Desinteresse dos alunos é o maior desafio da educação em Pernambuco, dizem professores da rede pública

Pesquisa realizada em parceria pelo Itaú Social, Todos Pela Educação, Instituto Península e Profissão Docente, ouviu mais de 6,7 mil professores de escolas públicas de todo o Brasil e trouxe recortes nacional e regionais
Adriana Guarda
Publicado em 28/04/2023 às 7:00
Pesquisa ouviu mais de 6,7 mil docentes de escolas públicas de todo o Brasil sobre os desafios da educação Foto: DIVULGAÇÃO


"O professor não é um herói e não pode estar sozinho no processo de melhoria da educação", diz a especialista em Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social, Esmeralda Macana, refletindo sobre o resultado de uma pesquisa de opinião com professoras e professores de todo o País. Neste 28 de abril, em que se comemora o Dia da Educação, escutar a voz dos professores é aprender com quem está na linha de frente para contribuir com o projeto de um mundo melhor.   

Realizada em parceria pelo Itaú Social, Todos Pela Educação, Instituto Península e Profissão Docente, a pesquisa ouviu 6.775 professores de escolas públicas do ensino fundamental e médio (municipal e estadual) de todo o Brasil.

A ideia foi entender a percepção dos docentes sobre a educação no País. O resultado trouxe recortes nacional e regional, com detalhamento da escuta por Estados. O estudo foi encomendado pelas instituições realizadoras ao Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica).

Em Pernambuco, a pesquisa revela que 28% dos docentes têm como principal desafio na sua rotina escolar, o desinteresse do estudante pelas aulas. Esmeralda explica que esse comportamento ainda reflete a paralisia provocada pela pandemia da covid-19. "Milhares de crianças e adolescentes passaram muito tempo sem ir à escola  e essa retomada não está sendo fácil", observa. 

O segundo maior desafio em sala de aula, apontado pelos professores, é a defasagem na aprendizagem dos estudantes (24%), o que também pode ter sido agravada pela pandemia. A indisciplina dos alunos é o terceiro elemento mais mencionado por professores pernambucanos, com 22% dos apontamentos.

"Todo esse cenário, de ter que engajar os alunos, correr para recuperar o tempo com a pandemia e avançar na aprendizagem, além da violência nas escolas e as ameaças de ataque, têm sobrecarregado os professores, que dizem estar enfrentando uma carga excessiva de trabalho e se sentem estressados", destaca Esmeralda. 

Como resposta a essas questões, os docentes apontaram quais seriam as prioridades que as secretarias de Educação devem adotar nos próximos anos. As cinco primeiras seriam a oferta de apoio psicológico a professores e estudantes (20%); a promoção do envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos (16%); a promoção de programas de reforço e recuperação (15%); o aumento do salário dos professores (13%); e a melhoria na infraestrutura escolar (10%).

PERNAMBUCO DIFERENTE 

Esmeralda Macana chama atenção para uma postura mais otimista dos docentes de Pernambuco, em relação à média do País. Quando apontam as prioridades que as secretarias de Educação devem adotar, eles apontam ações de melhoria nas condições de trabalho, antes mesmo do aumento do salário. 

"No Estado, o aumento do salário aparece em quarto lugar, enquanto no Brasil é o segundo. Isso demosntra que Pernambuco tem um diferencial interessante. Há uma chance de que a educação melhore se a secretaria investir na formação e na valorização dos professores", defende, com base na pesquisa.

Ao mesmo tempo em que o professor pernambucano é mais otimista, ele recebe menos qualificação profissional no início da carreira. Quase um terço (28%) lamentou o fato de não ter recebido formação neste começo.

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

O levantamento de opinião revelou que 26% concordam totalmente que os atuais cursos de graduação de Pedagogia e licenciaturas estão preparando bem os docentes para o início da profissão, sendo que, na média nacional, o percentual de docentes que têm essa afirmação é de 19%.

Os cursos presenciais formam docentes mais preparados de acordo com 87% dos entrevistados. Apesar dessa visão, seis a cada 10 professores (61%) graduados no Estado em 2020 estudaram à distância. Além disso, 48% afirmam não terem recebido orientação específica em seu primeiro ano de docência, quando estudos demonstram que a curva de aprendizagem é muito mais alta nos cinco primeiros anos de prática.

VALORIZAÇÃO 

Apenas 7% dos entrevistados concordam (1% totalmente e 6% em parte) que, no Brasil, os professores são tão valorizados quanto médicos, engenheiros e advogados. A grande maioria dos docentes (95%), sinalizam que gostariam de participar mais do desenho de políticas e programas educacionais de sua rede de ensino.

Apesar da baixa valorização e dos desafios da carreira, 9 em cada 10 entrevistados concordam que, se pudesse decidir novamente, ainda escolheria ser professor. Além disso, 94% afirmam totalmente que a maior satisfação na profissão é quando percebem que os alunos estão aprendendo.

"O investimento da formação para ampliar o repertório pedagógico e o tempo livre para planejar aulas são indispensáveis para que os professores possam inovar e aumentar o engajamento dos alunos. Sem tempo para se aproximar dos estudantes e consegiur criar laços afetivos com os alunos, fica mais difícil engajar e reduzir a indisciplina", afirma Esmeralda, do Itaú Social.   

A instituição desenvolve, implementa e compartilha soluções para contribuir com a melhoria da educação pública brasileira e para a redução das desigualdades educacionais. Sua atuação está pautada na formação de profissionais da educação e na realização de pesquisas e avaliações. www.itausocial.org.br 

 

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