Homem é baleado em ocupação do MST na Zona Sul do Recife

Matéria atualizada em 21 de julho, às 17h13

Integrantes do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) denunciam que quatro homens armados invadiram o acampamento Nelson Mandela, uma ocupação urbana  localizada às margens da BR-101 no bairro do Jordão, Zona Sul do Recife, na noite do último domingo (18). De acordo com informações repassadas pelo movimento, os homens - que estavam encapuzados -, agrediram e mantiveram um militante refém. Durante a ação eles também balearam outro rapaz na cabeça. A vítima, que preferiu não ser identificada, foi socorrida e enviada a uma Unidade de Pronto Atendimento, sendo posteriormente encaminhada ao Hospital da Restauração (HR). Ele não corre risco de morte.

José Severino da Silva, dirigente do MST na Região Metropolitana do Recife, que estava presente no local, acredita que a ação faça parte das investidas contra o acampamento. De acordo com ele, os ataques começaram há duas semanas, quando o movimento começou o diálogo com a Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab), do Governo do Estado, e MST-PE. “Chutaram meu rosto e deram um tiro que pegou na cabeça de um companheiro, que perdeu muito sangue e está internado. Em menos de um minuto chegou uma viatura da polícia, mas disseram que não iam fazer nada, que ali era cada um por si. Essa é a segunda vez. Na semana passada me perseguiram de carro”, afirmou o militante.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar de Pernambuco para questionar a respeito da negativa no atendimento às vítimas, conforme relatado pelo integrante do MST. Em nota, a corporação afirmou que esteve no local do crime e depois foi até a UPA onde a vítima estava, acompanhando sua transferência para o HR.

"Uma viatura do 19º BPM, que esteve no local do crime, se deslocou até a UPA e acompanhou a transferência para garantir a integridade do paciente, que no momento do translado estava lúcido e conversou com os policiais, contando que foi à invasão a convite de um outro popular, com a promessa de ganhar um dos apartamentos do movimento", diz a nota. 

Além disso, segundo a PM, "pelas primeiras informações obtidas, não há ligação do crime com conflito agrário ou habitacional". O comunicado informa que, de acordo com o que teria sido apurado no local, os homens responsáveis pelos tiros procuravam uma boca de fumo.

"Pelo que foi apurado no local, três ou quatro homens chegaram a uma invasão ao lado da Escola Técnica do bairro se dizendo policiais e ao encontrar a vítima, no apartamento onde estava, perguntaram onde era a boca de fumo. Como não obtiveram resposta, efetuaram disparos, atingindo a cabeça da vítima", revelou a corporação. 

Nessa segunda-feira (19), as famílias estiveram reunidas em assembleia onde decidiram que vão permanecer na ocupação e devem registrar a denúncia sobre o ataque junto à Polícia Civil, nesta quarta-feira (21), junto com os advogados do MST.

"É bom salientar que todo e qualquer ataque a um líder do MST, é um ataque ao próprio MST e a própria democracia, porque a luta é por moradia. Dito isso, nós estamos tomando as devidas providências, no sentido de instaurar um inquérito policial. Nós vamos até a delegacia para levar ao conhecimento das autoridades competentes para que possa ser iniciada as investigações", afirmou o advogado Ernesto Felipe, em entrevista à TV Jornal.

A Policia Civil de Pernambuco, informou que foi registrado através da Força Tarefa de Homicídios da Região Metropolitana Sul - DHPP, ocorrência de Homicídio Tentado, no bairro de Jardim Jordão, Jaboatão dos Guararapes. "As investigações foram iniciadas e seguem até a completa elucidação do fato", afirmou a PCPE por nota.

Denúncia

Nesta quarta-feira (21), moradores do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), acompanhados de um advogado, foram a Delegacia de Polícia do Jordão, Recife, para denunciar a invasão. De acordo com o advogado Ernesto Felipe, as investigações serão conduzidas pela 3º Delegacia de Homicídio, no DHPP no Cordeiro.

De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco, as investigações foram iniciadas e seguem até a completa elucidação do fato.

Leia a nota na íntegra 

A POLÍCIA CIVIL DE PERNAMBUCO informa que registrou no dia 18 de julho, através da Força Tarefa de Homicídios da Região Metropolitana Sul - DHPP, ocorrência de Homicídio Tentado, no bairro de Jardim Jordão, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Segundo relato da vítima, um homem de 40 anos, estava visitando a localidade do fato com alguns amigos porque estava planejando morar naquela região e, durante a noite, foi surpreendido por dois indivíduos encapuzados, que chegaram atirando para cima e dizendo ser policiais. Os autores do crime espancaram a vítima e, em seguida, a alvejaram com um disparo de arma de fogo na região da cabeça. A vítima foi socorrida para a UPA e transferida para o hospital. A ação foi presenciada por uma testemunha. As investigações foram iniciadas e seguem até a completa elucidação do fato.

Ocupação

A Ocupação Nelson Mandela teve início há um mês e possui 270 famílias - a maioria delas são vítimas dos alagamentos que aconteceram no mês de maio no município de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife e estão cadastradas no habitacional, inconcluso há cerca de 12 anos.

“Existia ameaça e tensão, muito pela especulação imobiliária da área. Estamos negociando com o Governo do Estado, que abriu um canal de diálogo com a Companhia de Habitação, para transferir estas famílias para terrenos próximos”, afirmou Paulo Mansan, dirigente estadual do MST-PE.

“São todas famílias pobres, sem condições de pagar aluguel. Entre pagar o aluguel e comer, elas preferem ter o que comer. Nunca se espera que se chegue a vias de fato, com arma de fogo, a tensão é natural, mas não era esperado que se chegasse a isso. Eles não tem para onde sair, ainda mais nesse período de chuva”, complementou. O dirigente também afirmou que pedirá ao Governo de Pernambuco uma solução definitiva e digna para as famílias da ocupação, além de segurança para evitar novos confrontos.

Leia a nota da PM na íntegra:

A Polícia Militar informa que foi acionada e esteve no local onde ocorreu a tentativa de homicídio e, pelas primeiras informações obtidas, não há ligação do crime com conflito agrário ou habitacional. Pelo que foi apurado no local, três ou quatro homens chegaram a uma invasão ao lado da Escola Técnica do bairro se dizendo policiais e ao encontrar a vítima, no apartamento onde estava, perguntaram onde era a boca de fumo. Como não obtiveram resposta, efetuaram disparos, atingindo a cabeça da vítima. Pelas informações obtidas, homem ferido atuava na modalidade de “guarda do apito” e não tinha antecedentes criminais. Ele foi socorrido para a UPA de Lagoa Encantada, e depois transferido para o Hospital da Restauração, principal unidade pública de traumas de Pernambuco. Uma viatura do 19º BPM, que esteve no local do crime, se deslocou até a UPA e acompanhou a transferência para garantir a integridade do paciente, que no momento do translado estava lúcido e conversou com os policiais, contando que foi à invasão a convite de um outro popular, com a promessa de ganhar um dos apartamentos do movimento.

Resposta da Cehab

Em nota, a Cehab informou que lamenta o ocorrido e aguarda a desocupação do local. Caso isso não ocorra, "a companhia entrará com um mandado de reintegração de posse, já que outras famílias aguardam a conclusão da obra para receber seu imóvel".

Leia a íntegra:

A Companhia Estadual de Habitação e Obras esclarece que o Habitacional do Canal do Jordão, em Jaboatão dos Guararapes, estava em obras e com previsão de entrega para junho de 2022. Os apartamentos serão destinados para 272 famílias cadastradas. Diferente do que foi relatado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em relação aos prédios inutilizados, os imóveis ainda não foram concluídos.

A ocupação do canteiro de obras pelo MST aconteceu no dia 12 de junho. A Cehab realizou algumas reuniões com integrantes do movimento onde ficou acordado em ata, a troca do local ocupado por um terreno, porém a saída prometida não aconteceu. A negociação da troca do acampamento tinha como objetivo desocupar os imóveis para dar continuidade aos trabalhos de conclusão do habitacional.

As famílias a serem contempladas pelos apartamentos moravam no entorno do canal e hoje recebem auxílio-moradia. A Cehab lamenta o ocorrido na noite do último domingo e aguarda a desocupação do local. Caso isso não ocorra, a companhia entrará com um mandado de reintegração de posse, já que outras famílias aguardam a conclusão da obra para receber seu imóvel.