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"Recife e São Paulo são as nossas prioridades absolutas", diz presidente nacional do PSB sobre as eleições de 2020

Em entrevista ao JC, Carlos Siqueira também falou sobre campanhas partidárias, fusão com outras siglas e abertura para a filiação de aliados

Renata Monteiro
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Publicado em 18/07/2020 às 8:00 | Atualizado em 27/07/2020 às 16:30
HUMBERTO PRADERA/DIVULGAÇÃO
Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB - FOTO: HUMBERTO PRADERA/DIVULGAÇÃO

Engajado na divulgação de uma campanha partidária que promove a não violência como forma de resistência democrática, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, dá mais um passo na trilha pela qual tem conduzido a sigla desde a posse do presidente Jair Bolsonaro (sem partido): a da oposição ao governo federal. A iniciativa soma-se a outras, desenvolvidas em conjunto com outras agremiações, como o Janelas pela Democracia, que reúne, além dos socialistas, PDT, Rede Sustentabilidade, PV, Cidadania e, mais recentemente, PCdoB e PT, que até então resistia em entrar para o grupo. Juntos, esses partidos pedem o impeachment do capitão da reserva, mas, ao Jornal do Commercio, Siqueira admitiu que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que o afastamento mostre-se viável. Ele também disse que acredita no futuro desta frente de oposição para além do momento atual, defendendo, inclusive, a entrada de siglas de outros espectros políticos no coletivo.

Paralelamente a isso, Carlos Siqueira contou como tem lidado com questões típicas da vida de um dirigente partidário, como a organização da sigla para as eleições municipais deste ano. Ele disse que as candidaturas do Recife (João Campos) e São Paulo (Márcio França) são as prioridades da legenda e que não vê problemas em abrir mão do lançamento de postulantes em outras cidades, desde que isso fortaleça as campanhas das capitais. Sobre os rumores de que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), se filiaria ao partido para concorrer à Presidência em 2022, Siqueira foi enfático: “Ninguém ingressará (no PSB) candidato a nada”.

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JORNAL DO COMMERCIO - O PSB lançou, na última semana, a campanha “Não violência ativa - Paz, essa é a nossa bandeira”, que defende uma estratégia de resistência política e de defesa dos direitos sociais e da democracia baseada no pacifismo de líderes políticos históricos, como Nelson Mandela. O que levou o partido a criá-la?

CARLOS SIQUEIRA - A campanha foi criada por mim, quando percebi que na atual conjuntura política nacional esse discurso de ódio, essa defesa armamentista, o preconceito, toda natureza de sentimentos primitivos, afloraram de uma maneira sem precedentes no nosso País. E parte da população, inclusive eu, ficou muito chocada em ver que essas ideias saíram vitoriosas em uma campanha eleitoral. Mas, pensando nisso, cheguei à conclusão de que se esses sentimentos primitivos foram capazes, em determinado momento, de criar uma onda de energia negativa que circula por várias partes do mundo, inclusive no Brasil, vamos tentar nos cercar de ideias positivas, tendo como referências grandes ícones de um tipo de ação política que, a meu ver, foi completamente eficaz. Observe por exemplo o (ativista Mahatma) Gandhi. Ele foi a figura central do movimento pela independência da Índia, acabou sendo assassinado, mas a sua luta tornou seu objetivo possível. Aqui no Brasil tivemos Dom Helder Câmara, que defendia essa linha da não violência ativa também, lutava pelos direitos humanos, era um combatente da ditadura militar de 1964 e podemos dizer que também saiu vitorioso. Não é uma vitória completa, porque as vitórias nunca são completas, são sempre parciais, e as futuras gerações é que se encarregam de completá-la. (...) Essas figuras têm marcado a história com ideias muito positivas, generosas, e esse é um momento importante para divulgar isso através de um partido político.

JC - Há alguns dias o PT, que vinha se recusando a participar de movimentos suprapartidários de oposição ao presidente Jair Bolsonaro, aderiu ao Janelas da Democracia, iniciativa que reúne, além do PSB, partidos como o PDT e a Rede Sustentabilidade. Como anda a relação do PSB com os petistas?

SIQUEIRA - Inicialmente, o PT resistiu ao impeachment, mas acabou por aderir e fui eu que tive a iniciativa de, no grupo original, sugerir que o partido fosse convidado. Falei com a presidente Gleisi (Hoffmann) e ela aceitou na hora. O PCdoB espontaneamente também aderiu ao grupo e foi muito bom, estamos bastante satisfeitos, porque acho que essas lutas não podem ser de só um partido. Nós estamos em um momento tão difícil do ponto de vista político, econômico, social, humanitário, pandêmico, em que precisamos ampliar ao máximo as nossas forças políticas, para além da esquerda, inclusive, para que nós possamos vencer esse tempo de pandemia política também. Ficamos muito satisfeitos com a entrada do PT e do PCdoB no grupo, pois eles são nossos partidos-irmãos, filhos do mesmo campo político e, na medida do possível, se pudermos estar juntos, melhor.

JC - Em entrevista recente, o ex-presidente Lula (PT) disse que seria “impossível” a formação de uma ampla frente de esquerda no Brasil, pois isso não estaria na nossa cultura. O senhor acredita que o Janelas da Democracia tem fôlego para se manter unido enquanto frente política durante e após uma eleição?

SIQUEIRA - Eu tenho uma visão completamente diferente da do presidente Lula. Apesar do respeito que tenho por ele, tenho o criticado desde que ele deu essa declaração, porque a acho equivocada. Eu acho que os partidos de esquerda deveriam estar juntos inclusive nas eleições, mas não só nelas. E de certa maneira eles já estão, porque no Parlamento as legendas são muito unidas, as pautas são comuns entre os cinco partidos de esquerda. Muito raramente, em uma ou outra situação, se vota diferente desde o início do governo de Jair Bolsonaro. São forças políticas semelhantes, que precisam ter a compreensão da necessidade de criação de uma frente política. O que eu defendo é que quando houver, nas capitais e grandes cidades, um partido em situação melhor, os outros deveriam apoiar. Acho que essa seria a política mais responsável.

JC - Recentemente, muito se comentou a respeito de uma possível filiação do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), ao PSB. Essa possibilidade é real? Isto estaria relacionado com a candidatura de Dino à Presidência da República em 2022?

SIQUEIRA - O governador Flávio Dino é uma grande figura. Além de ser um bom governador, um bom político, é uma figura amiga nossa, de muitos méritos, e o recebemos três vezes na sede da nacional, em Brasília, entre 2019 e 2020. Na ocasião, eu percebi uma certa demonstração de apreço dele pelo PSB, havendo até a possibilidade de que ele, em um dado momento, pudesse entrar no partido. E ele sabe que se quisesse vir para o PSB seria muito bem-vindo. Sobre a candidatura presidencial, nós do PSB decidimos e estamos pondo em prática que não trataremos disso antes das eleições municipais. Há ainda o fato de que no PSB não há nunca candidato natural. Para você ter uma ideia, a candidatura do (ex-governador) Eduardo Campos foi muito debatida dentro do partido, ele não disse “vou ser candidato” e todo mundo bateu palma. Ela foi duramente conquistada numa discussão política árdua. E olhe que ele era o presidente nacional do partido e um homem que tinha um tremendo projeto político. E assim será com qualquer pessoa que ingressar no PSB. Ninguém ingressará candidato a nada, podendo ser candidato a qualquer cargo, inclusive a Presidente da República.

JC - Comenta-se muito também sobre uma possível fusão do PSB com o PCdoB. Isso está sendo de fato discutido?

SIQUEIRA - Isso é uma questão que tem que ser debatida. E essa não é uma discussão que se faça pelos jornais, ela tem que estar muito amadurecida internamente, porque todo processo de fusão é muito complicado, envolve muitos interesses, envolve muita responsabilidade e, no começo, muita discrição. Então não há essa discussão entre PSB e PCdoB ou qualquer outro partido.

JC - O nome do PSB para concorrer à sucessão do prefeito Geraldo Julio no Recife é o deputado federal João Campos. Este ano, devido à pandemia provocada pelo coronavírus, a campanha corpo a corpo estará comprometida e, além disso, o parlamentar deverá ser muito cobrado pela oposição por ações e investigações ligadas à atual gestão. Na sua opinião, isso pode afetar de alguma maneira o desempenho do parlamentar no pleito?

SIQUEIRA - O melhor candidato, com todo respeito aos demais, é o deputado João Campos, que embora seja muito jovem, tem demonstrado muita maturidade política. Eu considero ele muito preparado para disputar esse cargo. Estou seguro que ele é um candidato muitíssimo competitivo nessa eleição e acredito muito na sua vitória à Prefeitura do Recife. Penso que a gestão de Geraldo Julio, que está quase chegando aos oito anos, é muito exitosa, tanto no primeiro quanto no segundo mandato. E governar nesse momento, em uma situação tão difícil para o País, mostra que ele tem capacidade inclusive no enfrentamento dessa pandemia. Qual foi a capital que conseguiu construir sete hospitais de campanha para enfrentar a pandemia? Creio que, ao contrário de atrapalhar a candidatura de João, a gestão de Geraldo Julio vai ajudar, porque ele será um continuador, com as inovações necessárias a uma nova gestão, que nunca será igual a passada, mas é uma pessoa que será beneficiária de todo trabalho desenvolvido nesses oito anos de muita responsabilidade e serviço pelo Recife.

JC - Na última semana, o diretório municipal do PSB em Olinda veio a público para queixar-se se posicionamentos do presidente estadual da Sigla, Sileno Guedes. As reclamações seriam porque a Executiva Estadual não teria apoiado o candidato a prefeito escolhido pela instância municipal da agremiação. Em ano de eleições, creio que esse não é um fato isolado. Como o PSB tem se organizado internamente para sanar esse tipo de conflito?

SIQUEIRA - No partido nós já estabelecemos como prioridade absoluta as capitais, principalmente Recife e São Paulo. E para ter essa estratégia, não se pode considerar o cenário de maneira isolada. Se para viabilizar as alianças necessárias para a eleição do nosso candidato no Recife for necessário abrir mão de uma candidatura aqui ou ali em prol de um partido do campo progressista ou para um partido aliado nosso, mesmo que não seja do campo progressista, eu acho que a gente tem que ter a compreensão que as coisas não acontecem de uma maneira estanque, como se aqui fosse um PSB e ali, outro. Há um PSB só e uma estratégia só. Os companheiros devem entender isso como uma coisa natural, embora eu não condene nenhum protesto. Eu acho que a pessoas têm o direito de reclamar, mas precisam compreender que uma estratégia precisa ser levada adiante e isso não se faz para ficar no papel, se faz para levar às últimas consequências e nós levaremos.

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