Família denuncia que adolescente foi torturado em viatura, agredido e ameaçado de morte por PMs em Porto de Galinhas
Garoto de 13 anos conta que três policiais militares participaram da ação. A Secretaria de Defesa Social (SDS) abriu investigação para apurar o caso
Com informações da repórter Suelen Brainer, da TV Jornal
A família de um adolescente de 13 anos denuncia que o menino foi agredido, ameaçado de morte, roubado e mantido dentro de uma viatura da Polícia Militar durante quatro horas na última terça-feira (19) em Porto de Galinhas, Litoral Sul de Pernambuco. A Secretaria de Defesa Social (SDS) abriu investigação para apurar o caso.
À TV Jornal, o menino conta que tudo aconteceu por volta das 20h, quando ele voltava para casa após ter ido jogar videogame com uma amiga, também de 13 anos. O adolescente contou ter sido abordado por três policiais militares - uma mulher e dois homens -, que faziam rondas na localidade. A outra adolescente não foi identificada.
“Eles já chegaram perguntando: ‘quem são os caras?’, e eu disse: ‘sei não’”. Então, o garoto narrou ter começado a ser esmurrado, empurrado e jogado na lama apenas pelos dois homens. De acordo com ele, a mulher ficou quieta, mas não tentou impedir o ataque.
"Começaram a jogar spray e me dar chutes. Botaram a faca no meu pescoço e furaram minha mão. Diziam para entregar os caras, senão iam me enterrar, que não tinham medo de matar criança, não”, relatou.
O menino disse ter passado quatro horas dentro da viatura rodando as comunidades de Salinas e Socó enquanto os PMs pediam pelo nome de procurados. Ele alega não conhecer ninguém, já que mora em Porto há apenas 4 meses. Antes disso, vivia com a família em Jardim Piedade, em Jaboatão dos Guararapes.
A mãe tomou conhecimento do que aconteceu por uma vizinha, quando o menino foi liberado da viatura. “A vizinha de outra rua foi me chamar. Quando cheguei, ele estava sentado com os olhos fechados, porque jogaram spray nos olhos dele, chorando muito porque estava doendo. Estava machucado, molhado e sem sandália”, disse.
Ela o levou até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Porto de Galinhas. Ao relatar o caso à equipe médica, o hospital chamou o Conselho Tutelar. A mãe e o filho conversaram com o órgão nessa quinta-feira (21), que encaminhou a denúncia à SDS.
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Apesar do medo, a família pede justiça. “Fico com medo de deixar ele sair só, não quero mais deixar. Do jeito que a mulher chegou aqui, assustada e nervosa, dizendo que o policial o pegou, eu pensei que tinham matado ele. Eu quero justiça, porque ele é uma criança”, afirmou a mãe.
SDS-PE abriu investigação sobre o caso
A Corregedoria Geral da SDS-PE disse que instaurou investigação preliminar para identificar as viaturas que estiveram na comunidade no dia do ocorrido, juntamente com o efetivo e, assim, "apurar o fato com rigor e isenção a fim de esclarecer a ocorrência".
O adolescente foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para realização do exame de corpo de delito. Acompanhado da mãe e de representantes do Conselho Tutelar, foi ouvido, junto a testemunhas, pela Polícia Civil de Pernambuco na Delegacia na tarde dessa quinta.
A pasta esclarece que, diante de condutas irregulares praticadas por servidores da segurança pública, vinculados à SDS, "é muito importante que os cidadãos busquem o apoio da Corregedoria Geral da SDS".
As denúncias podem ser registradas na sede do órgão, localizada na Avenida Conde da Boa Vista nº 428, bairro da Boa Vista, Recife. O atendimento ao público é feito todos os dias (inclusive feriados) durante 24h. Também pode ser feita via Ouvidoria, pelos telefones: 3183.5298 ou 0800.081.5001, e através do e-mail: denuncia@corregedoria.sds.pe.gov.br. A identidade do denunciante é preservada.
Caso relembra morte de Heloysa Gabrielly
O caso aconteceu uma rua atrás de onde Heloysa Gabrielly, de 6 anos, foi baleada e morta também durante ação policial em 30 de março. A criança foi atingida no peito quando acontecia uma perseguição de policiais do Bope a Manoel Aurélio do Nascimento Filho, que seguia de moto pela comunidade de Salinas.
A morte suscitou uma revolta popular na Comunidade, que fechou o comércio do centro de turismo mais importante de Pernambuco durante mais de 24h para denunciar que truculentas abordagens policiais são feitas com frequência na região da Comunidade Salinas. O caso continua sob investigação.
Apesar de ter prometido celeridade na resolução do caso, o inquérito sobre a morte de Heloysa ainda não foi concluído pela Polícia Civil. Segundo a corporação, o inquérito está "na fase final". "Algumas diligências e perícias criminais estão em curso, para que haja a conclusão dos trabalhos. Informações só poderão ser repassadas com o desfecho das investigações, que estão sendo conduzidas com seriedade, técnica e dedicação, visando a elucidação dos fatos", informou.