Pandemia

Bolsonaro diz que governadores têm 'campo livre' para atuar contra o coronavírus, mas não descarta interferência em decisões locais

O presidente da República também levantou suspeitas de que os números de mortes ocasionadas pela covid-19 em São Paulo, Estado governado por João Doria, seu adversário político, estariam sendo inflados

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 27/03/2020 às 18:26 | Atualizado em 27/03/2020 às 18:53
CAROLINA ANTUNES/PR
Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com máscara no queixo - FOTO: CAROLINA ANTUNES/PR

Em entrevista ao apresentador José Luiz Datena na tarde desta sexta-feira (27), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mais uma vez subiu o tom contra governadores e prefeitos ao defender a flexibilização do isolamento social promovido pelos governos locais para tentar frear a disseminação do novo coronavírus no País. Na ocasião, Bolsonaro reafirmou a autonomia dos gestores, mas não descartou interferir em decisões tomadas por eles, caso julgue necessário e tenha prerrogativa para tanto.

“Nós somos uma Federação, mas os governadores têm o campo livre pela frente. Se por acaso eles entrarem na esfera federal, eu tenho o Poder Judiciário para recorrer. Eu não posso chamar o governador e falar, 'olha, você não faça isso'. Por exemplo, decretos de alguns governadores e prefeitos fecharam quase 3 mil casas lotéricas em todo o Brasil. Como eu pude resolver isso? Baixando um decreto. Veio um ex-deputado do Rio Grande do sul falar comigo, na hora eu vi que ele tinha razão e nós incluímos em um decreto as casas lotéricas como serviço essencial”, declarou o presidente.

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Ao defender seu ponto de vista, Bolsonaro disse acreditar que os trabalhadores que possuem emprego devem retornar aos seus postos de trabalho e que a quarentena deve ser aplicada apenas para pessoas que estejam no grupo de risco para a doença, como idosos e pessoas com enfermidades preexistentes. “A minha posição sempre foi de que o povo tem que trabalhar. Quem toma conta de idoso é o filho e o neto. Deixa o vovô e a vovó em casa. Quem está desempregado e puder ficar em casa, fique em casa. Quem tem que trabalhar, vá trabalhar. Até porque o número de óbitos em pessoas com menos de 40 é muito pequeno e quando uma pessoa nessa faixa etária morre pelo coronavírus há uma relação com outra doença”, afirmou.

Suspeita de fraude

Na mesma semana em que protagonizou uma discussão acalorada com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), durante videoconferência com gestores de todos os estados, o presidente não poupou críticas ao tucano e chegou até a levantar suspeitas de que os dados das mortes decorrentes da covid-19 estariam sendo infladas no Estado administrado pelo adversário. “Tem um Estado aí que orientou, via decreto, que se não tiver uma causa concreta do óbito era para colocar coronavírus. A gente lamenta isso daí. Eu não quero polemizar com ninguém, não quero briga com números. Eu boto o pessoal para trabalhar com o que interessa. Eu digo, ‘procura saber, por Estado, quantas pessoas morreram de H1N1 até o momento’. No ano passado foram 700 pessoas, mais ou menos. Vai ter que ter uma pessoa que morreu esse ano disso daí. Se agora todo mundo morrer de coronavírus, quer dizer que o Estado está fraudando os números”, cravou.

Golpe

Perguntado se seria capaz de "dar um golpe e fechar o Brasil", o presidente afirmou que "quem quer dar o golpe jamais vai falar que quer dar". Bolsanaro completou sua resposta dizendo não ter tomado nenhuma medida contra a imprensa desde que assumiu o mandato e que já concedeu mais entrevistas do que seus antecessores no início da administração. "Estou quase na metade do segundo ano de mandato e, até aqui, não tomei nenhuma medida contra a imprensa brasileira, como o partido que tava lá atrás", pontuou.

Desavenças

Quando questionado como anda a sua relação com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), após o ex-aliado ter afirmado que rompeu com o presidente depois que ele fez um pronunciamento defendendo o fim do isolamento social, Bolsonaro afirmou não ter "nenhum problema" com o democrata e que é "um direito dele" se afastar. Sobre o fato de o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) ter dito que Bolsonaro "não se expressou da melhor forma" na fala à nação, o presidente limitou-se a dizer que o vice é "mais bronco" do que ele.

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