saúde

O drama do homem de 280 kg que teve atendimento negado em hospital do Recife

O Hospital Getúlio Vargas se recusou a receber Antônio depois de ele viajar de Vitória de Santo Antão para ter atendimento especializado

Maria Lígia Barros
Cadastrado por
Maria Lígia Barros
Publicado em 23/09/2020 às 13:59 | Atualizado em 24/09/2020 às 11:51
TV JORNAL
José Antônio segue internado no Hospital João Murilo - FOTO: TV JORNAL

Atualizada em 24/09/2020, às 9h08

Com elefantíase e obesidade, José Antônio de Amorim, de 51 anos, não consegue sair da cama e não vê mais a rua. O homem de 280 quilos sofre há mais de 5 anos com obesidade e elefantíase, doença que afeta a circulação sanguínea nas suas duas pernas. Além das chagas da doença, ele tem lidado com a falta sistêmica do Estado em garantir seu atendimento de saúde. Alegando não ter estrutura, o Hospital Getúlio Vargas (HGV), no Cordeiro, Zona Oeste do Recife, se recusou a receber Antônio na noite dessa terça-feira (22), depois de ele ser transferido do Hospital João Murilo, em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco, para ter uma consulta com um médico vascular. Depois de percorrer 44 quilômetros na ambulância, o paciente precisou voltar ao município de origem, onde ficou internado, sem receber atendimento especializado.

Apenas na tarde desta quarta-feira (23), José Antônio conseguiu ser recebido em um hospital da capital pernambucana. Para isso, foram necessárias nove pessoas, entre homens do Corpo de Bombeiros e maqueiros do hospital, para que o catador fosse retirado da ambulância. Ele está sendo atendido no Hospital das Clínicas (HC), na Cidade Universitária.

O inchaço e as feridas causados pela condição prejudicam a mobilidade de Antônio, que passa a maior parte do tempo deitado no quarto. Segundo sua família, ele ainda conseguia caminhar até a cozinha e ao banheiro, mas as dores pioraram doze dias atrás e o impedem de andar.

Por isso, na segunda-feira (21), o SAMU foi acionado para levá-lo a uma unidade de saúde. A equipe precisou chamar os Bombeiros para ajudar no socorro. Foram necessários mais de dez agentes para movê-lo. “Ele gritava de dor”, lembra o irmão, o mecânico Pedro Nascimento Amorim, 40.

REPRODUÇÃO
Foram necessários mais de dez bombeiros e socorristas para transportar o paciente para a ambulância - REPRODUÇÃO

“Não tinha como entrar nas ambulâncias porque são cheias de equipamento. O resgate teve que ser feito pela caminhonete dos Bombeiros”, disse.

Uma das irmãs, a garçonete Maeli do Nascimento Amorim, 33, relatou que a espera começou desde aí. “Os próprios bombeiros ligaram para o João Murilo e (o hospital) não deu resposta. A gente passou 1 hora esperando”, contou. “Os bombeiros tiveram que decidir: a gente vai e eles têm que aceitar. A gente tem que agradecer porque os (bombeiros e socorristas) tiveram a maior paciência do mundo, fizeram toda a preparação, viram uma forma de levar ele com segurança.”

Ao chegar no João Murilo, agora precisavam aguardar um novo carro adaptável para transferi-lo ao Recife. “Não queriam levar em um carro exposto, não era seguro. Tiveram que remover os bancos do SAMU para levá-lo”, falou Maeli.

A família só soube na manhã desta quarta-feira (23) que Antônio não foi admitido no HGV. “Eu me senti mal. A gente vai com esperança para ver uma melhora pra ele, e um hospital grande desse rejeita um paciente. Nossa mãe fica nervosa, vendo o filho num estado desse, ninguém resolver nada”, declarou Pedro.

A irmã compartilha o sentimento. “É constrangedor. Inaceitável estar passando por uma situação dessa. E vê-lo nessa situação nos dói muito. A gente fica de mãos atadas, sem saber o que fazer”, afirmou Maeli.

Três anos atrás, Antônio passou cerca de quinze dias internado no HGV, quando estava em uma situação menos grave. “Essa foi a primeira vez de ele ir a um hospital e dizerem que não têm espaço”, completou a garçonete.

Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, responsável pelos hospitais, respondeu que "em nenhum momento foi negado atendimento médico ao paciente citado e que o mesmo foi avaliado por um cirurgião vascular no mesmo dia em que deu entrada na unidade". "O paciente, diagnosticado com obstrução arterial crônica de membros inferiores (linfangite crônica), após o parecer e exame de seu quadro clínico, voltou para sua unidade hospitalar de origem, em Vitória de Santo Antão, já que não foi classificado como paciente de urgência e também não havia indicação cirúrgica", disse, por nota.  

A Central de Regulação do Estado realizou o encaminhamento do paciente para o Hospital das Clínicas (HC).

Família pede ajuda

José Antônio mora com a mãe em uma casa no bairro de Águas Brancas, em Vitória de Santo Antão. Ele trabalhou como ajudante de pedreiro e catador de recicláveis, mas a doença o afastou do ofício. Hoje, é beneficiário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

De acordo com a irmã, o valor ajuda a custear as medicações e o os curativos quando o material doado pelo posto de saúde acaba. “Fica tudo pouco, porque tem que estar sempre trocando para fazer a limpeza das feridas”, explicou Maeli.

A falta de estrutura dentro de casa também compromete a qualidade de vida a Antônio. A família pede ajuda para prover bem estar ao homem. Em primeiro lugar, ele precisa de uma cadeira de rodas confortável e resistente. “Ele nunca mais viu a rua. A gente tem um sofazinho velho que é a única coisa que ele conseguia sentar e ver a rua. Mas, sem conseguir andar, nem isso ele tá fazendo mais”, pontuou.

TV JORNAL
José Antônio mora com a mãe em uma casa no bairro de Águas Brancas, em Vitória de Santo Antão - TV JORNAL
TV JORNAL
A irmã Maeli do Nascimento Amorim, 33, relatou o drama da espera começou desde - TV JORNAL

“A cama dele está toda quebrada. Para aguentar o peso dele, tinha que ser feita de tijolos. Não temos um colchão adequado; como ele não conseguia se levantar, tinha que fazer necessidade no próprio colchão e não tem fralda descartável apropriada para ele. As roupas têm que ser feitas sob encomenda”, descreveu.

A residência também precisa de reformas estruturais para acomodá-lo. “A gente estava correndo atrás de iluminação para o quarto dele, que não tem. A gente quer quebrar a parede para aumentar o quarto, porque fica muito pequeno e abafado para ele”, completou.

Interessados em ajudar podem entrar em contato com Maeli pelo número (81) 98816-4800.

Comentários

Últimas notícias