Governo Bolsonaro

Nova postura de Bolsonaro tem tudo a ver com o ingresso do Centrão no governo, diz Antonio Lavareda

Cientista político Antonio Lavareda atribuiu o ingresso dos partidos do chamado Centrão no governo federal como um dos fatores que determinaram a mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro

Luisa Farias
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Luisa Farias
Publicado em 23/07/2020 às 11:05 | Atualizado em 23/07/2020 às 11:12
ALAN SANTOS/PR
O nomo ministro do recriado Ministério das Comunicações, Fábio Farra, é um dos atores do novo direcionamento do governo de Jair Bolsonaro, segundo Lavareda - FOTO: ALAN SANTOS/PR

Em entrevista ao programa Passando a Limpo da Rádio Jornal, o cientista político Antonio Lavareda atribuiu como um dos principais fatores que motivaram a nova postura adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - de menos embates entre os poderes e a busca por projetos na área assistencialista - o ingresso de partidos do chamado Centrão no governo. 

"A sensibilidade dos políticos dos partidos que compõem o chamado Centrão, estamos falando de
PSD, MDB, PP, boa parte dessa bancada extraída eleitoralmente em estados do Nordeste e Centro-Oeste, apontou para o governo que políticas públicas que se aproximassem mais da população de baixa renda que também é base desses governos iriam favorecer o governo a curto e longo prazo, sob a perspectiva
de 2022", pontuou.

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Segundo ele, a tentativa de utilizar recursos do novo Fundeb em um programa de creches, ainda que não tenha obtido sucesso, é um dos fatos que corroboram com a tese. "Foi um cálculo político dado a um grande ou expressivo retorno eleitoral também corroboram isso. Esse movimento tem a ver com o grau de sensibilidade política maior do governo que surgiu em decorrência dessa aliança com o Centrão", disse. 

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Lavareda cita algumas mudanças no Executivo, sobretudo em relação a comunicação, que também corroboram para esse novo direcionamento, como o fato do presidente evitar, há algum tempo, as entrevistas e pronunciamentos que costumava dar diariamente na frente do Palácio da Alvorada. "Eram um prato cheio para a exploração da imprensa, exploração no sentido de divulgação, e exploração política por parte da oposição. Sistematicamente o presidente abria novas frentes de conflito a cada declaração que dava na entrada e saída do Alvorada", disse. 

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O cientista político aponta também como exemplo a nomeação do deputado federal pelo Rio Grande do Norte, Fábio Faria, genro de Silvio Santos, como ministro da recriada pasta das Comunicações. "Note-se a última campanha publicitária, que está no ar nomomento que inclusive faz a defesa de uma postura de maior precaução em relação ao coronavírus e prega ainda que indiretamente o uso das máscarasque o presidente tão desdenhava. Houve gestos em relação aos outros poderes. Lembrar que os principais ministros militares foram conversar com o ministro Toffoli, Gilmar, eram gestos. Paulo Guedes se reaproximou de Rodrigo Maia", citou o cientista político.

Presidencialismo de coalização

Para Antonio Lavareda, o presidente cedeu ao presidencialismo de coalização, configuração que é inevitável no cenário de multipartidarismo no Brasil. "O ministro Onyx (ex-ministro da Casa Civil e atualmente titular da Cidadania) incentivava essa postura do presidente, mas não era só ele, alguns ministros militares no entorno seguiam essa toada, havia uma falsa impressão de que o governo poderia exercer todo o mandato e implementar as políticas públicas sem cumprir as necessidade de articulação do chamado de presidencialismo de coalização, ou seja, sem uma base de apoio nítida, um suporte efetivo. Mas não existe isso. O presidencialismo com multipartidarismo ou você tem presidencialismo de coalização ou você tem um projeto autoritário", afirmou. 

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