COVID-19

Conselho presta apoio público à arquiteta vacinada no Recife e é criticado nas redes sociais

CAU/PE defendeu que a arquiteta atua diretamente na unidade hospitalar e que, por isso, está sujeita à contaminação assim como profissionais de saúde. O MPPE investiga o caso

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Katarina Moraes

Publicado em 21/01/2021 às 7:57 | Atualizado em 21/01/2021 às 9:14
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O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE) foi a público nessa quarta-feira (20) para "externar seu integral apoio" à arquiteta vacinada contra o coronavírus na última terça-feira (19) no Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. O posicionamento, no entanto, foi amplamente criticado pelos internautas — entre eles, muitos arquitetos. O caso está sob investigação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

Ao repudiar o tratamento que a profissional recebeu diante da divulgação do caso, o CAU defende que ela atua diretamente em uma unidade hospitalar e que, por isso, está sujeita à contaminação "em escala compatível com todos os profissionais de saúde que trabalham nos espaços hospitalares destinados aos pacientes com Covid".

A nota segue explicando que a arquitetura e o urbanismo é uma área ampla que possibilita a ocupação de diversos cargos e funções em diferentes setores, inclusive em unidades de saúde. "Desta forma, o CAU/PE se solidariza com a arquiteta e urbanista que, assim como outros profissionais que integram o sistema de saúde e, observando as normas de saúde e segurança no trabalho, devem tomar todos os cuidados preventivos para assegurar o bem estar coletivo", completa.

A publicação não agradou internautas. Entre os 103 comentários, até a manhã desta quinta (21), a expressiva maioria são críticas contra o posicionamento do CAU/PE. "Que vergonha esse posicionamento do conselho. A referida arquiteta pode trabalhar em hospital mas ela não é trabalhadora da saúde e muito menos grupo prioritário. Como arquiteta, NÃO concordo e não compactuo com essa atitude, nem da colega e muito menos do CAU", disse uma seguidora.

"O jeitinho brasileiro de furar fila, vergonhoso, e não justifica diante de tantos profissionais de saúde que estão diariamente na linha de frente com os pacientes, visto também que não temos no momento doses suficientes para atender todos da primeira fase", pontuou outra.

"Como arquiteta entendo perfeitamente que não estamos habilitadas a lidar com respiradores ( explicação dada pelo secretário de saúde)! O CAU perdeu a chance de ficar calado! O hospital não está em obra, nem em construção e o pessoal de manutenção não está entre os prioritários pois frequentam esses ambientes eventualmente", afirmou uma arquita.

Do total de comentários, quatro foram positivos. "Nossa colega arquiteta que foi vacinada atua com acesso irrestrito às UTIs e enfermarias, contraiu o coronavírus duas vezes (isso mesmo! É um dos casos de reinfecção!). Ela, juntamente com toda a equipe do antigo hospital Alpha estão sendo vacinados, porteiros, médicos, recepcionistas, enfermeiros, copeiros, maqueiros, todos que atuam no hospital de referência no combate e tratamento a covid-19!", disse um dos apoiadores.

Entenda o caso

Desde terça-feira (19), vídeos da vacinação da arquiteta no Hospital de Referência Unidade Boa Viagem Covid-19, localizado no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul, circulam em grupo de WhatsApp. A própria publicou, nas redes sociais, fotos com o cartão de vacina, mas acabou apagando a imagem após críticas. 

A vacinação em Pernambuco começou na segunda (18), com a chegada de 270 mil doses do Instituto Butantan. Cada pessoa precisa receber duas doses para estar imunizada contra o coronavírus. Assim, apenas 135 mil pessoas podem ser vacinadas neste primeiro momento. Como o número não contempla o total da primeira etapa de vacinação — instituída pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) —, foram criadas subdivisões.

A capital pernambucana recebeu 66.200 doses, que devem ser distribuídas para trabalhadores da saúde que atuam na linha de frente contra a covid-19, pessoas acima de 60 anos que vivem em asilos, funcionários destas instituições e pessoas acima de 18 anos com deficiência e que vivem em residências exclusivas.

Após repercussão do caso, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) instaurou procedimento para investigar se houve violação dos critérios de vacinação estabelecidos pelo Plano Nacional Imunização no hospital onde a arquiteta trabalha. A unidade conta atualmente, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), com 1.309 funcionários, sendo 1.225 atuantes na assistência direta nas enfermarias e UTIs.

A coluna Ronda JC revelou que a promotora Helena Capela, da 34ª Promotoria de Defesa da Saúde da Capital, solicitou que a Secretaria Estadual de Saúde e a direção da unidade de saúde se pronunciem em 48 horas esclarecendo se a profissional cumpria os critérios de vacinação estabelecidos nacionalmente e nas normas estaduais de vacinação.

Na quarta (20), o secretário estadual de Saúde, André Longo, foi questionado sobre a falta de transparência nos critérios. Segundo Longo, o conceito que se trabalha nas campanhas de vacinação é de trabalhador de saúde, não de profissional de saúde. "As profissões regulamentadas, como médico, enfermeiro, são fundamentais. Mas um ambiente hospitalar, 100% dedicado à covid-19, possui outros trabalhador essenciais, a equipe de manutenção, a recepção, limpeza, todas estão no ambiente", argumentou.

Outros flagras

Um caso semelhante aconteceu na cidade de Jupi, no Agreste de Pernambuco. Circula na internet um vídeo que mostra um fotógrafo, que não integra o grupo prioritário de imunização, sendo vacinado contra o novo coronavírus. A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que irá investigar o caso, junto à Secretaria de Defesa Social e Ministério Público, para que os responsáveis sejam punidos.

Em São José do Egito, no Sertão de Pernambuco, o secretário de Saúde Paulo Jucá causou polêmica nas redes sociais após também ter recebido a vacina. O MPPE conversou com representantes da prefeitura e afirmou que foram alinhados alguns encaminhamentos, entre eles o de que a Secretaria de Saúde irá seguir o plano nacional de imunização e irá garantir a vacina aos grupos prioritários na ordem estabelecida.

 

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