CRIME

Pérola, mulher transexual, é assassinada na Zona Oeste do Recife um mês após sofrer ataque transfóbico

O caso está em investigação pela Polícia Civil de Pernambuco, e acontece semanas após uma outra travesti ter sido queimada na capital pernambucana

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Katarina Moraes

Publicado em 05/07/2021 às 17:17 | Atualizado em 06/07/2021 às 14:02
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A cabeleireira transexual Crismilly Pérola Bombom, de 37 anos, mais conhecida como 'Piu Piu' na região onde mora, foi encontrada morta por volta das 9h desta segunda-feira (5) na altura da Rua das Orquídeas, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. O caso, enquadrado como homicídio, já está em investigação pela Polícia Civil de Pernambuco, e acontece semanas após uma outra trans ter sido queimada na capital pernambucana.

A família não sabe detalhes sobre o assassinato de Pérola, apenas que ela saiu para uma festa às 21h desse domingo (4) e não voltou mais para casa. "A gente acha que foi homofobia, porque Pérola era muito querida, mas tinham muitas pessoas que a criticavam", disse a prima da vítima, Izabelli Soares, também cabeleireira, de 30 anos.

"A gente está arrasado. A gente avisava para ela ter cuidado por onde andava porque a gente não sabe do coração de ninguém. Ontem ela passou o dia com a gente aqui. Estava fazendo faxina na casa dela, que é no quintal da família, e a mãe dela estava aqui. Às 21h, ela disse que iria para uma festa na casa da amiga", contou Izabelli.

Um mês antes, ela sofreu um ataque transfóbico que a levou a ser internada e a passar por cirurgia na mão, segundo a prima. "Ela disse que um rapaz pediu para ele pagar cerveja e cigarro, mas ela disse que não iria pagar nada para ninguém, porque não tinha obrigação de pagar - o que desenvolveu uma briga. Ela ficou no hospital, ficou bem debilitada, com o braço todo enfaixado, passou por uma cirurgia na mão", disse. 

Pérola foi encontrada em via pública, já sem vida, com uma marca de tiro. O caso está sob o comando do Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP).

Segundo a prima, a cabeleireira era querida entre a família e na comunidade onde morava. "Para você ter uma ideia, os irmãos dela estão vindo da Bahia [para o enterro]. Ela sempre foi querida, tanto na família, como na comunidade. A gente não entende o porquê [do crime], não tem um motivo, ela não era uma pessoa má, não vivia com coisa errada", relatou.

O enterro de 'Piu Piu' deve acontecer na tarde desta terça-feira (6) no Cemitério da Várzea, com horário a confirmar.

Comoção

Nas redes sociais, a saudade da cabeleireira é registrada. Na conta de Instagram @cantinhodavarzeaa, uma homenagem foi publicada para Pérola nesta manhã. "O bairro da Várzea amanheceu triste, perdemos nossa travesti Piu Piu, Crismilly Pérola como gostava de ser chamada, foi encontrada sem vida, na comunidade do Beira Rio, próximo à ponte da Caxangá, nossa solidariedade a família, estamos muito triste pêsames [sic]".

A assessora parlamentar e também transexual Ana Flor publicou na internet um apelo às autoridades sobre a violência contra pessoas LGBTQIA+. "Prefeito, tem sido tão cansativo cobrar e lamentar. Tenha certeza: não é o que eu gostaria. É preciso compreender que esse é um problema estrutural da nossa cidade, João. Recife está deixando as travestis e pessoas trans morrerem. Governador, como pode Pernambuco ser o estado com o maior número de mecanismos LGBTs e tudo isso acontecer? Nós precisamos URGENTEMENTE conter essa violência. Através de campanhas? Processos de sensibilização? Investimento em políticas LGBTs? Parcerias com ONGs? Fortalecimento dos mecanismos LGBTs? Destinar recursos?", questionou.

Trans queimada no Centro do Recife

Em pleno Centro do Recife, no Cais de Santa Rita, Roberta Nascimento Silva, uma transexual de 33 anos, viu 40% do próprio corpo pegar fogo em uma tentativa de homicídio supostamente praticada por um adolescente apreendido nessa quinta-feira (24). O caso, que ainda não teve a motivação divulgada, rendeu à mulher, que vive em situação de rua, a amputação dos dois braços. A vítima, internada no Hospital da Restauração (HR), foi novamente levada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em estado grave nesta segunda-feira (5).

Como denunciar LGBTfobia

A sociedade em geral e a população LGBTI podem denunciar qualquer ato violador dos seus Direitos pelo CECH, através dos números (81) 3182-7665/ 3182-7607, do e-mail [email protected], ou presencialmente na sede do órgão localizado na Rua Santo Elias, 535, bairro do Espinheiro. O governo do estado garante sigilo das informações. Já a Prefeitura do Recife disponibiliza plataforma online de denúncias contra LGBTfobia através do link https://bit.ly/DenunciaLGBTRecife. Vítimas também podem procurar o Centro de Referência em Cidadania LGBT do Recife. O equipamento fica na Rua dos Médicis, nº 86, Boa Vista, e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. 

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