Bruno Pereira: familiares, amigos e indígenas se despedem do indigenista em Pernambuco
O corpo chegou ao Recife na noite desta quinta-feira (23), após a conclusão da perícia pelo Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília
Com informações de Amanda Azevedo, do repórter Michael Carvalho, da TV Jornal, e da AFP
O corpo do indigenista Bruno Pereira está sendo velado por familiares e amigos no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife, na manhã desta sexta-feira (24). Ele será cremado à tarde, no mesmo local, às 15h. O corpo chegou ao Recife na noite desta quinta-feira (23), após a conclusão da perícia pelo Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília.
Considerado um dos maiores especialistas em povos isolados do País, Bruno Pereira foi assassinado junto com o jornalista britânico Dom Phillips na região do Vale do Javari, no Amazonas. Bruno dedicou sua vida profissional à defesa dos povos indígenas.
O velório contou com comoventes rituais de membros de povos originários. Os indígenas da aldeia Xucuru cantaram motivos fúnebres ao redor do caixão de Pereira Paulista.
"A cerimônia que viemos fazer aqui foi uma despedida para trazer da mata sagrada do território Xingu a força do encantamento, porque hoje ele se torna um encantado para nós. É uma grande perda não só para nós, mas para todo o Brasil, todos os que lutam em defesa da vida, porque defender a mãe terra é defender a vida", disse à AFP o cacique Marcos Xucuru.
"Sem dúvida, é uma perda que não tem como explicar o porquê de tudo isso. Como uma pessoa tão feliz pelo que fazia com empatia gigantesca com seu povo desaparecer da pior forma que poderia acontecer. É inaceitável, principalmente, pela omissão de quem deveria se responsabilizar", disse Manoel Santos, um amigo de faculdade de Bruno.
- Enterro do indigenista Bruno Pereira será realizado no Recife; família aguarda liberação do corpo
- Corpo do indigenista Bruno Pereira chega ao Recife nesta quinta-feira
- Velório e cremação do indigenista Bruno Pereira são confirmados em Pernambuco
- Corpo do indigenista Bruno Pereira chega a Pernambuco, onde será cremado
O colega de faculdade também questionou o inquérito. "Nós estamos numa situação muito estranha. O inquérito antes de terminar diz que não tem um mandante. Eu desconheço isso. Você pode falar isso depois que acabar o inquérito, não antes", questionou.
"Todas essas pessoas que se envolvem com essas questões territoriais, a denúncia de mineração nas terras indígenas, tudo isso coloca em cheque os direitos dos povos indígenas. Eles estão no alvo como o que aconteceu com o Bruno e com o Dom", afirmou Vânia Fialho, representante da Rede de Monitoramento de Direitos Indígenas em Pernambuco.
O corpo de Bruno chegou à capital pernambucana em um avião da Polícia Federal (PF), às 18h36 desta quinta-feira (23). O voo saiu de Brasília e teve uma parada no Rio de Janeiro, local onde o corpo de Dom Phillips foi entregue aos familiares do jornalista.
Bruno deixou Pernambuco em meados dos anos 2000 para seguir o sonho de trabalhar na Amazônia. Casado com a antropóloga Beatriz Matos, o indigenista deixou três filhos.
Quem foi Bruno Pereira?
Durante o ensino médio, Bruno Pereira estudou no Colégio Contato do Recife. Após o anúncio da sua morte, um perfil de estudantes fez uma homenagem a ele. "Uma homenagem a Bruno Pereira, que foi concluinte Saúde no Contato Zona Sul em 1998. Nossos sentimentos aos amigos e familiares", disse o perfil, numa publicação no Instagram. As fotos mostram Bruno junto a outros colegas de escola, tanto em sala de aula quanto em outros momentos descontraídos com os estudantes. A primeira foto mostra uma carteira de identificação do colégio.
Seguindo seu sonho, Bruno Pereira seguiu como atuante na defesa dos povos indígenas, Bruno Pereira atuava nesses territórios contra os invasores, como garimpeiros e madeireiros da região. Em 2019, ele foi exonerado do cargo de coordenador-geral de Índios Isolados da Funai. Mas continuou atuando como assessor na União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O local, que é a segunda maior terra indígena do País, é foco de disputa do tráfico de drogas, roubo de madeira e o garimpo.
INVESTIGAÇÕES
Os restos mortais de Bruno e Dom ficaram seis dias em Brasília. Lá, as perícias foram concluídas nesta quarta (22), em prazo bem mais curto que o padrão para procedimentos semelhantes. Geralmente, os testes duram entre 30 e 60 dias.
Os peritos fizeram exames de DNA, impressão digital e antropologia forense - método que analisa características físicas, como estrutura óssea.
A PF reiterou que todos os testes realizados confirmaram a identidade de Bruno e de Dom. Em nota, a corporação também confirmou que não há restos mortais de outra pessoa.
"Os trabalhos dos peritos do Instituto Nacional de Criminalística continuarão nos próximos dias concentrados na análise de vestígios diversos do caso", disse o comunicado da PF.