Áreas verdes

Criação de novos parques no Recife chama atenção para falta de integração entre bairros e cuidados com áreas já existentes

O isolamento dos locais de lazer e áreas verdes, além da falta de visibilidade, também faz com que os equipamentos caiam em desuso

Carol Guerra
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Carol Guerra
Publicado em 04/08/2023 às 19:21 | Atualizado em 05/08/2023 às 19:40
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Problemas estruturais nos parques da Cidade - Parque Dona Lindu - Parque - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM

A projeção da Prefeitura do Recife para se tornar uma Cidade Parque até 2037 chama atenção para a concentração de espaços de interação e áreas verdes em bairros da Zona Norte do Recife. Dos onze parques da cidade, seis deles ficam entre os bairros de Casa Forte, Graças, Jaqueira, Poço da Panela, Macaxeira e Apipucos. 

Na Zona Oeste, ficam estabelecidos dois parques: Caiara, na Iputinga, e Arnaldo Assunção, no Engenho do Meio.

Já na Zona Sul, estão localizados os Parques Dona Lindu e Robert Kennedy. Por fim, o Centro do Recife acomoda o Parque 13 de maio e o parque linear da Aurora (Cais da Aurora). 

Para além da concentração dos parques, há também a diferenciação na estrutura dos espaços. Nos parques Dona Lindu e Santana, por exemplo, existe uma estrutura adaptada com quadras poliesportivas, pista de skate, espaço infantil com tirolesa parquinhos de madeira, além de receberem atividades culturais ao longo do ano. 

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
PARQUE SANTANA Tem maior pista do Recife, com 1.655 metros quadrados - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Resta ao Parque Assunção, na Zona Oeste, uma quadra de futebol e pista para caminhadas ou corrida, além de academias da cidade. A área infantil conta com brinquedos de ferro. As atividades culturais  se limitam, boa parte do ano, ao período dos tradicionais festejos juninos ou carnavalescos, por exemplo. 

 

De acordo com a coordenadora do Laboratório da Paisagem do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Rita, a necessidade da integração dos bairros pode ser revertida no aproveitamento dos parques, expandido o uso para outros espaços da cidade. 

"A população pede parques, pede áreas verdes, espaços de recreação. O Parque das Graças é muito linear, com uma passarela, mas que não concentra grande parte da população. De toda forma, é um projeto que aproxima o morador do rio e eu acredito que pode se estender para o lado Oeste", afirma.

 

O isolamento dos locais de lazer e áreas verdes, além da falta de visibilidade, também faz com que os equipamentos caiam em desuso.  

"O Parque de Apipucos é pouco utilizado porque é um parque que fica isolado. Acredito que se houver uma outra iniciativa que agregue ele, aí teremos uma maior função. É uma área boa, mas que fica ociosa", explica Ana Rita. 

Um dos poucos parques situados na Zona Oeste do Recife, o Caiara, também não centraliza a população da região. Ana Rita chama atenção para a falta de visibilidade do equipamento. 

"No Parque do Caiara, falta uma visibilidade maior, que chame as pessoas. É importante uma intervenção de integração que ligue ele com o Parque de Exposições. Isso seria de grande significado para a população do lado Oeste da cidade", idealiza a coordenadora. 

É importante fazer a articulação desses espaços para entender isso como um sistema de parques interligados. Não adianta fazer um espaço que ele fique isolado, sem proporcionar essa ligação.
Ana Rita, coordenadora do Laboratório da Paisagem do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE

Construção de complexo de lazer, esporte e saúde na Zona Norte

Em abril de 2023, a Prefeitura do Recife anunciou a construção de complexo de lazer, esporte e saúde na Zona Norte. O espaço foi batizado de Jardim do Poço e ficará localizado às margens da Avenida 17 de Agosto. 

A estrutura faz parte do plano da gestão municipal de tornar uma Cidade Parque até 2037, com a criação de um sistema de parques e praças às margens do rio Capibaribe, formado por passeios, ciclovias, área de lazer e contemplação, passarelas, mirantes, alamedas e píeres para pequenas embarcações.

No Planejamento da prefeitura, o espaço agregará os moradores dos bairros de Sítio do Cardoso, Sítio do Berardo, Novo Prado, Benfica, Vila União, Brasilit, Vila Arraes, Sítio Wanderley, Torrões, Prado, Vila do Siri, Capunga, Vila Esperança Cabocó, Alto do Mandu, Abençoada por Deus, Vila Inaldo Martins e Poço da Panela. 

Parques antigos pedem manutenção

A criação de novos parques também reforçou a importância da preservação dos antigos equipamentos de lazer e áreas verdes. No Parque Arraial Novo do Bom Jesus, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além da antiga estrutura, os monumentos históricos seguem pichados. 

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Problemas estruturais nos parques da Cidade - Parque Arraial Novo do Bom Jesus - Parque - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Já no Parque Assunção, a única quadra do local teve a sua tela de proteção danificada, as barras do espaço para o futebol não possuem rede. Moradores também falaram sobre falhas na iluminação do local. 

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Problemas estruturais nos parques da Cidade - Parque Arnaldo Assunção - Parque - GUGA MATOS/JC IMAGEM

No Parque Dona Lindu, placas com o nome do espaço e placas indicativas com informações sobre a área estão apagadas. 

 

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Problemas estruturais nos parques da Cidade - Parque Dona Lindu - Parque - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Jardins de Burle Marx também carecem de atenção 

Para além dos parques, Recife também possui 15 Jardins Históricos projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx, dentre os quais as praças de Casa Forte, Euclides da Cunha, da República, o Jardim do Campo das Princesas, além das Praças do Derby e Salgado Filho, também tombadas pelo IPHAN

Entretanto, a coordenadora Ana Rita também chamou atenção para o abandono dos Jardins e a necessidade da reativação do comitê, que foi criado em 2018 com o objetivo de preservar os Jardins Históricos de Burle Marx. 

"Os jardins de Burle Max não podem ser pensados isoladamente. São jardins que foram tombados. A maioria deles está abandonado. A Praça Salgado Filho, que fica em frente ao Aeroporto do Recife está praticamente abandonada. A Prefeitura precisa reativar o comitê Burle Max para não deixar essa história se apagar". 

Resposta da Prefeitura do Recife

Com relação à criação de novos parques, a Prefeitura do Recife comunicou, em nota enviada na tarde do sábado (5), que o Parque Eduardo Campos, na Zona Sul, projetado para ser o maior parque da cidade, está em construção. 

O espaço terá 11,9 hectares e terá parque infantil, mobiliário urbano inclusivo, campo de futebol, pista de skate, quadra polivalente, parcão, circuito de bicicleta, pista de Cooper, anfiteatro ao ar livre, academia inclusiva e uma área para caminhada às margens do Parque dos Manguezais. As obras serão finalizadas em 2024.

Ainda na Zona Sul, a prefeitura informou que um outro parque linear que será entregue à cidade, dentro da ZEIS Encanta Moça/ Pina e que será construído às margens do Rio Pina, em região próxima à área do Parque Eduardo Campos.

No Centro do Recife, a gestão municipal informou que nos últimos dois anos, a Prefeitura entregou as etapas do parque linear da Rua da Aurora. 

Para a Zona Oeste, a Prefeitura do Recife afirmou que será lançado, no segundo semestre deste ano, um edital de licitação para a requalificação do Centro Social Urbano (CSU) Bido Krause. O executivo municipal comunicou que o local terá "grande área verde e espaços de lazer e esportes disponíveis para a população".

A PCR declarou que o Programa de Requalificação e Resiliência Urbana em Áreas de Vulnerabilidade Socioambiental (Promorar), também prevê obras de urbanização em 40 diferentes comunidades da cidade do Recife, que incluem espaços públicos de lazer.

No âmbito do Promorar, a prefeitura assegurou que as margens do Rio Tejipió ganharão parques lineares.

Manutenção nos parques 


A Prefeitura do Recife comunicou que realiza manutenções constantes nos parques e praças da cidade através da Emlurb, Secretaria de Turismo e de Cultura, responsáveis por espaços distintos.

Ainda de acordo com a PCR os contratos em vigor para a manutenção preventiva dos parques, praças, áreas verdes, canteiros de avenidas, refúgios e fontes da cidade, além da manutenção e instalação de brinquedos de madeira, somam valores superiores a R$ 10 milhões por ano.

A gestão municipal declarou que está em fase de estruturação a concessão de Parques Urbanos, que consiste na prestação dos serviços de gestão, operação e manutenção, bem como na execução de obras e serviços de engenharia de parques urbanos no Município do Recife.

Por fim, a Prefeitura do Recife informou que o projeto de concessão está desenhado em dois blocos, e inclui o Bloco A, com os Parques da Jaqueira, Governador Joaquim Francisco, Santana e Ariano Suassuna e o Bloco B, que inclui os Parques Dona Lindu e Urbano da Macaxeira, e que garantirá maior eficácia na manutenção e limpeza.

 

Citação

É importante fazer a articulação desses espaços para entender isso como um sistema de parques interligados. Não adianta fazer um espaço que ele fique isolado, sem proporcionar essa ligação.

Ana Rita, coordenadora do Laboratório da Paisagem do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE

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