"O Natal nos convida a assumirmos nossa verdade interior", diz dom Fernando Saburido, em mensagem de Natal. Veja

Arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando chama a atenção dos católicos para a importância do nascimento do menino Jesus

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Publicado em 24/12/2020 às 10:10 | Atualizado em 24/12/2020 às 10:14
EZEQUIEL QUIRINO/ACERVO JC IMAGEM
Dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife - FOTO: EZEQUIEL QUIRINO/ACERVO JC IMAGEM

Em um ano atípico por causa da pandemia de covid-19, a celebração do Natal, nesta quinta-feira (24), véspera do nascimento do menino Jesus, vai possibilitar mais reflexões às pessoas. Para os católicos, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, manda uma mensagem de fé e otimismo. 

"O Natal nos convida a assumirmos mais profundamente a nossa verdade interior e evitar qualquer pretensão de parecermos o que não somos. Nós somos chamados a testemunhar a presença do Verbo Divino nas pessoas. Não a testemunhar o negativo e a sempre ver o mal. Para isso, este mundo não precisa de nós", diz o sacerdote, em sua mensagem anual de Natal.

Ele também chama a atenção para as pessoas terem cuidado com as fake news.  "Como celebrar o Natal dentro do templo, se fora não tomarmos cuidado em nos manter fieis à verdade? O papa Francisco já advertiu o mundo sobre o que se chama guerra de baixa intensidade, ou guerra midiática, na qual a arma é a difusão de quaisquer notícias falsas (fake news) que possam prejudicar o adversário", destaca dom Fernando.

Dom Fernando estará na noite desta quinta-feira, às 20h, no Santuário Nossa Senhora de Fátima, no antigo Colégio Nóbrega, na Boa Vista, área central do Recife, para celebrar a tradicional Missa do Galo.

Veja, abaixo, na íntegra, a mensagem natalina do arcebispo:

"Esta palavra dos pastores que, naquela noite em Belém, receberam de Deus a boa notícia do nascimento do Salvador, continua a soar para nós, hoje, como chamado divino: Vamos a Belém! Vamos nos encontrar com as realidades do mundo atual, especialmente da nossa região pastoral que corresponde ao que, no primeiro Natal, era a pobre aldeia de Belém da Judeia. Assim como os pastores daquela noite santa, reconheçamos nas manjedouras dos pobres de hoje, o sinal da presença do Cristo. Ali, Deus nos dá o sinal de que é Natal: “encontrareis um menino recém-nascido, envolto em faixas e deitado em uma manjedoura” (Lc 2, 12).

Neste momento, a pandemia do Covid 19 já ceifou a vida de mais de 1 milhão e 600 mil pessoas no mundo. O Brasil continua se destacando, no cenário mundial, em casos de contaminação e morte, por conta da pandemia e o maior número dos atingidos é de mulheres, índios, comunidades negras e pessoas mais pobres. Em tempo de pandemia, as restrições sanitárias ainda nos pedem cuidados e restrições que nos impedem de celebrar este Natal como gostaríamos. Para muitos de nós, o ir a Belém será mais uma aproximação interior e afetiva em relação aos espaços que, hoje, representam a manjedoura na qual, hoje, Jesus nos espera.

O Natal celebra a Palavra que se faz carne. O Verbo Divino é a Palavra da Verdade e nela está a Vida, diz o prólogo do quarto evangelho que lemos na missa do dia do Natal. Ora, em nossos dias, a palavra é usada e instrumentalizada de acordo com os interesses de quem a usa. Infelizmente vivemos tempos nos quais, como o apóstolo Paulo afirmava: “Por sua injustiça, reprimem a verdade… Trocaram a verdade de Deus pela falsidade” (Rm 1, 18 e 25). Como celebrar o Natal dentro do templo, se fora não tomarmos cuidado em nos manter fieis à verdade? O papa Francisco já advertiu o mundo sobre o que se chama guerra de baixa intensidade, ou guerra midiática, na qual a arma é a difusão de quaisquer notícias falsas (fake news) que possam prejudicar o adversário.

A palavra do Natal é reconhecer a presença divina no mundo, mesmo neste mundo ferido e doente. É este mundo que como cantamos no Sanctus da Missa: “o céu e a terra estão cheios da vossa glória”, ou seja: cheios dos sinais de sua presença. O primeiro sinal é a criação, ainda tão descuidada e agredida. O outro é a Palavra da Vida. Precisamos restituir a dignidade da Palavra no mundo. Temos de prestar uma atenção maior às posições que tomamos diante do mundo social e político. Temos de rever como assimilamos as notícias que recebemos e como testemunhamos nossa fé na encarnação de Jesus ao ligar a fé com a transformação social do mundo, como sinal da vinda de Jesus e do seu reino. O Natal nos convida a assumirmos mais profundamente a nossa verdade interior e evitar qualquer pretensão de parecermos o que não somos. Nós somos chamados a testemunhar a presença do Verbo Divino nas pessoas. Não a testemunhar o negativo e a sempre ver o mal. Para isso, este mundo não precisa de nós.

Na homilia da missa celebrada na capela da casa Santa Marta no último 01 de dezembro, o papa Francisco recomenda tomar cuidado com os hipócritas, cujo coração não está aberto à graça: “Eles não se importam com as pessoas. Para eles, só importam a Lei, as prescrições e os costumes. São ‘doutores das aparências’: sempre perfeitos, mas dentro, o que há? Só se preocupam com a aparência”. (…) “Tenham cuidado com os rígidos. Tenham cuidado com os cristãos – sejam eles leigos, padres, bispos – que se apresentam como ‘perfeitos’, rígidos. Tenham cuidado. Ali, não há o Espírito de Deus. Falta o espírito da liberdade. E tenhamos cuidado com nós mesmos, porque isso deve nos levar a pensar em nossa vida. Será que eu procuro olhar somente para as aparências e não mudo o coração? Não abro o meu coração à liberdade da oração, à liberdade da esmola, à liberdade das obras de misericórdia?”. Para nós, neste ano, o primeiro anúncio do Natal foi a encíclica Fratelli Tutti, na qual o papa Francisco nos exorta a nos unirmos na construção da fraternidade universal. Que cada um de nós se reveja para superar qualquer tentação de sectarismo ou de fazer da Igreja uma seita de puros que se sentem melhores do que os outros homens.

Que, neste Natal, o Cristo, sol nascente, possa vir com sua luz iluminar as noites de nossa vida e nos unir no caminho dos pastores às manjedouras de hoje, nos quais os pequeninos de Deus esperam nossa visita de solidariedade e presença amorosa.

De todo coração desejo a todos e todas um feliz Natal."


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