Reforçando o discurso que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem adotado em defesa do isolamento vertical, o Governo Federal lançou uma campanha publicitária chamando a população para voltar a trabalhar. As peças custaram R$ 4,8 milhões à União e foram produzidas sem lançamento de licitação, segundo publicação no Diário Oficial dessa quinta-feira (26). A empresa responsável é a iComunicação.
O discurso do Planalto vem sendo duramente criticado por Estados e municípios que impuseram restrições ao funcionamento de comércio e serviços durante avanço da pandemia do coronavírus. O governador Paulo Câmara (PSB) afirmou, em entrevista à Rádio Jornal nesta sexta-feira (27), que Bolsonaro "olha para o próprio umbigo e não olha para o povo". "População, tenha paciência, não é fácil, mas é um esforço em prol da vida. Peço que Governo Federal aja, veja os mais vulneráveis. Quero esforço mútuo, não fazer disputa."
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Uma publicação no Instagram da Secretaria de Comunicação (Secom) da quarta-feira (25) defende que são raros os casos de vítimas fatais pelo coronavírus.
"Portanto, é preciso proteger estas pessoas e todos os integrantes dos grupos de risco, com todo cuidado, carinho e respeito. Para estes, o isolamento. Para todos os demais, distanciamento, atenção redobrada e muita responsabilidade. Vamos, com cuidado e consciência, voltar à normalidade", fala.
O filho do presidente, Flávio Bolsonaro, publicou na noite dessa quinta-feira (26) um vídeo da campanha que reitera a mensagem.
Veja:
"Para os quase 40 milhões de trabalhadores autônomos, o Brasil não pode parar.
Para os ambulantes, engenheiros, feirantes, arquitetos, pedreiros, advogados, professores particulares e prestadores de serviço em geral, o Brasil não pode parar.
Para os comerciantes do bairro, para os lojistas do centro, para os empregados domésticos, para milhões de brasileiros, o Brasil não pode parar.
Para todas as empresas que estão paradas e que acabarão tendo que fechar as portas ou demitir funcionários, o Brasil não pode parar.
Para dezenas de milhões de brasileiros assalariados e suas famílias, seus filhos e seus netos, seus pais e seus avós, o Brasil não pode parar.
Para os milhões de pacientes das mais diversas doenças e os heroicos profissionais de saúde que deles cuidam, para os brasileiros contaminados com o coronavírus,para todos que dependem de atendimento e da chegada de remédios e equipamento, o Brasil não pode parar.
Para quem defende a vida dos brasileiros e as condições para que todos vivam com qualidade, saúde e dignidade, o Brasil definitivamente não pode parar"
Governadores criticam posicionamento de Bolsonaro
Em consonância com as normativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde (MS), os Estados têm usado a quarentena como medida de combate à disseminação do vírus.
Por conta do posicionamento contrário às recomendações das entidades de saúde, Bolsonaro está recebendo críticas de governadores, inclusive de antigos aliados.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), por exemplo, rompeu com o presidente publicamente na quarta-feira (25). "Na política e na vida, ignorância não é uma virtude", citou a frase do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama.
Os governadores João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC), de São Paulo e Rio de Janeiro, têm protagonizado atritos diretos com o presidente. Em videoconferência com Bolsonaro, também na quarta, os dois se manifestaram contra a atitude de Bolsonaro de minimizar a crise.
Nesta sexta, Paulo Câmara, de Pernambuco, pontuou que o Governo Federal não apresentou estratégia para o enfrentamento do problema.
"Politização é ruim. Estamos ouvindo quem entende e faz as recomendações para ficar em casa. Governo Federal não cuidou, não distribui equipamentos, não tem estratégia nacional. Qual o plano de verticalização? Não tem!", declarou. Olha pro próprio umbigo e não olha para o povo. Peço que Governo Federal aja, veja os mais vulneráveis. Quero esforço mútuo, não fazer disputa", declarou.
"O Governo (Federal) precisa de uma coordenação. A preocupação é o que faz com que a população fique inquieta e a gente tem que buscar formas para que a população fique em casa com garantia que não lhe faltar nada", disparou.
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