DESCASO

Pontos turísticos do Grande Recife estão deteriorados para receber turistas

Capital pernambucana está entre os principais destinos turísticos do País neste fim de ano

Amanda Rainheri
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Amanda Rainheri
Publicado em 29/12/2020 às 7:00
YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
TURISMO - Problemas dos pontos turisticos de Olinda e Recife. - FOTO: YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Com mais de cem anos de construção e localizado no coração do Recife, o casarão da Associação Cultural de Pernambuco, no Marco Zero, virou oficialmente ponto turístico da capital neste mês de dezembro. Mas não é possível saber nada sobre a história do icônico palácio, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico (Iphan), sem entrar para uma visita. Isso porque a placa que deveria identificar o casarão foi levada. O mesmo acontece na Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira das Américas, na Rua do Bom Jesus. O templo judaico está, inclusive, entre os pontos que carimbam o Passaporte Pernambuco, iniciativa do governo para estimular o turismo local. Assim como esses, outros cartões postais do Grande Recife, que devem receber turistas na alta temporada, agonizam no esquecimento.

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No Recife Antigo a lista de demandas é grande. Na Praça do Arsenal, a placa que sinaliza as Ruas do Observatório e do Bom Jesus, a última eleita recentemente a terceira mais bonita do mundo, está quebrada. A Torre Malakoff, outro ponto indicado para carimbar o Passaporte Pernambuco, está pichada, com buracos na fachada, portões enferrujados e lixo espalhado. Em nota, o Governo de Pernambuco informou que a Torre está fechada até o dia 8 de janeiro para reparos na parte elétrica e que intervenções como pintura de paredes internas, substituição de grades e de lâmpadas foram realizadas ao longo de 2020.

Quem for visitar o museu Cais do Sertão, também deverá se decepcionar com o entorno. O gradil do guarda-corpo que dá para as águas nas imediações do museu está quebrado, retorcido e enferrujado, apresentando perigo, principalmente para crianças. O Espaço R.U.A, inaugurado há apenas dois anos como uma espécie de galeria urbana a céu aberto, também está na lista de patrimônios depredados, com bancos e bicicletários quebrados. Segundo a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Recife, que responde pelo local, já existe um projeto de requalificação para a área, que será finalizado em até dois meses.

Nem mesmo o Marco Zero, um dos principais cartões-postais do Recife, escapa do descaso. A placa que apresenta o local aos turistas está pendurada. Uma das laterais precisou ser amarrada, no improviso, com um arame para ficar em pé. Os bancos de granito estão quebrados, assim como a estátua do Barão do Rio Branco e os bueiros localizados próximo ao local onde os barqueiros realizam a travessia até o Parque das Esculturas. O próprio parque, que abriga peças de Francisco Brennand é um festival de abandono à parte. Há menos de um mês o equipamento teve obras roubadas. Mas os problemas vão além. Buracos no piso, fiação exposta, mau cheiro, estruturas enferrujadas e obras sem manutenção fazem parte das mazelas do parque, que também está sem iluminação há anos. Após a repercussão dos últimos casos de vandalismo, a prefeitura anunciou recursos da casa dos R$ 5 milhões para reparos, que devem ficar para a próxima gestão.

YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
Lixeiras quebradas no Alto da Sé, em Olinda - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Placa deteriorada na Matriz do Alto da Sé - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Em Olinda, placa do Fortim do Queijo foi vandalizada - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Em Olinda, placa do Fortim do Queijo foi vandalizada - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Primeiro e Terceiro Jardim de Boa Viagem foram alvos de vândalos - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Primeiro e Terceiro Jardins de Boa Viagem foram alvos de vândalos - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Primeiro e Terceiro Jardins de Boa Viagem foram alvos de vândalos - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Quiosques deteriorados na Orla de Boa Viagem - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Quiosques deteriorados na Orla de Boa Viagem - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Pracinha de Boa Viagem acumula problemas - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Pracinha de Boa Viagem acumula problemas - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Pracinha de Boa Viagem acumula problemas - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Pracinha de Boa Viagem acumula problemas - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Placas em mau estado de conservação - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Bancos quebrados no Marco Zero - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Bancos quebrados no Marco Zero - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Estátua de Rio Branco está quebrada - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Placas em mau estado de conservação no Marco Zero - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Placas em mau estado de conservação - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Placas em mau estado de conservação - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Sinagoga está sem placa na Rua do Bom Jesus - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Deterioração no Recife Antigo - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Espaço R.U.A deteriorado - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Espaço R.U.A deteriorado - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Faltam placas no Recife Antigo - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Gradil quebrado próximo ao Museu Cais do Sertão - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Torre Malakoff está entre pontos que carimbam o Passaporte Pernambuco - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Pichações Torre Malakoff - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
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Grades enferrujadas da Torre Malakoff - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM

Vinda de São Paulo, a agrônoma Melissa Sousa, de 28 anos, observou a falta de sinalização ao passear pelo Recife Antigo. “Tive que pesquisar tudo pela internet. Se dependesse das placas, eu não conseguiria achar nada.” O barqueiro Felipe Alves, de 31 anos, trabalha há 15 anos no Marco Zero e conta que reclamações de turistas são frequentes. “Está tudo precário. São roubos, peças quebradas, pichações. Está muito feio”, lamenta.

Em nota, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) informou que as ações realizadas pelo órgão no Bairro do Recife, como coleta de lixo e manutenção de vias e praças, são “constantes”. A pasta informou que já investiu mais de R$ 1,2 milhão em melhoria de iluminação pública e que um levantamento de danos aos equipamentos já foi feito no Marco Zero. Os bancos quebrados devem começar a ser recuperados ainda neste mês. Sobre as tampas de bueiros e a estátua do Barão de Rio Branco, a autarquia informou que enviará uma equipe ao local para programar os reparos.

Já sobre a sinalização turística, a Prefeitura informou que a capital tem 510 placas desse tipo e que em 2020 37 delas foram recuperadas e 34 estão em processo de recuperação. Especificamente no Recife Antigo são 31 placas de monumentos, cinco placas de localização, além de cinco mapas gerais. Destas, 10 já constam no levantamento de danificadas e/ou furtadas. Entre as placas que serão trocadas estão a da Sinagoga Kahal Zur Israel e a da Rua do Bom Jesus.

As mazelas se estendem a outros pontos da capital, como Boa Viagem, bairro onde a maioria dos turistas se hospedam. Na orla, a requalificação que está em execução pela prefeitura contrasta com a situação dos quiosques deteriorados e com os jardins, que seguem abandonados, com bancos quebrados, lixo acumulado e estruturas vandalizadas. Em nota, a prefeitura afirmou que a orla é alvo de atenção “constante” e de “investimentos em melhorias.” Atualmente, os 8 quilômetros estão recebendo manutenção do calçadão, trechos da ciclovia, caixas de drenagem e trocas de meio fio e dos bancos de concreto. Além dessas, outras intervenções, como requalificação dos cinco parques infantis, dos campos e das quadras esportivas e banheiros também foram realizadas, segundo a gestão. Com relação ao Primeiro e Terceiro Jardins, que estão deteriorados, a prefeitura informou que as manutenções são feitas de acordo com as demandas. Sobre os quiosques, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife (Semoc) informou que o processo para a requalificação está em andamento. “A pasta tem cobrado da empresa responsável pelas melhorias, contratada pela Associação dos Barraqueiros de Coco do Recife (ABCR), o início das atividades”, diz o comunicado.

A Pracinha de Boa Viagem, que está entre os pontos de visitação sugeridos pelo governo para dar “check” no Passaporte está em situação crítica. Foi tomada por pessoas em situação de rua e está repleta de lixo. A placa #Xodó, colocada pela prefeitura como atração para fotos, virou varal para roupas. “O cheiro não é agradável e a gente se sente inseguro”, comenta a esteticista Talita Alexandre, 27, que veio de Rondônia. Ana Ferreira, 72, que tem uma barraquinha no local, diz que o abandono não é novidade. “O cuidado é zero. Isso afasta os turistas, que sentem medo.” Em nota, a prefeitura afirmou que o equipamento foi requalificado em 2019 e que equipes da Secretaria de Assistência Social atuam diariamente nos espaços públicos próximos à Orla de Boa Viagem para acompanhar a população em situação de rua e oferecer acolhimento em abrigo ou atendimento no Centro de Atendimento Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP). “É importante ressaltar que a Prefeitura do Recife não realiza retirada compulsória das pessoas em vulnerabilidade que utilizam os espaços públicos da cidade como local de permanência”, diz um trecho do comunicado.

Olinda

A desatenção do poder público aos pontos turísticos se estende ao Grande Recife. Em Olinda, o Fortim de São Francisco, conhecido como Fortim do Queijo, está pichado, sem placa de identificação, repleto de lixo e com um dos canhões enferrujados. “É uma pena o que não está cuidado. Fui pegar informações na placa, mas não consegui ler”, lamentou o técnico em mecânica Jeferson Rondenelli, 44 anos, que estava em Pernambuco pela primeira vez, vindo de São Paulo. No Alto da Sé, principal cartão-postal da cidade, a Catedral também está com placa deteriorada e é possível ver lixo espalhado. “É o nosso maior problema, junto com a energia, que é instável”, conta a comerciante Alexandra Pereira, 43. A reportagem procurou a prefeitura para esclarecimentos, mas não obteve resposta.

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