CASO HELOYSA: Morte de suspeito, em ação do Bope, é novo capítulo de investigação em Porto de Galinhas
Quase dois meses após menina ser morta durante perseguição policial, testemunha foi baleada e morreu perto do Presídio de Igarassu
Às vésperas de completar dois meses da morte da menina Heloysa Gabrielly, de 6 anos, na comunidade de Salinas, na praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul de Pernambuco, o caso ganha um novo capítulo. O suspeito que teria tentado fugir dos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), na tarde de 30 de março, quando a menina acabou baleada, foi morto nessa quinta-feira (26).
De acordo com a versão apresentada pela Polícia Militar, nesta sexta-feira (27), Manoel Aurélio do Nascimento Filho e mais dois homens estavam em um carro e iriam realizar um atentado contra um detento do Presídio de Igarassu, que seria liberado. Por isso, uma equipe do Bope teria ido ao local para evitar o crime.
"Ao se depararem com os três homens em um carro, na Rua Andradina, para realizar a abordagem, houve uma troca de disparos de arma de fogo. Os três suspeitos foram feridos e, apesar de socorridos de imediato para a UPA de Igarassu, não resistiram aos ferimentos", informou, em nota, a Polícia Militar.
O carro usado pelos suspeitos estava com diversas marcas de tiros. Vai passar por perícia do Instituto de Criminalística.
A Polícia Militar afirmou que, dentro do veículo, foram apreendidos um revólver calibre 38, uma pistola 9mm, 48 munições calibre 9mm, 12 munições calibre 38, carregadores, 180 pedras de crack, 20 pinos de cocaína, além de um pedaço de aproximadamente 200g de maconha e outros 100 invólucros da mesma droga.
"Todo o material foi entregue no DHPP e as investigações ficarão a cargo da Polícia Civil, além do efetivo ter se apresentado ao plantão da Diretoria de Polícia Judiciária Militar, onde foi prestado depoimento", disse a nota divulgada.
O caso será investigado Delegacia de Polícia de Homicídios, vinculada à Divisão de Homicídios Metropolitana.
Na esfera administrativa, a Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) esteve no local e acompanhou depoimentos prestados no plantão do DHPP. Uma Investigação Preliminar foi instaurada para apurar se houve possíveis infrações disciplinares cometidas pelos policiais que atuaram na ocorrência. Também será instaurado inquérito policial militar com o objetivo de apurar as circunstancias em que se deram os fatos.
CASO HELOYSA
Apesar da promessa de celeridade nas investigações, a Polícia Civil ainda não esclareceu quem atirou Heloysa Gabrielly. No momento em que a criança foi atingida no peito acontecia uma perseguição de policiais Bope a Manoel Aurélio do Nascimento Filho, que seguia de moto pela comunidade de Salinas.
No começo do mês, houve uma reprodução simulada para ajudar a identificar se o tiro partiu dos policiais do Bope ou do suspeito.
Na versão divulgada oficialmente pela Polícia Militar, no dia em que a menina foi morta, foi dito que houve uma troca de tiros entre os PMs e uma dupla suspeita de tráfico de drogas.
Mas a versão relatada por testemunhas, inclusive por uma tia que estava com a menina no momento em que houve a morte, é de que apenas os policiais atiraram. Imagens de câmeras de segurança só mostram um homem na moto - era Manoel Aurélio, que afirmou, posteriormente, que não atirou.
Além do inquérito sobre a morte da menina, também foi instaurada uma investigação pela Corregedoria da SDS e outra pela própria Polícia Militar. Esses dois procedimentos visam avaliar a conduta dos policiais do Bope na ação que resultou na morte da menina. Não há prazo para conclusão das três investigações.
DIAS TENSOS
Após a morte da menina, Porto de Galinhas, que é principal cartão-postal de Pernambuco, viveu dias tensos com comércio fechado, atos de vandalismo e medo entre turistas. O governo estadual precisou criar uma operação chamada Porto Seguro, com reforço de 250 policiais, para dar mais segurança à praia.
Na semana seguinte à morte de Heloysa, os policiais que atuaram na perseguição foram retirados de Porto de Galinhas. Eles seguem afastados de lá, mas trabalhando em outra unidade do Bope.