Às 13h desta segunda-feira (28), motoristas e cobradores seguiram viagem com os ônibus que, durante 6 horas, estiveram estacionados em importantes vias do Centro do Recife, em protesto contra o acúmulo de funções e a favor da reintegração dos profissionais demitidos durante a pandemia da covid-19. A classe paralisou as atividades no mesmo dia em que estava prevista a votação do Projeto de Lei (PL) 05/19, que proíbe os ônibus de circularem na cidade com o motorista acumulando a função de cobrador. A Câmara dos Vereadores anunciou, entretanto, que foi apresentada uma emenda no plenário, e o projeto voltou às Comissões, tendo sua votação adiada. Não foi o primeiro, e, segundo o Sindicato dos Rodoviários, não será o último ato relacionado aos temas.
"Nossa reivindicação é a mesma: a luta contra a dupla função. Queremos acabar com esse projeto absurdo que os motoristas têm que dirigir, cobrar passagem, fazer várias outras atribuições, colocando em risco a vida dele e de toda a população", afirmou o presidente do Sindicato, Aldo Lima. "Vai ter uma outra votação e a possibilidade de outras manifestações continuam. Vamos discutir com a direção do Sindicato, com a categoria, com os trabalhadores, com a população - que tem nos apoiado bastante", completou.
Além do protesto desta segunda, aconteceram mais dois neste mês de setembro: um no dia 4 e outro no dia 21. No primeiro, funcionários da empresa de transporte Caxangá, entre cobradores e motoristas, impediram a saída de ônibus das garagens localizadas no bairro de Jardim Brasil, em Olinda. A segunda, que durou mais de quatro horas, foi na última segunda-feira, também no cruzamento entre a Rua do Sol e a Avenida Guararapes, no bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife.
Atualmente, 67% das linhas do sistema estão operando sem o cobrador e com os motoristas atuando, em quase toda sua totalidade, na dupla função, ou seja, dirigindo, recebendo dinheiro e passando troco, o que representa 2.386 motoristas, segundo apurou o blog Mobilidade, do JC.
De acordo com denúncia oficializada pelo Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco ao Ministério Público do Trabalho (MPT), três mil profissionais, maioria cobradores, foram demitidos um dia antes de o governo federal conseguir a aprovação da MP 936 (criada para garantir o emprego e a renda), no início da pandemia. Nunca foi informado oficialmente pelo setor empresarial quantos foram reintegrados. A categoria estima que menos da metade das três mil demissões denunciadas tenha sido revertida.
Os passageiros do coletivo tiveram que descer dos veículos. A crítica contra o acúmulo de funções não vem só da classe, mas também da população. “Isso vem acontecendo recentemente e os empresários nada fazem, só quem sofre é a população. Me pegou de surpresa, não só eu, como todos. Para voltar para casa, agora, vou ter que sair do Centro para o Derby, para pegar uma condução. Eu acho isso um absurdo, os empresários não estão nem aí para isso. Estão sofrendo a população e quem está trabalhando por dois empregos, no caso do motorista”, diz o porteiro José Ivo Nascimento Silva.
Já o aposentado Francisco Paulo da Silva critica a decisão dos rodoviários em paralisarem os ônibus no Centro. “Eu e muitos que vieram nos ônibus estamos revoltados com isso. Ninguém é contra que eles façam a reivindicação por causa da demissão de cobradores, mas a gente é contra o que eles estão fazendo com a gente. Estamos sendo feitos de marionetes, porque param os ônibus e a gente tem que seguir a pé. Tem que ter uma posição legal, isso tem que parar. Ou para na garagem, não sai mais ninguém, ou as autoridades fazem o que eles querem, mas o que eles estão fazendo não é justo”, afirma.
Para Diógenes Anselmo, que trabalha com logística, a a manifestação é válida, mas a forma como é feita prejudica a população. “Essa paralisação um pouco difícil para a população do Recife. A gente entende a dificuldade, mas ao mesmo tempo prejudicou muito a população hoje, em plena segunda-feira."
O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE), afirmou que o "Sindicato dos Rodoviários, sem qualquer aviso ou tentativa de diálogo prévio, promove mais uma paralisação ilegal de um serviço essencial, impedindo a circulação de ônibus na Região Metropolitana do Recife", e que "os bloqueios ocorrem com baixíssima adesão de motoristas e cobradores e evidenciam como a diretoria do Sindicato dos Rodoviários tem feito uso político dos protestos, prejudicando o direito de ir e vir da população e impondo prejuízos à economia local." Por fim, a Urbana-PE reiterou que "está empenhada na normalização do serviço e que tomará as medidas necessárias para evitar novos transtornos à população."
A Urbana-PE enviou à reportagem um vídeo gravado na Rua do Príncipe em que um suposto integrante do Sindicato dos Rodoviários ameaça um motorista - que aparentemente não queria aderir à manifestação - com um banner, gritando "todo mundo está lá", e respondeu que "repudia veementemente a postura violenta do Sindicato dos Rodoviários e seus representantes ao tentar coagir os rodoviários a aderirem à paralisação, utilizando-se de ameaças aos operadores e de depredação de patrimônio à serviço da população, conforme explícito em vídeos que estão circulando pelas redes sociais". A empresa informou que vai proceder o registro da ocorrência.
Por nota, o Consórcio Grande Recife informou não ter sido comunicado sobre o protesto, e que este "compromete a circulação dos ônibus na região central do Recife". "O Consórcio, em conjunto com a CTTU e Polícia Militar, está buscando alternativas para o desvio do itinerário das linhas que passam pela localidade com o objetivo de minimizar os impactos deste protesto para os usuários", afirmou.
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