VIOLÊNCIA

Motorista que atropelou advogada após ato no Recife diz que manifestantes foram para cima de veículo; versão é contestada por, ao menos, seis testemunhas

Protesto no Recife acabou com um ato de violência, pois um motorista atropelou uma advogada, quando os manifestantes já estavam dispersando em frente ao Armazém do Campo

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Angela Fernanda Belfort

Publicado em 02/10/2021 às 20:51 | Atualizado em 02/10/2021 às 21:48
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O administrador Luciano Matias Soares disse, em entrevista ao NETV2, da Rede Globo, que atropelou a advogada porque os manifestantes foram pra cima do seu veículo, quando estavam se dispersando do protesto contra o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) que foi realizado neste sábado (02) no Centro do Recife. Depois de atropelar a advogada, o motorista prestou uma queixa à polícia civil por "dano ao patrimônio". A versão dele foi contestada por pelo menos seis testemunhas que compareceram ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) afirmando que ele acelerou o carro em cima dos manifestantes, segundo a advogada da vítima, Priscilla Rocha.

>> Mulher é atropelada após ato contra Bolsonaro, no Recife

O motorista é administrador e já foi candidato a vereador pela Frente Popular do Recife em 2012. Na entrevista citada acima, ele disse: "só passei por ela porque ela se pendurou no meu carro. As pessoas que tavam com ela começaram a dar um monte de pancada no meu carro, que está todo amassado na frente, o vidro quebrado. Então, eu fiquei com medo de ficar e acontecer uma coisa pior. E por isso que assim... Infelizmente, aconteceu, eu tô pedindo perdão mais uma vez, não é do meu caráter. Não é do meu feitio fazer isso".

A vítima que foi atropelada fazia parte de um grupo de advogados voluntários que tentam dialogar e resolver impasses nos protestos populares para que não ocorra qualquer incidente violento. Ela também faz parte da comissão de Advocacia Popular da Ordem dos Advogados do Brasil secção Pernambuco (OAB-PE). "Ele foi o único que continuou acelerando em cima dos manifestantes e não pegou a via que estava livre, como fizeram os demais veículos", Priscilla Rocha. A mulher atropelada não quis que o seu nome fosse revelado por questão de segurança. 

"Foi aberto um inquérito por tentativa de homicídio contra o motorista. A via da direita (na Martins de Barros) estava liberada aos veículos em frente ao Armazém do Campo no sentido de quem vai para o Palácio do Campo das Princesas. As advogadas estavam tentando fazer com que os veículos passassem pela 1º de Março ou pela faixa da Martins de Barros que estava livre", explicou Priscilla.

Segundo a advogada, o motorista não estava devagar e foi o único motorista que continuou acelerando em cima dos manifestantes, tentando furar o bloqueio. "Para ela não ser atropelada, ela se agarrou no capô do carro, porque o motorista veio pra cima dela. Ele arrastou ela por alguns metros, fez uma manobra pra ela cair e quando ela caiu passou por cima das pernas dela", afirmou Priscilla. Depois do atropelamento, a advogada ficou caída no chão, chegou uma viatura do Corpo de Bombeiros e depos uma do Samu que levou a vítima para o Hospital Português.

A vítima teve uma hemorragia na cabeça - que foi controlada pela equipe médica - e diversas fraturas nas pernas e os médicos estavam avaliando a necessidade de fazer uma cirurgia nas pernas, segundo informações da advogada. "É um absurdo o que aconteceu. Não estava na hora, mas várias testemunas nos contaram que o motorista colocou o carro contra os manifestantes, a advogada ficou na frente, foi arrastada por uns 50 metros e depois atropelada", comentou a vereadora Dani Portela (Psol), que participou do protesto e foi chamada por conhecidos assim que o atropelamento ocorreu.   

ACOMPANHAMENTO

O presidente da OAB-PE, Bruno Baptista, e a vice-presidente da entidade, Ingrid Zanella, estiveram no final da tarde deste sábado (02) no Hospital Português para prestar solidariedade à advogada atropelada na passeata realizada no Centro do Recife, e para acompanhar a apuração do caso. Eles estiveram junto com representantes das comissões de Advocacia Popular, Mulher Advogada e Direitos Humanos. O presidente conversou por telefone com o secretário de Defesa Social, que garantiu apuração célere e rigorosa do caso.

Bruno considerou o atropelamento "bárbaro". "As nossas comissões de direitos humanos, prerrogativas, mulher advogada e advocacia popular estão acompanhando de perto o caso. Também falamos diretamente com o secretário de defesa social, que se comprometeu uma rápida apuração. A nossa principal preocupação é com o estado de saúde da nossa colega e também com uma rápida apuração, porque isso não pode ficar impune", concluiu.

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