Demissão

Crise entre Moro e Bolsonaro divide políticos pernambucanos de direita

Nomes que durante as últimas eleições aparentavam ter visões semelhantes quanto à condução do País, agora estão em lados opostos da trincheira

Gabriela Carvalho Renata Monteiro
Cadastrado por
Gabriela Carvalho
Renata Monteiro
Publicado em 27/04/2020 às 15:27 | Atualizado em 27/04/2020 às 16:42
Foto: Leo Motta/JC Imagem
Mendonça Filho diz que apoia o ex-ministro Sergio Moro - FOTO: Foto: Leo Motta/JC Imagem

O desembarque do ex-ministro Sérgio Moro do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que ocorreu na última sexta-feira (24), e a crise que sucedeu a demissão dividiram eleitores bolsonaristas entre os que ficaram ao lado do militar da reserva e aqueles que apoiaram a decisão do ex-juiz da Lava Jato. No meio político pernambucano não foi diferente. Nomes que durante as últimas eleições aparentavam ter visões semelhantes quanto à condução do País, agora estão em lados opostos da trincheira.

O ex-governador e ex-ministro Mendonça Filho (DEM), por exemplo, declarou voto em Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, mas, em meio às denúncias feitas por Moro ao entregar o cargo, diz apoiar o ex-juiz em sua decisão de deixar o Ministério da Justiça. “O Brasil, a sociedade e o governo perderam com a demissão do ministro Sergio Moro. Lamento muito que, no meio de uma pandemia com consequências sociais e econômicas gravíssimas, o país assista a uma sequência de decisões que contrariam os interesses do povo brasileiro. Manifesto minha solidariedade ao ministro Moro por tudo que ele representa: honestidade, coragem, combate ao crime organizado e à corrupção”, afirmou Mendonça, em publicação no seu perfil do Instagram.

Durante entrevista coletiva antes de entregar o cargo, Moro afirmou que estava tomando aquela atitude porque, entre outras coisas, o presidente estaria tentando interferir politicamente na Polícia Federal. Bolsonaro negou as acusações, mas o ex-ministro entregou ao Jornal Nacional, da TV Globo, registros de supostas mensagens que o presidente teria lhe enviado, o que comprovaria as denúncias.

>> 'PF não faz comunicação pessoal com o presidente', afirmam delegados a Bolsonaro

>> MBL pede o impeachment do presidente Jair Bolsonaro

>> Ministério Público Federal aponta interferência de Bolsonaro no Exército

>> Saída de Moro do governo Bolsonaro era única opção "eticamente aceitável", diz esposa do ex-ministro

Pré-candidata a prefeita do Recife, a delegada Patrícia Domingos (Pode) também optou por ficar ao lado de Moro, que foi um dos protagonistas da Operação Lava Jato. “Não é tarefa fácil combater os poderosos. É uma luta em sua grande parte, desigual. O que nós demonstramos hoje é que há, sim, esperança neste país. Há sim pessoas de bem que prezam pela justiça e fazem dela um instrumento para o bem comum. Que brigam sim, por cada centavo do dinheiro público. Que priorizam a liberdade de suas instituições”, comentou Patrícia, referindo-se ao pedido de demissão do então ministro.

'De olho em 2022'

Mas nem todos os apoiadores pernambucanos de Bolsonaro ficaram ao lado de Sergio Moro nesse momento de crise. Para o deputado estadual Joel da Harpa (PP), o modo como o ex-ministro desembarcou do governo demonstra que, na realidade, os olhos dele estão voltados para o pleito de 2022. “Eu acho que tudo o que está acontecendo é uma antecipação das eleições de 2022. Ficou mais do que provado que o ministro Sergio Moro, de forma natural, não acho que isso seja um crime, tem pretensões políticas. Eu só acho que, com essa pandemia, o momento escolhido por ele não foi muito bom. A saída do ministro foi um desfalque muito grande para o governo e uma perda para o país”, disse.

Deputado estadual e pré-candidato a prefeito do Recife, Alberto Feitosa (PSC) fez duras críticas ao pedido de demissão de Moro e à sua atuação no Ministério da Justiça. “Eu acho que ele escolheu muito mal o momento (para se demitir), pois a gente já vive uma crise econômica, uma crise de saúde muito grave no mundo todo, e não é hora de se colocar seus interesses pessoais, seus caprichos acima do Brasil. Hoje se constata que Moro era um bom magistrado, mas que ele foi um ministro que deixou a desejar, porque não tinha uma boa relação com o Congresso, com o Judiciário e nem mesmo com o Executivo”, disparou Feitosa.

Comentários

Últimas notícias