As restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus serão decisivas para a definição das estratégias de campanha. Com as movimentações nas ruas e o corpo a corpo com o eleitor limitados, a propaganda no rádio e na televisão assiste sua relevância voltar a crescer para a disputa de novembro, apontam especialistas. O guia eleitoral começa oficialmente na sexta-feira (9), indo até três dias antes da votação, marcada para 15 de novembro. A influência sobre o eleitorado, contudo, a exemplo de 2018, deve ser dividida com as redes sociais e, por isso, a eficácia da campanha depende do uso coordenado de estratégias.
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“Alguns anos atrás, ele (o guia eleitoral) era o único meio por onde a população poderia acompanhar e se informar sobre os candidatos. Com o advento das redes sociais isso mudou um pouco e agora, há formas alternativas para isso”, afirma o cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Antonio Henrique Lucena.
Ele porém ressalta, que esse tipo de mídia não perdeu seu valor e tende a receber mais atenção nestas eleições. "Com mais tempo em casa, por causa da pandemia, ninguém consegue ficar o tempo todo só na exposição das redes sociais, também fica sob exposição da TV. Por isso, os programas de televisão continuam sendo uma variável importante no processo eleitoral", analisa
O estrategista eleitoral Maurício Romão faz avaliação parecida. “Mesmo nesta era digital a TV aberta continuará importante, principalmente agora com o afastamento social causado pela pandemia. O guia eleitoral terá o seu papel de destaque. A TV é veículo de massa. Alcança milhares e milhares de eleitores, incluindo os que se encontram nos mais distantes e inacessíveis rincões”, pontua ele, lembrando que apenas um pouco mais de 60% da população brasileira têm acesso à Internet. “A desigualdade social e econômica característica do país mostra também sua perversa face na distribuição de acesso às redes digitais”, completa.
União de guia e redes sociais
Por isso, Antonio Henrique Lucena defende que será fundamental para as eleições 2020 aliar as campanhas na televisão e no rádio com aquela feita nas redes sociais. "São dois campos diferentes de comunicação com o eleitor. Na internet, é possível chegar mais próximo e falar para nichos mais específicos, enquanto na TV é preciso tentar criar uma peça que encante a todos", destaca.
“É preciso contextualizar o alcance do guia eleitoral em conjunção com as redes sociais. Ambos, por conta do afastamento social, de um lado, e do avanço tecnológico, de outro, serão mais relevantes do que foram no passado”, diz Romão.
O movimento a ser observado durante esta campanha eleitoral pode ser decisivo para o entendimento como a comunicação política deve se comportar nos próximos anos e como o protagonismo para ser dividido entre a campanha feita na internet e a propaganda eleitoral no rádio e TV.
A propaganda eleitoral de rádio e TV se divide em duas modalidades. A primeira trata-se do horário eleitoral gratuito, que consiste em blocos de dez minutos transmitidos duas vezes por dia, de segunda a sábado. Já a outra refere-se às inserções da propaganda dos candidatos durante as programações, para elas são reservados 70 minutos ao longo do dia, inclusive aos domingos. Elas são distribuídas das 5h às 23h59.
Diante da multiplicidade de modos de consumo, as inserções, aliás, são apontadas por alguns especialistas como a forma de propaganda mais eficaz em rádio e televisão. "Nas inserções, a comunicação ao eleitor se faz de surpresa, de repente, misturando-se momentaneamente à programação que o eleitor está vendo ou ouvindo", cita Maurício Romão.
"A inserção é uma exposição repentina. O eleitor não está pronto para aquilo, está no meio de uma programação que quer ver. É mais fácil ele assistir, porque ele está aguardando, talvez, um capítulo decisivo da novela e, se mudar, pode perdê-lo", argumenta Antonio Henrique Lucena.
Para serem efetivas, porém, cientista político e professor da UFPE Arthur Leandro afirma que as estratégias de comunicação devem estar bem definidas, já que o tempo de propaganda é mais limitado. "Requer um trabalho de pesquisa minucioso, para transmitir o posicionamento da candidatura. Assim, o guia deve ser pensado para dar maior expressividade ao potencial da candidatura", ressalta o especialista.
Tempo dos candidatos
As alianças políticas para a disputa pela Prefeitura do Recife, além da acomodação das forças políticas aliadas, também determinam o tempo que cada candidato irá dispor para a propaganda em rádio e televisão. Para isso, leva-se em consideração o tamanho dos seis maiores partidos da coligação na Câmara Federal. No Recife, os líderes da Ibope/JC/Rede Globo, João Campos (PSB) e Mendonça Filho (DEM), ocupam mais de 60% do guia eleitoral.
Candidato da situação, o deputado federal João Campos, agregou o maior número de partidos na coligação. Além do PSB, estão ao lado do parlamentar dos partidos PDT, PCdoB, MDB, PSD, Rede, PV, PROS, Avante, Republicanos, PP e Solidariedade. Com isso, ele terá o maior tempo tanto no horário eleitoral gratuito como nas inserções de propaganda eleitoral feitas ao longo das programações.
Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), o socialista ficará com cerca de 39,7% do tempo distribuído entre os candidatos. Ou seja, três minutos e 57 segundos. A diferença dele para o ex-governador Mendonça Filho (DEM), que possui o segundo maior tempo de TV e rádio na disputa da Capital, é de quase 18,6 pontos percentuais.
O arco de aliança do democrata inclui, além do DEM, PL, PTB e PSDB. Dessa forma, ele acabou ficando com 21,11% do total, o que representa dois minutos e 26 segundos. Logo abaixo, vem Marília Arraes (PT), com 13,9% do tempo ou um minuto e 23 segundos, Carlos (PSL), com 11,56%. Isto é um minuto e nove segundo. Já a Delegada Patrícia (Podemos), com 6,2%. O Podemos formou coligação com o Cidadania, O PT, com o PSOL, PTC e PMB. O PSL, por sua vez, entrou com chapa pura na disputa.
Os candidatos Coronel Alberto Feitosa (PSC), com 28 segundos de propaganda, e Charbel (Novo), com apenas 17 segundos, terão, somados, 7,54% do total do tempo de propaganda em TV e rádio na capital pernambucana.
Por seus partidos e coligados não possuírem representação na Câmara Federal, Marco Aurélio (PRTB), Cláudia Ribeiro (PSTU), Thiago Santos (UP) e Victor Assis (PCO) não têm direito a tempo de televisão.
Campanha na TV e rádio
João Campos (PSB)
Tempo do guia: 3 minutos e 57 segundos
Tempo de inserções diárias: 16 minutos e 38 segundos
Maiores partidos da coligação: PSB, PSD, PP, MDB, PDT, Republicanos
Nº de deputados: 197
Mendonça Filho (DEM)
Tempo do guia: 2 minutos e 6 segundos
Tempo de inserções diárias: 8 minutos e 49 segundos
Maiores partidos da coligação: DEM, PTB, PL, PSDB
Nº de deputados: 101
Marília Arraes (PT)
Tempo do guia: 1 minuto e 23 segundos
Tempo de inserções diárias: 5 minutos e 48 segundos
Maiores partidos da coligação: PT, PSOL
Nº de deputados: 64
Carlos (PSL)
Tempo do guia: 1 minuto e 9 segundos
Tempo de inserções diárias: 4 minutos 50 segundos
Sem coligação
Nº de deputados: 52
Delegada Patrícia (PODE)
Tempo do guia: 37 segundos
Nº de inserções diárias: 02 minutos e 38 segundos
Maiores partidos da coligação: PODE, Cidadania
Nº de deputados: 25
Coronel Feitosa (PSC)
Tempo do guia: 28 segundos
Nº de inserções diárias: 1 minuto e 59 segundos
Maiores partidos da coligação: PSC, Patriota
Nº de deputados: 17
Charbel (NOVO)
Tempo do guia: 17 segundos
Tempo de inserções diárias: 1 minuto e 15 segundos
Sem coligação
Nº de deputados: 8
Por não terem representantes na Câmara dos Deputados, PRTB, UP, PSTU e PCO não têm direito à propaganda gratuita na TV e rádio
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