Aglomerações e desrespeito às normas sanitárias marcaram o fim de semana de sol no principal cartão-postal do Litoral Sul pernambucano. Na manhã deste domingo (23), a água e a faixa de areia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, estavam repletas de pessoas de todas as idades. Entre as transgressões às regras, estavam grupos grandes de pessoas e a falta do uso de máscaras, mesmo após o banho de mar. A exceção aos descumprimentos foi a ausência dos barraqueiros, que seguem proibidos de atuar nas areias.
A manicure Cynthia Pacheco, 58, vive há 38 anos em Ipojuca e caminha pela praia de Porto de Galinhas diariamente. Neste domingo, ela aproveitou o dia para tomar um banho de mar. "Estou aqui me secando e já coloco a máscara, mas nem todo mundo faz o mesmo. Eu acho que as praias podem ser liberadas, contanto que as pessoas obedeçam as regras que são criadas. O mesmo vale para o comércio e as barracas", pondera.
Ela conta que na última quarta (19) e quinta-feira (20), quando os barraqueiros resolveram por conta própria retomar o trabalho, houve aglomeração e desobediência às regras. "Eles estavam trabalhando como antes da pandemia. Eu sou a favor do retorno. Minha mãe criou dez filhos trabalhando aqui nesta praia e eu sei que essas famílias dependem das barracas, mas não pode ser desse jeito. Tem que limitar o número de pessoas, disponibilizar álcool em gel, higienizar as cadeiras", pontua.
Barraqueiro há cinco anos em Porto de Galinhas, Luís José da Silva, 50, explicou que a retomada dos trabalhos se deu em tom de protesto. Devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), as atividades foram suspensas há quase seis meses e estão sem previsão oficial de retomada. "Estamos esperando para podermos voltar a atuar. A prefeitura deu um auxílio mensal de R$ 500 e parte dos trabalhadores também recebeu o auxílio do governo. Foi o que nos ajudou. Mas agora não temos mais certeza se a ajuda da prefeitura vai seguir. A gente precisa voltar a trabalhar, com todos os cuidados", afirmou.
Outros segmentos, como restaurantes, bares, lojas e passeios de buggy e jangada já retornaram às atividades. Barraqueiros e pessoas que trabalham com mergulhos, no entanto, seguem sem poder atuar. Nessa semana, após colocarem as cadeiras e guarda-sóis na areia, as associações dos ambulantes foram notificadas sobre a infração do decreto estadual, segundo a Prefeitura de Ipojuca.
Após os dois dias de protesto, os barraqueiros não montaram as estruturas na última sexta-feira (21). A categoria decidiu recuar após a decisão do Governo de Pernambuco de antecipar a retomada das atividades da 10ª para a 8ª etapa do Plano de Convivência. Apesar de não haver confirmação oficial, representantes da categoria afirmaram que existe a promessa de que a liberação do trabalho aconteça no dia 31 de agosto. A prefeitura do município informou, em nota, que foi feita uma solicitação ao Ministério Público, para auxiliar o diálogo entre o poder público e os trabalhadores. Enquanto a situação não se resolve, barraqueiros como Luís José seguem lamentando a perda do movimento. "Tem muita gente vindo para a praia, o movimento está muito bom. Em um domingo como este, eu venderia de 200 a 250 cocos", afirma.
O comércio local já comemora a retomada das atividades na praia. Hévila Rafaeli, 32, vende peças de vestuário e acessórios de praia e afirma que o movimento tem melhorado. "Está maravilhoso. Em alguns dias, dá para comparar o fluxo de pessoas aos fins de semana antes da pandemia, em baixa temporada", analisa ela, que trabalha há dois anos próximo à entrada principal das piscinas naturais.
Sobre Formada em Jornalismo pela Uninassau em 2017. Atua na editoria de Cidades desde 2016, tendo passagem pelas editorias de Política e Economia. É também colunista do JC Online e apresentadora da grade da TV JC
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