Ato ecumênico marca o lançamento da Campanha da Fraternidade 2021 na Arquidiocese de Olinda e Recife
O encontro aconteceu na sede Regional Nordeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no Centro do Recife
Representantes de igrejas que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) participaram na tarde desta quarta-feira (17) de um ato ecumênico que marca a abertura da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, que tem como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e como lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”.
- Campanha da Fraternidade 2021 é atacada por grupos católicos conservadores; entenda a polêmica
- Campanha da Fraternidade 2021 tem como tema "Fraternidade e diálogo"
O encontro que aconteceu na sede Regional Nordeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB NE2), localizada no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife foi transmitido pelo canal da Arquidiocese de Olinda e Recife no YouTube. Por causa da pandemia da covid-19, apenas convidados puderam estar presentes no local.
Este ano, o arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Antônio Fernando Saburido, que é o bispo referencial para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso na CNBB NE2, não participou do evento. Diagnosticado com covid-19 na última segunda-feira (15), o arcebispo está se recuperando da doença enquanto cumpre a quarentena em casa, onde é monitorado. O bispo auxiliar dom Limacêdo Antonio, também não participou do evento. Ele aguarda o resultado do teste de covid-19. "Por prevenção e para segurança de todos, o auxiliar foi aconselhado a se afastar de suas atividades até que se tenha o resultado do exame", afirmou a Arquidiocese por meio de nota.
Durante o encontro, estiveram presentes o Padre Fábio Santos, da Igreja Católica Apostólica Romana, Kinno Cerqueira e Pastor Reginaldo, da Aliança de Batistas do Brasil, o Reverendo Rafael Vilaça, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Artur Campos Ferreira, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e Padre Aldo, da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, além de representantes da Igreja Presbiteriana Unida. Este ano, a Campanha da Fraternidade Ecumênica busca motivar os cristãos a vencer os muros que os separam e a construir redes que possam uni-los como comunidades.
Coordenador da Comissão Arquidiocesana de Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso, o padre Fábio destaca que o ecumenismo é uma atitude católica de acolhimento e fraternidade. “É uma decisão da Igreja católica a partir do Concílio Vaticano II, apoiada e incentivada ao longo dos anos pelos papas Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e Francisco. É católico ser ecumênico”, disse o padre. Ele completa afirmando a importância da união. “Porque nós, que somos discípulos de Jesus, não recebemos o mandamento de ‘odiai-vos uns aos outros’, mas ‘amai-vos uns aos outros’. Que a gente então fique repleto desse amor, porque diz São Paulo: o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.
As igrejas que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil têm em comum a promoção do diálogo em relações mais amorosas. Elas também buscam se comprometer com a defesa da casa comum, da preservação do meio ambiente e contribuir para a superação das desigualdades, da fome, da pobreza e da miséria. Para elas, a promoção da conversão para a cultura do amor é uma forma de superar a cultura do ódio, fortalecendo a convivência ecumênica e inter-religiosa.
“Reunidos na mesma fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo, somos de igrejas diferentes mas somos todos cristãos e isso faz de nós irmãos que devem-se respeito, presença e diálogo”, afirmou o padre Fábio.
Campanha da Fraternidade 2021
Antes mesmo do lançamento oficial, a Campanha da Fraternidade deste ano já virou alvo de polêmica entre alguns grupos católicos conservadores. O boicote tem como motivação o questionamento do posicionamento de defesa de grupos minoritários, como o LGBTQI+. Este ano, a campanha tem como objetivo convidar as comunidades de fé cristã em tempos de intolerância a radicalismo.
Com um tema diferente a cada ano, a Campanha da Fraternidade busca fazer com que os católicos reflitam sobre diferentes temáticas que afetam a sociedade. A cada cinco anos, a campanha se torna de cunho ecumênico e envolve outras igrejas cristãs, como acontece neste ano. Em 2021, a proposta é incentivar o dialogar sobre polarizações e violências vividas por minorias.
Por ser ecumênica, a campanha deste ano teve seu texto-base elaborado pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) e não pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), como costuma acontecer em outros anos. É esse o documento que vem recebendo críticas nas redes sociais. Nele, a importância do diálogo frente às polarizações é defendida. O texto também destaca que "outro grupo social que sofre as consequências da política estruturada e da criação de inimigos é a população LGBTQI+", o que gerou revolta entre os católicos conservadores. Com o objetivo de boicotar a campanha deste ano, conservadores e fundamentalistas estão pedindo que fieis não doem dinheiro para as igrejas.
Para o Instituto Santo Atanásio, por exemplo, a campanha deste ano "parece ter sido planejada nos laboratórios do inferno". Ao se manifestar sobre a polêmica, o Instituto completou afirmando que a "Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está de mãos dadas com toda a agenda revolucionária globalista e os projetos da extrema-esquerda que anseiam por instaurar no Brasil um regime liberal-socialista, partidário de um “progressismo” totalitário e da demoníaca cultura da morte".
O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, considera que a mobilização “está movida por um monte de preconceitos, é antiecumênica, está movida por paixão antiecumênica, por outro lado, movida por acusações infundadas contra a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Acusa de ideologia de um lado, mas comete o mesmo erro, de posição ideológica oposta, dura, fechada. Tudo o que não precisa numa Campanha da Fraternidade Ecumênica, quando o objetivo é realmente aproximar as Igrejas, é promover uma iniciativa boa, juntos, nos aproximar mais”.
Por meio de nota, a CNBB ressaltou que o Conic foi responsável pela elaboração do texto em seu formato ecumênico. “Não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado apenas pela comissão da CNBB”, aponta o comunicado. No documento, a presidência da CNBB reafirma que a Igreja Católica tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a ela. “A doutrina católica sobre as questões de gênero afirma que ‘gênero é a dimensão transcendente da sexualidade humana, compatível com todos os níveis da pessoa humana, entre os quais o corpo, a mente, o espírito, a alma. O gênero é, portanto, maleável sujeito a influências internas e externas à pessoa humana, mas deve obedecer a ordem natural já predisposta pelo corpo”.