dias parados. Ao ser questionada, a gestão afirmou, por meio do Gabinete de Enfrentamento ao Coronavírus, que "está finalizando os últimos ajustes do protocolo específico que vai contemplar as diversas peculiaridades do segmento, além do período oficial da retomada". A declaração, no entanto, foi criticada pela Prefeitura de Ipojuca, que indagou: "Nos preocupa a declaração do Governo do Estado dada ao Jornal do Commercio de que ainda estão 'finalizando ajustes do protocolo específico' quando chegamos ao 6º mês de pandemia e a gestão estadual ainda não conseguiu concluir".

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À reportagem, a Prefeitura de Ipojuca demonstrou preocupação pela gestão estadual ainda não ter concluído o protocolo para a retomada da categoria - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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As classes ainda não ganharam previsão para retorno regular às atividades - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Os serviços dos barraqueiros estavam paralisados por cinco meses devido à pandemia - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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A prática, no entanto, não foi permitida pelo Plano de Convivência com a Covid-19, elaborado pelo governo de Pernambuco - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Os ambulantes também começaram novamente a circular nas faixas de areia - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Barraqueiros repetiram a ação realizada nessa quarta-feira (19) e voltaram a montar suas estruturas nas praias Ipojuca. A estimativa da Associação de Barraqueiros de Ipojuca é de que 95% dos 124 profissionais retomaram o comércio - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
ROBERTA SOARES/JC
Devido à pandemia do novo coronavírus, os barraqueiros estão proibidos de retomarem as atividades e ainda não foram informados de uma data para o retorno - ROBERTA SOARES/JC

A Prefeitura de Ipojuca informou que notificou as associações das duas categorias por infringirem o decreto estadual, e que enviou ofício ao Ministério Público, comarca de Ipojuca, solicitando que o órgão ajudasse na intermediação entre as categorias e o Governo do Estado. A gestão municipal afirmou, também, que entregou ao Estado, desde o dia 03 de junho, o protocolo municipal de retomada das atividades nas praias, feito em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e que enviou ofício ao governador Paulo Câmara pedindo a liberação do protocolo municipal desde o dia 15 de julho, mas não obteve resposta.

A expectativa é que, pelos excelentes dados de saúde, a liberação aconteça o mais rápido possível sem confrontos e sem ainda mais desgastes para as categorias
Prefeitura de Ipojuca

Por fim, a Prefeitura reforçou que seus índices justificam o retorno das atividades nas praias, apesar de entender "que os cuidados com a saúde da população são prioridades neste momento". "A Prefeitura entende que os cuidados com a saúde da população são prioridades neste momento, mas em relação a Ipojuca, os nossos índices justificam o retorno das atividades nas praias. Até esta quinta-feira (20), a cidade contabilizou 751 casos confirmados, 614 recuperados e 91 óbitos. Nas ultimas 24 horas, um caso leve foi confirmado. "Ipojuca alcançou a marca de 29 dias seguidos sem óbitos por covid-19 e possui menos de 5% de ocupação no Hospital de Campanha, por isso a expectativa é de que, pelos excelentes dados de saúde, a liberação aconteça o mais rápido possível, sem confrontos e sem ainda mais desgastes para as categorias", disse a prefeitura em nota.

Comerciantes pedem por definição de data

O descumprimento das medidas impostas pelo Governo do Estado se deu após dois protestos seguidos de reuniões. Segundo a categoria, o poder público não cumpriu a promessa de que, no dia 18 de agosto, divulgaria uma data para o retorno das atividades nas praias. “Participamos de reuniões no Palácio, e o secretário da Casa Civil, Eduardo Figueiredo, nos garantiu que dia 18 de agosto nos daria a data. A gente disse: ‘se dia 18 não nos derem a data, a gente vai voltar para a faixa de areia’. O Governo do Estado não tem palavra, mas a gente tem. E estamos trabalhando”, disse Everlando José, representante da Associação dos Barraqueiros de Porto de Galinhas. Segundo a organização, 95% deles voltaram ao trabalho em Ipojuca, que vai do pontal de Maracaípe até a praia de Muro Alto.

Funcionário de uma das barracas de Porto de Galinhas, Kelvin Alberto da Silva explica que a volta ao trabalho foi a forma que a categoria encontrou para protestar. "É o segundo dia que a gente resolveu voltar, porque não dá para a gente depender de auxílio emergencial, a gente depende da praia, esse é nosso ganha-pão. Essa é a forma que a gente arranjou de fazer nosso protesto, porque o governador disse que ia dar uma posição dia 25 do mês passado, dia 18 desse mês, não deu posição nenhuma. Ou a gente faz esse protesto e trabalha, ou a gente morre de fome em casa", explicou.

Havia, de fato, uma demanda reprimida pelos barraqueiros. Isto é comprovado pela ocupação quase total das cadeiras disponíveis. "O pessoal estava com vontade de praia. A gente estava cinco meses sem trabalhar, mas também tinham pessoas há cinco meses presas dentro de praia. O pessoal sente que há segurança, que a praia está segura", disse Wilker Travassos, proprietário de uma barracas em Porto. O empreendedor não diminui a seriedade da covid-19, mas revela que a situação financeira estava crítica. "Dependemos 100% da praia, temos família, nossas necessidades, e chegamos em uma situação crítica. A gente sabe que tem pandemia e que a doença existe, mas tem uma hora que temos que voltar."

O secretário-geral da Associação dos Artesãos e Vendedores Ambulantes de Artigos Diversos em Ipojuca (AVADIR), Bira Coutinho, compartilha da opinião que não há mais condições de permanecerem parados. “São 120 barracas, quase mil garçons, 780 ambulantes, não cabia mais a gente aguardar mais porque, infelizmente, o governador não se posiciona, não dá uma data. É uma situação de muita preocupação, de fome, as pessoas estão há 150 dias sem trabalhar”, disse. Ele indagou, ainda, o por que de comércios como a Feira da Sulanca, em Caruaru, no Agreste, e os Shoppings Center do Estado terem tido funcionamento liberado, enquanto os informais não foram.

É uma situação de muita preocupação, de fome, as pessoas estão há 150 dias sem trabalhar
Bira Coutinho, secretário-geral da Associação dos Artesãos e Vendedores Ambulantes de Artigos Diversos em Ipojuca (AVADIR)

Ambos os representantes expuseram que as classes vêm cumprindo cuidados sanitários, como distanciamento de um metro e meio entre as barracas, álcool em gel disponível para clientes, e uso obrigatório de máscaras para os funcionários, medida indicada para evitar a proliferação do novo coronavírus. Segundo Bira, a Prefeitura de Ipojuca realizou treinamentos em cima de um protocolo com regras e cuidados higiênicos específicos para o momento de calamidade, e que o documento foi enviado para o Governo do Estado.

A cliente Silvânia Maria Domingos, que estava na praia de Porto de Galinhas, é a favor do retorno do comércio informal nas faixas de areia. "A gente não está em um ambiente fechado, não está todo mundo junto, estamos tomando banho de mar, está tudo tranquilo. Se já abriu várias outras coisas, por que não as barracas? Desde que venham tendo controle, fiscalização e que deem uma assistência, tomando as medidas da vigilância sanitária." Ela afirmou, ainda, que observou os trabalhadores tomarem cuidados de higiene.

Em Muro Alto, o comércio também voltou. O garçom José Alexandre da Silva explica que, mesmo com medo, precisou voltar a trabalhar para pagar as contas. "Está precário, está difícil, já são cinco meses parados. Fica muito complicado porque dependemos da praia, temos aluguel, família, tudo, e o governo não deu uma data decreta ainda. Tem que tomar uma atitude ou dar um prazo, para a gente ficar ciente. Medo a gente tem, mas a gente corre o risco. A família está em primeiro lugar", revelou.

Nota da Prefeitura de Ipojuca

"A Prefeitura de Ipojuca, ao saber que barraqueiros e ambulantes, como forma de protesto ao Governo do Estado, voltaram suas atividades nas praias de Porto de Galinhas e Muro Alto, notificou as associações das duas categorias por infringirem o decreto estadual.

A Prefeitura do Ipojuca também enviou ofício ao Ministério Público, comarca de Ipojuca, solicitando que o órgão ajudasse na intermediação entre as categorias e o Governo do Estado, na tentativa de sensibilizar a gestão estadual em relação à volta do comércio na praia. A Prefeitura do Ipojuca enviou ofício ao governador Paulo Câmara pedindo a liberação do protocolo municipal desde o dia 15 de julho, mas não obteve resposta.

Nos preocupa a declaração do Governo do Estado dada ao Jornal do Commercio, publicada nesta quinta-feira (20), de que ainda estão “finalizando ajustes do protocolo específico” quando chegamos ao 6º mês de pandemia e a gestão estadual ainda não conseguiu concluir. A Prefeitura do Ipojuca entregou, desde o dia 03 de junho, ao Estado o protocolo municipal de retomada das atividades nas praias feito em parceria com a UFPE e ficaria honrada se o protocolo municipal fosse usado para ajudar o Governo a concluir o seu. A Prefeitura entende que os cuidados com a saúde da população são prioridades neste momento, mas em relação a Ipojuca, os nossos índices justificam o retorno das atividades nas praias. Ipojuca alcançou a marca de 29 dias seguidos sem óbitos por COVID-19 e possui menos de 5% de ocupação no Hospital de Campanha, por isso a expectativa é que, pelos excelentes dados de saúde, a liberação aconteça o mais rápido possível sem confrontos e sem ainda mais desgastes para as categorias."

Protesto na praia de Boa Viagem, no Recife

Barraqueiros das praias de Recife e Jaboatão dos Guararapes protestaram, nesta quinta-feira (20), pela liberação do comércio informal. Os comerciantes fecharam a Avenida de Boa Viagem na altura do quiosque 38, próximo à Pracinha de Boa Viagem, na Zona Sul da capital pernambucana. É a segunda vez em menos de uma semana que o segmento faz manifestação no local. Apesar de as praias estarem abertas para banho de mar, prática de atividades físicas e quiosques, o comércio na faixa de areia ainda não foi permitido nos municípios. Os barraqueiros liberaram a avenida no início da tarde, mas continuam em concentração até que o Governo do Estado informe uma data de reabertura.

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A expectativa é que, pelos excelentes dados de saúde, a liberação aconteça o mais rápido possível sem confrontos e sem ainda mais desgastes para as categorias

Prefeitura de Ipojuca
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É uma situação de muita preocupação, de fome, as pessoas estão há 150 dias sem trabalhar

Bira Coutinho, secretário-geral da Associação dos Artesãos e Vendedores Ambulantes de Artigos Diversos em Ipojuca (AVADIR)

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