Exclusivo

"Não posso admitir que Bolsonaro me chame de mentiroso publicamente", diz Moro em entrevista à Veja

O ex-ministro também revelou que o 'combate à corrupção não é prioridade no governo' Bolsonaro, e que ele apresentará as provas ao STF

Douglas Hacknen
Cadastrado por
Douglas Hacknen
Publicado em 30/04/2020 às 22:41 | Atualizado em 30/04/2020 às 23:13
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Sérgio Moro é o ministro da Justiça e Segurança Pública - FOTO: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro disse, em entrevista concedida à revista Veja, que irá apresentar provas contra o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que "o combate à corrupção não é prioridade do governo" do mandatário. O ex-juiz saiu do governo no dia 24 de abril fazendo acusações contra o chefe do Executivo. Entre outras acusações, estava a que Bolsonaro tentou interferir indevidamente na atuação da Polícia Federal. “Eu apresentei aquelas mensagens. Não gostei de apresentá-las, é verdade, mas as apresentei única e exclusivamente porque no pronunciamento do presidente ele afirmou falsamente que eu estava mentindo. Embora eu tenha um grande respeito pelo presidente, não posso admitir que ele me chame de mentiroso publicamente", disse Moro na entrevista.

>> Ministro do STF dá 5 dias para Polícia Federal ouvir Moro sobre denúncia contra Bolsonaro

Segundo a revista Veja, o ex-chefe da pasta da Justiça revelou que a aproximação do governo com políticos "não tão positivo" e a demissão do diretor da Polícia Federal sem que ele tivesse sido comunicado foi a gota d'agua. "Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão. Começou com a transferência do Coaf para o Ministério da Economia. O governo não se movimentou para impedir a mudança. Depois, veio o projeto anticrime. O Ministério da Justiça trabalhou muito para que essa lei fosse aprovada, mas ela sofreu algumas modificações no Congresso que impactavam a capacidade das instituições de enfrentar a corrupção. Recordo que praticamente implorei ao presidente que vetasse a figura do juiz de garantias, mas não fui atendido. É bom ressaltar que o Executivo nunca negociou cargos em troca de apoio, porém, mais recentemente observei uma aproximação do governo com alguns políticos com histórico não tão positivo. E, por último, teve esse episódio da demissão do diretor da Polícia Federal sem o meu conhecimento. Foi a gota d’água”, afirmou Moro à revista.

Moro foi enfático ao informou, na reportagem de capa da Veja, que reitera "tudo o que disse no meu pronunciamento. Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar", confirmou. O ministro Celso de Mello abriu, na segunda-feira (27), um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar os fatos indicados.

"Ele (Bolsonaro) sabe quem está falando a verdade"

Sobre as acusações feitas pelo presidente, em pronunciamento oficial no mesmo dia da saída de Moro da pasta, ele falou que o presidente e ministros sabem quem está falando a verdade. "Ele (Bolsonaro) sabe quem está falando a verdade. Não só ele. Existem ministros dentro do governo que conhecem toda essa situação e sabem quem está falando a verdade. Por esse motivo, apresentei aquela mensagem, que era um indicativo de que eu dizia a verdade, e também apresentei a outra mensagem, que lamento muito, da deputada Carla Zambelli. O presidente havia dito uma inverdade de que meu objetivo era trocar a substituição do diretor da PF por uma vaga no Supremo. Eu jamais faria isso. Infelizmente, tive de revelar aquela mensagem para provar que estava dizendo a verdade, que não era eu que estava mentindo", afirmou Moro na entrevista.

Na entrevista à Veja, Moro ainda afirmou que nunca teve a intenção de ser algoz de Bolsonaro. “A opinião pública compreendeu o que eu disse e os motivos da minha fala. É importante deixar muito claro: nunca foi minha intenção ser algoz do presidente ou prejudicar o governo. Na verdade, lamentei extremamente o fato de ter de adotar essa posição. O que eu fiz e entendi que era minha obrigação foi sair do governo e explicar por que estava saindo. Essa é a verdade”.

Ataques contra sua esposa

Moro também afirmou que sua mulher, Rosângela Moro, vem sofrendo ataques constantes na internet e que eles têm medo de sofrer um atentado. “Atacaram minha esposa e estão confeccionando e divulgando dossiês contra ela com informações absolutamente falsas. Ela nunca fez nada de errado. Nem eu nem ela fizemos nada de errado. Esses mesmos métodos de intimidação foram usados lá trás, durante a Lava ­Jato, quando o investigado e processado era o ex-presidente Lula”, comparou.

O ex-ministro informou ainda que gosta de Bolsonaro e reconheceu o trabalho de alguns ministros, em especial o da Economia, Paulo Guedes. "Pessoalmente, gosto dele. No governo, acho que há vários ministros competentes e técnicos. O fato de eu ter saído do governo não implica qualquer demérito em relação a eles. Fico até triste porque considero vários deles pessoas competentes e qualificadas, em especial o ministro da Economia. Espero que o governo seja bem-sucedido. É o que o país espera, no fundo. Quem sabe a minha saída possa fomentar um compromisso maior do governo com o combate à corrupção", disse.

"Não tenho pretensão eleitoral"

Perguntado se pretende ingressar na política ou voltar para a magistratura, Moro descartou e informou que pretende encontrar um emprego no setor privado. "Minha posição sempre foi de sentido técnico. Vou continuar buscando realizar um trabalho técnico, agora no setor privado. Não tenho nenhuma pretensão eleitoral. Não me filiei a partido algum. Nunca foi meu plano. Estou num nível de trabalho intenso desde 2014. Quero folga. E não quero pensar em política neste momento".

 

Comentários

Últimas notícias