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Após morte de ex-pastor acusado de estupro, mulheres realizam ato na Zona Norte do Recife nesta segunda

Ato aconteceu em frente à instituição religiosa que o homem pastoreava. Caso ganhou grande repercussão em Pernambuco em fevereiro de 2020

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Bruna Oliveira

Publicado em 08/03/2021 às 10:39 | Atualizado em 08/03/2021 às 13:06
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Morreu nesse domingo (7) o ex-pastor de uma igreja evangélica da Zona Norte do Recife acusado de cometer estupro e atos libidinosos contra fiéis. O caso ganhou grande repercussão em Pernambuco em fevereiro do ano passado. Em protesto contra a impunidade, as vítimas realizaram nessa segunda (8), Dia Internacional da Mulher, um ato em frente à instituição religiosa onde tudo aconteceu.

"Nós estamos fazendo esse ato porque várias pessoas da igreja, que nos demonstraram apoio na época, ontem se juntaram para realizar um cortejo até o cemitério de Santo Amaro, onde o corpo dele foi enterrado. Ele não foi um herói e não é agora que vai ser", desabafou uma das vítimas, que não terá identidade revelada. Segundo a mulher, o ex-pastor morreu em decorrência de complicações causadas pela covid-19.

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Além disso, as vítimas lamentaram que o homem tenha morrido sem pagar na Justiça pelos crimes que cometeu. "Não ficamos felizes com isso, nosso desejo era ele vivo para vermos ele sentado no banco de réus. Apesar da morte dele, nossa luta irá continuar. Vamos continuar lutando por nós e por aquelas que sofrem abuso dentro de instituições religiosas e permanecem caladas", disse.

Como homem morreu, ele ficou extinto de qualquer punibilidade, de acordo com o Artigo 107, inciso I, do Código Penal Brasileiro. Por meio do Instagram, o coletivo Vozes Marias publicou uma nota de repúdio, nesse domingo, sobre a morte do homem, que não chegou a pagar pelos supostos crimes cometidos.

"Hoje, porém, é com muita tristeza que recebemos a notícia do falecimento do então réu da justiça de Pernambuco. Tristeza por entendermos que ele merecia ser condenado e preso, tristeza em saber que mesmo diante de tantos abusos, estupros e diversas violações, a igreja e suas diversas lideranças escolheram, mesmo que, por omissão, o lado de um criminoso. Tristeza em perceber que, muitos estão publicando homenagens de honra e santidade, a um homem que em nome de "deus" violava dentro do gabinete pastoral, os corpos e as vidas de diversas mulheres", diz trecho do texto.


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Relembre o caso

De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco, em janeiro de 2020 começaram a chegar denúncias de mulheres contra um ex-pastor acusado de cometer estupro e atos libidinosos em uma igreja evangélica da Zona Norte do Recife.

Na época, a Polícia informou que homem usava a condição de pastor e psicólogo para praticar atos libidinosos durante o atendimento pastoral. "Ele se prevalecia da sua função para tentar praticar atos libidinosos contra essas mulheres dizendo que eram técnicas de cura, libertação espiritual e psicológica e, com algumas dessas mulheres ele conseguiu consumar atos libidinosos e com uma delas a gente conseguiu materializar que ele praticou efetivamente o estupro", contou a delegada Bruna Falcão, responsável pela Delegacia da Mulher, que recebeu as denúncias.

O ex-pastor foi intimado para prestar depoimento no dia 13 de fevereiro, mas apresentou atestado médico alegando estar afastado das suas funções habituais por problemas psiquiátricos durante 60 dias e pediu adiamento do interrogatório. Foi marcado um novo depoimento para a semana seguinte, mas foi apresentado um novo atestado psiquiátrico e os inquéritos foram concluídos e remetidos à Justiça. "Esse segundo adiamento a gente não deferiu e resolveu não aguardar. Nós sabemos que problemas psiquiátricos a gente não tem condições de estimar a recuperação", explicou a delegada na época. "Os procedimentos foram concluídos sem o interrogatório do investigado e remetidos para apreciação do Poder Judiciário", completou.

Apesar das denúncias contra o homem, a delegada explicou que não foi feito o pedido de prisão preventiva porque ele "em nenhum momento se furtou à intimação, se colocou à disposição para ser inquirido, embora contrariamente à recomendação médica". "Mas, havendo motivos justificados para que a gente peça a prisão e ele responda de maneira encarcerada aos procedimentos, isso será feito. A gente não vislumbrou a possibilidade no momento, mas isso pode mudar no futuro", disse na ocasião.

 

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