URBANISMO

Péssimo estado de conservação da antiga Escola Normal Pinto Júnior, no Recife, coloca pedestres em risco

Amedrontada, a própria população prendeu, improvisadamente, fitas de isolamento nas calçadas para impedir o tráfego e evitar acidentes

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Katarina Moraes

Publicado em 05/05/2022 às 16:40
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Pelo alto risco estrutural que a antiga Escola Normal Pinto Júnior se encontra, conforme foi revelado em reportagem do JC, pedestres que passam pela esquina das ruas do Sossego e da Riachuelo, onde o imóvel está, correm perigo. Amedrontada pelo estado do imóvel, situado no Bairro da Boa Vista, Centro do Recife, a própria população prendeu, improvisadamente, fitas de isolamento nas calçadas para impedir o tráfego e evitar acidentes.

Com isso, as pessoas têm andado pela pista, dividindo o espaço com os carros, o que preocupa o ativista de mobilidade ativa Klauber Teixeira, que denunciou a situação ao JC e cobra ações mais eficientes do poder público para proteção das pessoas.

“O plano de mobilidade aprovado na Câmara do Recife diz que, quando se precisa fazer uma obra, por exemplo, e isolar a calçada, tem que garantir proteção aos pedestres, colocando cones ou cavaletes na pista para que o automóvel não passe por perto. Lá, isso não aconteceu, e os usuários estão correndo risco de ser atropelados”, opinou ele.

DAY SANTOS/JC IMAGEM
Abandono da antiga Escola Normal Pinto Júnior, que completa 150 anos em 2022. - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Abandono da antiga Escola Normal Pinto Júnior, que completa 150 anos em 2022. - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Abandono da antiga Escola Normal Pinto Júnior, que completa 150 anos em 2022. - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Abandono da antiga Escola Normal Pinto Júnior, que completa 150 anos em 2022. - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Abandono da antiga Escola Normal Pinto Júnior, que completa 150 anos em 2022. - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Abandono da antiga Escola Normal Pinto Júnior, que completa 150 anos em 2022. - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Abandono da antiga Escola Normal Pinto Júnior, que completa 150 anos em 2022. - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Abandono da antiga Escola Normal Pinto Júnior, que completa 150 anos em 2022. - DAY SANTOS/JC IMAGEM

Pela importância histórico-cultural e relevância para a memória urbana, o casarão de dois andares, um dos poucos exemplares de arquitetura neogótica da cidade, é considerado desde 1997 um Imóvel Especial de Preservação (IEP), categorização que tem como intuito preservar a paisagem e a identidade do Recife. O que, claramente, não vem acontecendo.

As paredes, que um dia foram amarelas, parecem ter perdido muitas mãos de tinta. As janelas já não cumprem mais sua função; estão lacradas. Raízes de árvores e lodo tomam conta da estrutura. O letreiro está praticamente apagado; mas com esforço dá para notar que ali está uma histórica escola da cidade, fundada há 150 anos.

Laudo da Secretaria de Defesa Civil apontou que o imóvel apresenta risco de queda de parte da fachada, e, por isso, em 17 de março deste ano, a Prefeitura do Recife emitiu uma autuação à Sociedade Propagadora da Instrução Pública, responsável pelo prédio, por “não conservar o imóvel dentro dos padrões de habitabilidade e segurança”.

A multa aplicada ao dono do imóvel é relativa a 10% do valor estimado dele. Por nota, a gestão informou que o processo está em curso e que os proprietários têm direito a defesa. "Caso não seja apresentada, cabe ao município, dentro do que prevê a lei, cumprir o poder de polícia e realizar a interdição", disse.

Pela lei das IEPs, é dever do proprietário conservar o bem protegido, e, caso tenha perdido características originais, de recuperá-lo, repará-lo ou restaurá-lo. Ainda, o dono fica proibido de demolir, descaracterizar ou alterar o imóvel. A reportagem tentou entrar em contato com a instituição, mas não obteve sucesso. O espaço está aberto para esclarecimentos.

O Conselheiro Federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo em Pernambuco (CAU-PE), Roberto Salomão, defende a criação de políticas públicas que deem suporte aos proprietários dos IEPs deteriorados, uma vez que os considera construções importantes para a cidade. “Essa responsabilidade é de fato do proprietário, mas, se não queremos vê-los assim, eles precisam de ajuda, porque esses imóveis são marcos da história, eles dão sequência lógica ao tempo das cidades", pontuou.

Memória

Mais que risco estrutural, o abandono da Pinto Júnior resulta, também, no apagamento da história da instituição secular. Criada pela Sociedade Propagadora da Instrução Pública pelo professor João José Pinto Júnior (1832-1896), foi a primeira escola recifense que não era pública, mas era gratuita, já que era mantida por intelectuais, segundo pesquisa da pedagoga Ana Paula Rodrigues Figueiroa, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

REPRODUÇÃO/FACEBOOK/ESCOLA NORMAL PINTO JUNIOR
Estudantes da antiga Escola Normal Pinto Júnior, no Centro do Recife - REPRODUÇÃO/FACEBOOK/ESCOLA NORMAL PINTO JUNIOR
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Estudantes da antiga Escola Normal Pinto Júnior, no Centro do Recife - REPRODUÇÃO/FACEBOOK/ESCOLA NORMAL PINTO JUNIOR
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Estudantes da antiga Escola Normal Pinto Júnior, no Centro do Recife - REPRODUÇÃO/FACEBOOK/ESCOLA NORMAL PINTO JUNIOR
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Estudantes da antiga Escola Normal Pinto Júnior, no Centro do Recife - REPRODUÇÃO/FACEBOOK/ESCOLA NORMAL PINTO JUNIOR

A escola tinha um ensino rígido e era exclusiva para estudantes mulheres, chamadas de “normalistas” - um método de ensino já extinto que preparava as adolescentes para se tornarem professoras. Para se tornar uma aluna, era necessário fazer um exame de admissão, como um vestibular.

A aposentada Maria do Carmo Camargo, de 83 anos, estudou na Pinto Júnior quando tinha 15 anos, na década de 50, e lamenta o estado da escola. “Passei por lá outro dia e achei tudo tão acabado, meu Deus! Nem parece o colégio que eu descia as escadas correndo. Era muito bem cuidado. Dá uma tristeza ver."

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