Coronavírus

Governadores defendem unidade e expõem distanciamento com governo Bolsonaro

Em reunião sem representantes do governo federal, governadores ressaltaram necessidade de união e pediram o apoio de Rodrigo Maia na aprovação de pautas urgentes para diminuir efeitos econômicos causados pelo coronavírus

Mirella Araújo Luisa Farias
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Mirella Araújo
Luisa Farias
Publicado em 25/03/2020 às 20:20 | Atualizado em 25/03/2020 às 22:53
JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
Ex-governador do Ceará, Camilo Santana assume o comando do MEC a partir de janeiro de 2023 - FOTO: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

A videoconferência realizada pelos 26 governadores do Brasil nesta quarta-feira (25), com a participação do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), mas sem nenhum membro do governo federal, expôs o distanciamento dos gestores estaduais do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação às medidas de enfrentamento ao novo coronavírus (covid-19).

Na reunião, ficou pactuado que o estados vão continuar seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde e manter o isolamento social como principal ação de combate ao coronavírus.

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"Todos os governadores firmaram essa posição. Nenhum governador está agindo sem esse respaldo. São as orientações médicas que têm determinado a atitude preventiva que os governadores têm adotado, em sintonia com aquilo que temos assistido, inclusive em outros países do mundo", disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PT).

O governador Paulo Câmara (PSB), que já havia declarado que “o Brasil está sem comando” ao rebater o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro afirmou que “nada é mais importante e urgente do que proteger a vida, não pode existir outra escolha”.“Vamos precisar sim, construir caminhos para recuperação econômica, será assim no mundo, mas tudo ao seu tempo. Vida perdida, como a que tivemos hoje em nosso estado, não se recupera”, afirmou Paulo Câmara.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), confirmou a primeira morte pelo novo coronavírus no Estado. A vítima é um idoso de 85 anos, que estava internado no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), desde a última sexta-feira (20).

O governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSC) garantiu que a situação será conduzida da mesma forma no estado. "Seguimos as orientações do Ministério da Saúde e os médicos da área sanitária, infectologistas. Não vamos recuar nenhum milímetro em relação ao que estamos fazendo até o presente momento", afirmou Belivaldo.

União

Os governadores nordestinos - que haviam feito outra videoconferência mais cedo - ressaltaram o sentimento de unidade entre os governadores brasileiros nas ações de combate do coronavírus.

De acordo com, o governador da Paraíba, João Azevedo (PSB), a posição dos governadores foi no sentido de preservar as relações institucionais, para que não hajaruptura. "É um momento de ter calma, ter cautela, para que a gente possa sair dessa situação com efetividade das ações que os estados vão implementar", conta o governador paraibano.

Em uma live nas redes sociais para falar da reunião, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), disse que é preciso de deixar de lado "questões políticas, partidárias e ideológicas" e de proteger a população. "Quando a gente fala em proteger as pessoas, é proteger do vírus e proteger o emprego das pessoas. Esse é o grande desafio e para isso exige de todos nós, e esse é o alinhamento de todos os governadores do Brasil, exige esforço, diálogo, a participação de todos, inclusive do governo federal", disse o governador cearense.

Congresso

Na presença de Rodrigo Maia, os gestores pediram o apoio do Congresso Nacional para a aprovação de projetos que possibilitem o maior acesso a recursos, como o da securitização das dívidas e do Plano Mansueto, de socorro financeiro aos estados, além da Lei Kandir.

"Entendemos que passamos a mensagem de que o Congresso Nacional tem um papel de suma importância na defesa do pacto federativo nesse momento para criar exatamente as condições para que haja uma melhor relação entre estados, canalizando as demandas de estados e municípios", disse João Azevedo (PSB).

Rodrigo Maia afirmou que o Plano Mansueto deverá entrar em discussão a partir da próxima semana e sente que contará com apoio de todos os governadores e partidos para sua aprovação. “Essa é uma pauta urgente, pois vai ajudar os governadores tanto do ponto de vista do plano de recuperação fiscal dos estados, quanto a garantia do controle das despesas dos estados”, afirmou.

Para Maia, “frases de efeito não vão resolver nosso problema”, mas que neste momento caberia construção de soluções. “Espero que ele (Jair Bolsonaro) não tenha decretado o estado de calamidade pública por nada”, disparou.

Economia

Outra preocupação dos governadores é de minimizar os efeitos da crise econômica causada pelo novo coronavírus, principalmente em relação à manutenção dos empregos o auxílio aos profissionais autônomos e trabalhadores informais, grupo que mais sofre com a proibição das atividades vistas como não essenciais.

Segundo o governador da Bahia, Rui Costa (PT), foi feito um apelo para que a Câmara e o Senado Federal tenham mais protagonismo "aprovando medidas que garantam esse equilíbrio entre cuidar de vidas humanas, da saúde, estruturar os estados para dar assistência e também cuidar para a manutenção dos empregos e das rendas das pessoas", conta.

Tensão com governadores

Nessa terça-feira (24), em pronunciamento em rede nacional, o presidente afirmou que os governadores deveriam “abandonar o conceito de terra arrasada” devido a proibição da abertura estabelecimentos comerciais e escolas adotada nos estados. Bolsonaro também defendeu o isolamento vertical, feito apenas pelo grupo de risco.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) chegou a dizer, nesta quarta (25), que o presidente se expressou mal ao se mostrar contra o isolamento e defendeu que o governo federal tem um posicionamento único de combate ao coronavírus. 

Uma reunião nesta quarta (25) do presidente com os governadores do Sudeste terminou em troca de farpas entre ele e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), e acabou trazendo à tona questões políticas envolvendo os dois. Dória apoiou Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2018, quando foi eleito governador, mas vem cada vez mais adotando uma postura de oposição ao presidente, e é inclusive cotado para disputar a Presidência da República em 2022. 

João Dória iniciou sua fala lamentando o que foi dito pelo presidente no pronunciamento na terça (24), o que foi endossado pelos demais governadores da região. "O senhor que é o presidente da República tem que dar o exemplo, e tem que ser o mandatário a dirigir, a comandar e liderar o país e não para dividir", disse o governador paulista.

Bolsonaro rebateu pedindo ao antigo aliado que saísse do palanque. “Subiu a sua cabeça a possibilidade de ser presidente do Brasil. Não tem responsabilidade. Não tem altura para criticar o governo federal”, disse Bolsonaro. ”Se você não atrapalhar, o Brasil vai decolar e conseguir sair da crise. Saia do palanque", completou o presidente.

Na manhã desta terça (24), em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro citou nominalmente Dória e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, criticando as medidas de isolamento adotadas por eles. "Alguns governadores, não todos, mas em especial os do Rio e de São Paulo, estão fazendo demagogia barata para esconder outros problemas", defendeu.

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As recentes declarações do presidente também causaram repúdio do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que anunciou nesta quarta (25) o rompimento com o governo Bolsonaro. "Não tem mais diálogo com este homem. As coisas têm que ter um ponto final ", disse Caiado em seu Twitter.

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