Mudanças viárias, estruturais e de uso estão previstas para os próximos anos nas praias urbanas da capital pernambucana: Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa. Pelo menos, é o que consta no Projeto Orla Recife - cuja prévia foi apresentada nessa quarta-feira (17) em audiência pública na Câmara Municipal.
A discussão aconteceu a pedido do vereador Paulo Muniz (SD) diante de problemas que se arrastam há décadas na Zona Sul da cidade, como a falta de movimentação durante a noite, trânsito intenso de veículos, banheiros depredados, ciclovias esburacadas e insegurança.
Uma realidade que destoa de como deveria ser um dos principais cartões-postais do Recife e que, caso permaneça, dará poucos motivos para a Avenida Boa Viagem comemorar seus 100 anos de construção, em 2025.
O maior dos desafios, hoje, é promover uma mudança urbana em uma área adensada - já que os espigões habitacionais cobrem toda a sua extensão. Assim, ao cessar o entra e sai dos moradores, a orla morre - tem escassez de lojas, comércios e serviços.
Por isso, a transformação no bairro mais habitado da cidade - com cerca de 123 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - tem sido uma das grandes apostas da gestão do prefeito João Campos (PSB).
Em março deste ano, o município entregou a reforma dos 60 quiosques da via, cuja reforma foi iniciada em 11 de março de 2022 após pelo menos três anos de cobrança pelos permissionários. Sob custo de R$ 9,7 milhões, esta foi a primeira etapa do projeto.
Neste ano, deve ser iniciada a segunda etapa das obras, que já havia sido anunciada. Trata-se da construção de novos 11 banheiros públicos e a requalificação dos 10 já existentes, totalizando 21 equipamentos, por R$ 5.9 milhões.
As demais etapas estão em fase final de elaboração e ainda podem sofrer alterações, mas foram mostradas pela chefe do Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura, Cinthia Mello, durante a reunião na Câmara. O custo das obras ainda não foi divulgado.
Ela defende que as novidades tornarão a Orla Recife um espaço mais convidativo à população. “A gente traz mais áreas de contemplação, mais áreas de lazer, ordenando o calçamento para dar maior permeabilidade e mais permanência das pessoas através de vários entretenimentos e centralidades”, disse.
A intenção da Prefeitura é integrar a Orla de Boa Viagem e do Pina à de Brasília Teimosa, totalizando 11 quilômetros de extensão. Já a previsão de conclusão é para 2025 - ultrapassando o período do primeiro mandato do prefeito, que encerra em 2024.
De acordo com o projeto, a velocidade máxima na via, hoje de 60 km/h, cairá para 50 km/h na Avenida Boa Viagem, e o estacionamento de veículos passará a ser proibido do lado direito da via - ao lado do calçadão. Também, haverá pontos específicos para carga e descarga de mercadoria para os quiosques.
No Segundo Jardim, cujas faixas de trânsito são divididas por uma praça central, as faixas da direita deixarão de existir - sobrando apenas as próximas aos prédios - para ampliação do polo gastronômico. Atualmente, o espaço é interditado aos domingos para atividades de lazer.
A ciclovia será interligada à de Brasília Teimosa e seus pontos cegos serão suavizados, a fim de diminuir a ocorrência de acidentes - principalmente em curvas sinuosas. Já o calçadão será expandido de 2,75 metros para 4,8 metros e, em alguns pontos, como na Pracinha de Boa Viagem, ganhará um mirante para contemplação do mar.
Somente 60 dos 110 chuveiros prometidos ainda em 2016 pelo prefeito Geraldo Julio (PSB) serão instalados, além cinco fontes interativas e 13 totens que expelem um vapor de água para quem quiser se refrescar enquanto caminha pelo calçadão da praia.
Para melhorar o sombreamento na faixa de areia, a Prefeitura promete plantar 738 árvores em até 6 anos. Isso porque, atualmente, de acordo com a gestão, há 572 árvores mal distribuídas pela orla - fazendo com que 15,5% da praia seja árida e, assim, não concentre banhistas.
Haverá mudanças no Mercado do Peixe, de Brasília Teimosa, - que carece de atenção e manutenção. Nos quiosques de Boa Viagem, será permitida a distribuição de mesas e cadeiras para clientes. Já no Clube da Vara, divisa entre Recife e Jaboatão, serão construídos polos gastronômico e esportivo.
Para reforçar a segurança na via - que tem sido uma das principais reclamações de frequentadores e comerciantes - a Prefeitura vai instalar cinco pontos fixos de policiamento e 140 câmeras de monitoramento.
O arquiteto e urbanista Silvio Melo considerou que a requalificação é uma tentativa positiva de corrigir "uma política urbana equivocada de décadas que inviabilizou outro uso que não o residencial na orla", e de dar a Brasília Teimosa “o mesmo tratamento paisagístico que os bairros vizinhos”.
Estão previstas oito "centralidades" para a orla - espaços que terão, cada um, atividades específicas de gastronomia, turismo e lazer.