O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, anunciou sua demissão do governo federal, no final da manhã desta sexta-feira (24), após a decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar a diretoria-geral da Polícia Federal (PF). O comando da PF estava sendo ocupado por Maurício Valeixo, amigo e braço direito de Moro. Mas ele foi "exonerado a pedido", nesta manhã. Desde 2019, Bolsonaro já ameaçava trocar o comando da PF para, assim, ter controle maior sobre a atuação da polícia.
Moro abriu sua coletiva lamentando a realização da coletiva em meio à pandemia do novo coronavírus (covid-19). "Estamos passando por uma pandemia. Busquei evitar que isso acontecesse. Foi inevitável. Peço a compreensão pela circunstância".
Moro lembrou que teria carta branca para escolher cargos na PF sem interferência. "No fim de 2018, recebi convite de Bolsonaro, recém-eleito. Fui convidado a ser ministro da Justiça e Segurança Pública. Foi conversado que teríamos o compromisso com o combate à corrupção, crime organizado e criminalidade violenta. Foi-me prometido carta branca para nomear todos os assessores como a PRF e a PF", disse Moro nesta sexta.
"Não é uma questão do nome. Tem outros bons nomes para assumir o cargo de diretor-geral da PF. O grande problema da troca é uma violação de promessa que foi feita a mim, de carta branca. Não teria causa e seria uma interferência política na PF. Isso geraria um abalo de credibilidade. Não minha, mas minha também, e do governo. Geraria desorganização. Não aconteceu durante a Lava Jato, a despeito dos problemas de corrupção dos governos anteriores. O problema é que nas conversas com o presidente, havia intenção de trocar também superintendentes. Não só o diretor-geral. No Rio, em Pernambuco, sem que me fosse apresentado uma razão ou uma causa para essas substituições", disse o ex-ministro.
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Repercussão
Nas redes sociais, políticos e autoridades nacionais se posicionaram sobre a saída do agora ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública.
Fernando Haddad, ex-canditado à presidência do Brasil em 2018, falou sobre a ironia de Moro em reconhecer "a autonomia dada pelos governos petistas à Polícia Federal."
Trágica ironia: Moro é obrigado a reconhecer a autonomia dada pelos governos petistas à PF. Moro usou a PF para armar contra o Lula e pavimentar a vitória de Bolsonaro. Bolsonaro engoliu Moro e a PF. Centrão decide sustentar Bolsonaro e impedir afastamento.
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) April 24, 2020
O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), lamentou a saída de Moro e afirmou a importância dele para a história do país enquanto juiz da Lava Jato.
O Brasil perde muito com saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. Moro mudou a história do País ao comandar a Lava Jato e colocar dezenas de corruptos na cadeia. Deu sinal de grandeza ao deixar a magistratura, para se doar ainda mais ao nosso País como ministro.
— João Doria (@jdoriajr) April 24, 2020
Recentemente demitido do Governo Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde Luiz Mandetta parabenizou o trabalho do ex-juiz da Lava Jato.
O trabalho realizado sempre foi técnico.
— Henrique Mandetta (@lhmandetta) April 24, 2020
Durante a epidemia trabalhamos mais próximos, sempre pensando no bem comum.
Parabéns pelo trabalho Ministro @SF_Moro. O país agradece!
Outras lutas virão!
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) criticou a trajetória de Sérgio Moro enquanto juiz e também ministro. Ainda, afirmou que o ex-ministro "implodiu o Governo Bolsonaro."
São muitos os crimes da família Bolsonaro: milícia, defesa do AI-5, laranjal... Moro nunca ligou. Tolerou a corrupção e humilhações em nome de seu projeto pessoal de poder. Agora ele sairá do governo em nome de suas ambições políticas, não por um arroubo ético, que nunca teve.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) April 24, 2020
Moro implodiu o governo Bolsonaro. Afirmou que o presidente quer controlar a PF para deixar impunes os crimes da família e para atacar a Democracia e o Estado de Direito.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) April 24, 2020
O deputado federal Kim Kataguri, do partido Democratas, comentou sobre a saída de Moro, fazendo críticas ao Governo Federal.
Moro afirmando que nem durante governo petista houve tamanha interferência na PF. Compromisso de Bolsonaro não é com combate à corrupção, é em proteger a própria família e blindar seus novos aliados, parlamentares corruptos e fisiológicos.
— Kim Kataguiri (@kimpkat) April 24, 2020
Ex-candidato à presidência em 2018, pelo PSOL, Guilherme Boulos fez críticas à figura pública e disse que o legado deixado por Sérgio Moro é "um governo de milicianos". Além de afirmar que Moro "interferiu nas eleições a favor de Bolsonaro, virou ministro sabendo de Queiroz e da relação com milicianos e nunca disse um piu sobre a milícia digital".
Moro interferiu nas eleições a favor de Bolsonaro, virou ministro sabendo de Queiroz e da relação com milicianos e nunca disse um piu sobre a milícia digital de Carluxo. Não venha agora querer apresentar-se como traído. Seu projeto é tão asqueroso quanto o de Bolsonaro.
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) April 24, 2020
Outro candidato à presidência nas últimas eleições majoritárias, João Amoedo (NOVO) classificou a gestão de Bolsonaro como lamentável e disse ser inaceitável que o presidente da República "tente inferferir na autonomia da Polícia Federal e controlar investigações e obter informações privilegiadas". Em seguida, teceu elogios à atuação a Moro.
Sérgio Moro reafirmou ser um homem íntegro e comprometido com o combate à corrupção e ao crime organizado ao pedir demissão por não aceitar interferência política no Ministério da Justiça. Lamento a sua saída e desejo sucesso em suas próximas missões.
— João Amoêdo (@joaoamoedonovo) April 24, 2020
Janaína Pascoal, deputada estadual do PSL, lamentou a saída de Sérgio Moro. "O Ministro provou todo seu valor na Magistratura e também na Pasta", afirmou em tweet.
Por óbvio, pelo país, eu preferiria que o Ministro Moro ficasse. No entanto, compreendo suas razões e reitero meu incondicional apoio a ele. O Ministro provou todo seu valor na Magistratura e também na Pasta. Por breve período, o Brasil não teve um advogado do Presidente no MJ.
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) April 24, 2020
Deputada federal, Carla Zambelli (PSL), também sentiu pela saída de Sérgio Moro do governo e elogiou sua "conduta exemplar" enquanto cidadão, juiz e ministro.
Sinto muito pela saída de @SF_Moro do Governo.
— Carla Zambelli (@CarlaZambelli38) April 24, 2020
Não só por ser meu padrinho de casamento, mas principalmente pela sua conduta exemplar de cidadão, juiz e Ministro. Sempre terá minha profunda admiração, bem como a gratidão de todos os brasileiros de bem.
Obrigada, Moro! pic.twitter.com/1ULP6KLMjZ
A ex-vice candidatada, pelo PCdoB, da chapa com Fernando Haddad (PT), em 2018, Manuela D'ávila questionou o motivo da troca do comando Policia Federal que fez com que o ex-juiz da Lava Jato decidisse sair do cargo.
Eu sei que a tentação de falar sobre Moro é grande entre nós que sabemos quem ele é. Mas o assunto é a troca da PF. Por que Bolsonaro trocou? O que ele quer esconder? Afinal, só há a saída de Moro por conta disso.
— Manuela (@ManuelaDavila) April 24, 2020
A parlamentar Joice Hasselmann (PSL) provocou o Governo Bolsonaro após pronunciamento do então ex-ministro da Justiça.
Esperando a reação histérica dos Bolsominions, bolsogados e bolsoburros. Cadê os deputados da bancada do capacho q lambem as botas de JB, q sempre bateram bumbo para Moro para pegar uma beirinha de popularidade? Moro disse quem é @jairbolsonaro. E? Que silêncio barulhento, hein
— Joice Hasselmann (@joicehasselmann) April 24, 2020
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), comentou sobre Sérgio Moro admitir "mais uma ilegalidade" ao pedir pensão pensão para ganhar o cargo.
Moro, infelizmente, confessa mais uma ilegalidade: pediu pensão ou algo similar pra aceitar um cargo em comissão. Algo nunca antes visto na história. E tal condição foi aceita ? Não posso deixar de registrar o espanto.
— Flávio Dino ???????? (@FlavioDino) April 24, 2020
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou assistir "com tristeza" à demissão de Moro.
Assisto com tristeza ao pedido de demissão do meu ex-colega, o Juiz Federal Sergio Moro, cujos princípios adotamos em nossa vida profissional com uma missão: o combate ao crime. Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui, vossa excelência, tem carta branca sempre
— Wilson Witzel (@wilsonwitzel) April 24, 2020
Guru de Bolsonaro, o ideólogo Olavo de Carvalho afirmou que "a cultura política do juiz Moro foi sempre deficiente"
O vice-líder do governo na Câmara, deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), criticou a forma como o ministro pediu demissão. “Moro saiu, fomos pegos de surpresa. Ontem mesmo ele nos garantiu q não sairia. Para nós, base do governo, uma informação; para a extrema-imprensa, outra. Lamentável. E mais lamentável ainda a maneira como saiu. Enfim, o destino se encarregará de tudo. Vamos em frente!”, disse Jordy.
O deputado federal por Pernambuco, Daniel Coelho (Cidadania), ironizou "os que chamavam Moro de juiz ladrão" e ressaltou que já esperava a atitude do ex-ministro de não aceitar interferências na Polícia Federal.
Engraçado ver os que chamavam Moro de juiz ladrão, de canalha, agora exaltando cada palavra dele. Sempre confiei e confio em Moro. Não admitir qualquer interferência na PF era tudo que eu esperava dele. #SergioMoro
— Daniel Coelho (@DanielCoelho23) April 24, 2020
O líder nacional do PSDB, deputado federal Bruno Araújo, chamou atenção para o atual momento que o País está passando de enfrentamento à pandemia e o presidente da República "especializa-se em fabricar crises".
No meio da maior crise em 100 anos, Bolsonaro eapecializa-se em fabricar crises. Quem paga a conta, em muitos casos com a vida, são 210 milhões de brasileiros. Chega de fugir dos problemas, presidente!
— Bruno Araújo (@BrunoAraujo456) April 24, 2020
O deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos) afirmou que Moro cometeu excessos e "o erro faz parte da vida". "Entretanto, é impossível não reconhecer os relevantes serviços que ele prestou ao País. Hoje, o Governo Bolsonaro fica menor".
O senador Jarbas Vasconcelos criticou a "desqualificação" de Bolsonaro no cargo de presidente da República. "Esse cidadão não está à altura de comandar a nação e seus atos, além de nos envergonhar, causam repulsa. Ele segue trabalhando para que seus interesses políticos rasteiros prevaleçam, atestando assim que de fato atua sobre as sombras de crimes e condutas que certamente deseja esconder e manipular. A Polícia Federal, seu mais recente alvo, é instrumento valioso. Não pode ser alvo de leilão político", e reconheceu a coragem de Moro por denunciar os "graves atentados" do governo Bolsonaro.
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