Cachorros morrem ao defender tutora de ataque de pitbull em Petrolina, no Sertão de Pernambuco
Caso aconteceu em um condomínio em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, quando o cão, que pertencia a um vizinho, entrou na casa onde estavam três pessoas - entre elas, uma criança de 5 anos
Atualizada no dia 29 de julho de 2021
Os pequenos Bahuan e Marley, um cachorro sem raça definida de 13 anos e um poodle de 6, respectivamente, morreram na tarde dessa terça-feira (27) ao defenderem tutores da invasão de um pitbull. O caso aconteceu em um condomínio em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, quando o cão, que pertencia a um vizinho, entrou na casa onde estavam três pessoas - entre elas, uma criança de 5 anos.
Todas estavam comendo e assistindo televisão dentro de um quarto junto aos dois cachorros da família quando a moradora da casa e estudante Maria Luiza Cariri, de 20 anos, saiu e encontrou o pitbull na sala de estar. Nesse momento, os cachorrinhos foram em defesa da tutora, que correu para o quarto novamente junto à amiga e à criança.
“Algo me dizia que eu tinha que ir lá fora, tive essa sensação. Quando saí, na sala, o cachorro já estava lá. Meus cachorros foram para cima dele enquanto eu consegui correr e me trancar no quarto. Foi aí que ele começou a atacar os cachorros. Foi muita gritaria, como se os cachorros tivessem pedindo socorro”, relatou Maria Luiza.
Ela ligou para o pai, para a polícia e para a segurança do condomínio para pedir ajuda, que demorou a chegar.
“A casa estava toda fechada, mas o muro é baixo e a porta da frente não estava trancada com chave, e a fechadura abre por pressão. Ele arranhou a porta e conseguiu entrar. Não sabemos se ele foi atrás dos nossos cachorros para marcar território ou se foi atrás de pessoas mesmo”, disse o empresário Reginaldo Cariri Lopes, pai de Maria Luiza.
Com medo, os três ficaram trancados até a chegada de Reginaldo, que entrou na casa minutos depois do dono do pitbull retirá-lo do local. “Na hora que cheguei na minha casa, entrei e a vi cheia de sangue. Logo no início do corredor, estava Bahuan já sem vida. No último cômodo, vi muito sangue, entrei em desespero e me deparei com o outro cachorro totalmente ensanguentado e já sem vida também”, relatou.
O empresário disse que, ao encontrar a filha, a amiga dela e o sobrinho de 5 anos salvos, relaxou um pouco, mas não contém as lágrimas quando volta a falar da perda dos cachorros. “Foi um choque muito grande”, afirmou.
Reginaldo, então, acionou a Polícia Militar de Pernambuco, que foi até o local. Por nota, a corporação informou que, através do 5º BPM, foi "acionada para a ocorrência relacionada a um ataque de pitbull, foi ao local e encaminhou a vítima para a Delegacia de Polícia Civil para prestar uma queixa, mas ela desistiu de formalizar a denúncia, por ser conhecida do dono do animal e não querer prejudica-lo."
Na quarta-feira (28), entretanto, o empresário decidiu prestar um boletim de ocorrência. A Polícia Civil de Pernambuco enquadrou o caso em "outras ocorrências de Ilícitos Penais".
O empresário diz, ainda, que já sabia que o pitbull tinha comportamento agressivo, mas que era mantido em uma casa com muro baixo. “Domingo a gente estava passeando com os cachorros na guia, e uma parte do grupo voltou de carro com medo de passar na frente da casa, porque ele estava querendo pular a grade. Acho que houve negligência, porque um cachorro feroz como aquele vivia em uma casa com muro baixo”, opinou.
“A gente está se sentindo muito mal, é uma perda muito grande para a gente. A gente os tratava muito bem, como se fossem mesmo da família”, disse Maria Luiza.
Outro ataque
No último dia 16 de junho, uma empresária de 49 anos também foi atacada por um cachorro da raça pitbull em Petrolina, desta vez, na orla da cidade. Katia Rodrigues teve parte do rosto e do couro cabeludo arrancados ao tentar salvar a própria cadela, da raça Chow Chow, do cão, se recupera em casa após ter feito cirurgias reparadoras em um hospital particular da cidade.
Pitbulls são naturalmente perigosos?
Especialistas, médicos veterinários e adestradores ouvidos pela coluna Meu Pet garantem que pitbull é, por natureza, uma raça dócil e calma, muito usada como uma espécie de "babá" de crianças antigamente. O que explica os casos de ataques é o animal ter sido criado em um ambiente que o tornou mais violento, ou o desejo de marcar território contra outro cachorro.
“Ele é um animal forte, mas não é agressivo, é manso; tanto que não é um cachorro de guarda. Quando ataca, é porque existiu algum gatilho ou porque desenvolveu transtornos que não são inerentes à raça e que qualquer animal teria, dependendo da criação. O que acontece é que ele tem uma mordida muito forte, [com impacto] que pode chegar até uma tonelada, por isso os ataques são noticiados, e as pessoas entram em pânico e passam a ter horror da raça”, explica a médica veterinária Cristiane Aguiar.
“Esse ataque poderia ter vindo de um vira-lata, golden, de um labrador ou de um shih-tzu, o que muda é o estrago que é feito, porque a mordida de um cão de raça pequena seria imperceptível. O tutor tem que saber o potencial e o temperamento do cachorro e os ambientes em que ele vai”, defende a adestradora Crislane Santos.
Entretanto, ainda que o pit tenha crescido em um ambiente ou sob estímulos que o tornaram mais violento, é possível reverter esse quadro, segundo Cristiane. “O comportamento pode ser revertido, não é necessário eutanasiar o animal por isso. Ele deve passar alguns dias em observação, deve ser levado para um adestramento e fazer avaliações com uma veterinária que trabalhe com comportamento animal para entender por que ele está agredindo.”
“Os cães educados dessa forma ficam com traumas e descontrolados, isso não é saudável, eles não são felizes. Mas tem como voltar a uma vida saudável e social sim, com muito cuidado e muito treino, porque o cachorro aprende desde que nasce até morrer”, afirma Crisline.
Mesmo assim, a opinião de Reginaldo, após o trauma, é que pitbulls não convivam junto a seres humanos. “Temos que sensibilizar o pessoal que esses cachorros são perigosos e matam. Gosto de animais, mas alguns não dá para ter convívio com ser humano”, disse.