Atualizada às 20h42
Motoristas, cobradores e despachantes da Vera Cruz realizaram uma paralisação, que começou de manhã e entrou pela noite, nesta terça-feira (25), em frente à garagem da empresa, que fica no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. O grupo reivindicou o pagamento de salários atrasados dos meses de junho e de julho. Desde a madrugada, nenhum veículo saiu da garagem. A paralisação afetou cerca de 40 mil passageiros, além de quatro terminais integrados, por onde os coletivos da empresa circulam, e principalmente os bairros do Ibura, na Zona Sul do Recife, e de Prazeres. A empresa possui mais de 50 linhas de ônibus e realiza o transporte com cerca de 170 veículos.
A categoria chegou a sentar no chão para cobrar o dinheiro. Em seguida, fizeram uma negociação com policiais militares que estão no local, porém, a garagem ainda não foi liberada. O despachante Ellinson José de Lima explica que os funcionários tiveram a redução de jornada de trabalho, autorizada pela medida provisória 936/2020, mas que mesmo após voltarem a trabalhar em tempo integral, o salário não voltou a ser o de antes e eles vêm recebendo cerca de 30% do valor.
Durante a noite o grupo ainda permanecia no local, porém em menor número. A dispersão teve início às 20h.
"O pessoal já vem com atraso de salário do mês de junho e julho. Agora em agosto, saiu a sansão do Governo Federal revogando por 60 dias a medida provisória, só que o pessoal já vem trabalhando em regime integral e o salário não foi compensado", relata. Segundo ele, o motorista que ganhava um salário quinzenal de cerca de R$ 945, está recebendo R$ 239. A redução também se deu para os cobradores, que de R$ 345, passaram a receber R$ 109 e para os despachantes que saíram de R$ 608 por quinzena, para R$ 164.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Aldo Lima, conta que uma comissão formada por oito trabalhadores da empresa entraram na garagem para tentar fazer uma negociação. "Houve muito erro de pagamento. A empresa não negocia, não discute, não dá prazo para pagamento. Se não tem proposta, não tem acordo", declara Aldo.
Outro problema ocorre em relação ao plano de saúde. "O plano é descontado pela empresa, mas não é repassado, causando aos trabalhadores o constrangimento na hora do atendimento. A empresa recolhe esses valores do salário integral e quando é para repassar, não repassam", acrescenta. Os ônibus da empresa Vera Cruz circulam pelos terminais integrados do Barro, Tancredo Neves, Aeroporto e Cajueiro Seco.
Ao JC, durante a noite, o presidente do sindicato informou que a empresa se comprometeu a rever possíveis erros que possam ter sido cometidos no pagamento dos salários. "A gente discutiu alguns pontos com a empresa: pagamento de salários, o atraso no vale alimentação, o repasse referente ao plano de saúde, que também não foi feito, e outras demandas da categoria. De qualquer forma, a categoria está irredutível, mas esses foram esses os pontos discutidos", explicou.
Aldo ainda destacou que, por se tratar de uma manifestação espontânea, não há como saber se a paralisação terá prosseguimento nesta quarta-feira (26).
No dia 27 de abril deste ano, um grupo de rodoviários da Vera Cruz também realizou um protesto em frente à garagem da empresa. À época, a manifestação ocorreu devido ao não pagamento integral da quinzena, e à falta de Equipamento de Proteção Individual (EPI), como máscara, e à quantidade de horas trabalhadas. "Naquele momento o pessoal reivindicava os EPIs e, só depois daquele dia, forneceram apenas duas máscaras até hoje. O pessoal está correndo risco", completa Ellisson.
Sobre a paralisação, o Grande Recife Consórcio de Transporte afirmou que montou um esquema para atender os passageiros. "O Grande Recife informa que acionou a empresa Metropolitana para minimizar o impacto causado pela paralisação na garagem da Vera Cruz, em especial, na região do Ibura", disse o órgão em nota. A reportagem entrou em contato com a empresa Vera Cruz e aguarda retorno.