Mulher liga mais de 800 vezes para tentar marcar consulta em hospital do Recife: ''me sinto uma palhaça''
São vários os pacientes que relatam a dificuldade em conseguir atendimento, com centenas de ligações por dia
Com informações da TV Jornal
Pacientes do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no Recife, que precisam marcar consultas por telefone estão reclamando do serviço de atendimento e afirmam não conseguir contato, mesmo depois de centenas de tentativas.
Em entrevista à TV Jornal, nesta quarta-feira (6), a promotora de eventos Kellen Fernandes mostrou o histórico com mais de 800 ligações para a central de marcações do Imip.
Ela precisa de consulta com um ginecologista, pois teve uma cirurgia marcada, depois de ter sido diagnosticada com endometriose, mas, até agora, não foi submetida ao procedimento.
"De alguns meses para cá tem sido um transtorno. Não era assim, demorava, mas conseguia a ligação. Agora são mais de 600 ligações por dia, em dias de marcação, que geralmente são os primeiros dias úteis do mês", afirmou.
Kellen disse que, por falta de anestesista, terá de fazer um tratamento alternativo recomendado pela médica. Ela esperava uma consulta para este mês de abril, mas terá de esperar pelas novas marcações em maio.
"Me sinto como um palhaço, você perde um dia de trabalho ligando, foram, 600, 400, 200 ligações por dia e não consegue. Quando consegue, todos estão ocupados", disse.
Ela diz que o problema está no fato de as marcações abrirem nos primeiros dias úteis do mês, assim, um grande número de pessoas liga no mesmo momento.
Demora no atendimento
No local, a reportagem ouviu a queixa de vários pacientes sobre demora no sistema eletrônico de marcação de consultas do Imip.
A recepcionista Lucimar de Macena sofreu uma fratura na bacia, em 2019, ela chegou a passar por cirurgia, mas desde então não conseguiu retornar ao hospital para consulta com um médico especialista.
"É uma burocracia enorme. Eles falam que é por telefone o agendamento, mas não conseguimos. Quando consigo contato, por volta das 6h da manhã, já dizem que as vagas acabaram. Para a gente paciente, que depende do serviço, é constrangedor", comentou.
Ela procurou outro hospital, mas seu histórico e laudos estão no Imip. Hoje, com dores, ela precisa de uma revisão do quadril. "Infelizmente, nossos governantes não olham para a saúde da população e isso aqui é sustentado com nossos impostos", afirmou.
Acompanhando a situação da avó, Rhadia Valéria explicou que a paciente tem Prolapso Genital, precisa de um parecer cardiológico, mas não consegue marcar uma consulta por telefone.
"A gente conseguiu dar entrada no prontuário dela no Imip, ela foi bem atendida pelos médicos, e pediram uma bateria de exames. Conseguimos fazer todos os exames pelo Imip. Mas o último, que está atrasando tudo, é o parecer cardiológico. Fiquei por uma hora no telefone e ninguém atende, foram mais de 200 tentativas. Estou triste e desesperada, minha avó é uma pessoa muito ativa. E está ficando mais reclusa por tudo isso".
Há dois meses, o pai de Flavio Marques foi socorrido com uma dor no peito. O pensionista conta que o idoso deu entrada no Imip e a família foi informada que ele estava com uma obstrução arterial. O paciente precisa ser acompanhado por um cardiologista, mas a família também não consegue marcar o atendimento.
Imip
Por meio de nota, o Imip afirmou que há uma grande demanda reprimida; confira o posicionamento da instituição:
Com relação às queixas de dificuldade para marcação de consulta, o Imip reconhece que existe uma grande demanda reprimida. Por mês, a Instituição realiza cerca de 54 mil atendimentos de consultas ambulatoriais. A Instituição tem trabalhado para reduzir a fila de espera por atendimento e acolher os pacientes que procuram o hospital.