Eleições 2020

Campanha eleitoral recifense chega ao fim deixando a sensação de que retornará para um 2º turno

Pesquisas realizadas durante todo o período pré-votação indicam que a eleição na capital pernambucana não se encerrará neste domingo

JC
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Publicado em 13/11/2020 às 18:19 | Atualizado em 13/11/2020 às 20:51
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Candidatos à Prefeitura do Recife - FOTO: JC

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Eleições 2020 - .

Curta, realizada em meio a uma pandemia e com o maior número de candidatos majoritários dos últimos 20 anos, a campanha eleitoral recifense de 2020 chega ao fim neste sábado (14) com a sensação de que retornará - um pouco menor - já na segunda-feira (16), desta vez contando apenas com os dois candidatos mais lembrados pelos eleitores durante a votação do domingo (15). Nos últimos 45 dias, vimos que apesar da alta desaprovação do prefeito Geraldo Julio (PSB), atestada por quatro rodadas da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, o candidato socialista à sucessão, João Campos, conseguiu manter a preferência do eleitorado, enquanto o segundo lugar é disputado por Marília Arraes (PT), Mendonça Filho (DEM) e Delegada Patrícia (Pode). Os outros sete postulantes não contabilizaram mais do que 2% das intenções de voto nos levantamentos.

Ao comentar o cenário, a cientista política Priscila Lapa, da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), chama atenção para o fato de que a campanha municipal deste ano, apesar de apontar para uma fadiga com relação às gestões do PSB no Recife, não conseguiu canalizar a simpatia do eleitor de maneira maciça para um candidato de oposição. “Ao mesmo tempo em que temos um sentimento de mudança, de cansaço do eleitor, o candidato governista manteve-se na dianteira em todas as rodadas de pesquisas. Podemos entender, portanto, que esse sentimento de mudança não foi até o momento canalizado para nenhum dos candidatos majoritariamente, não houve a reprodução da polarização vivenciada em 2018, não houve a ideologização do pleito, mas pode ser que isso ocorra de forma mais expressiva no segundo turno, se houver”, explicou.

O tom nacionalizado, ainda que não tenha sido centralizado na disputa pela majoritária municipal, não deixou de permear principalmente as candidaturas do campo do centro-direita. Mas, para além disso e da polarização entre os espectros políticos, a fragmentação dos partidos foi outro fato que chamou atenção nesta eleição.

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Para o historiador e cientista político Alex Ribeiro, no caso das candidaturas de Marília Arraes, que teve apoio do líder mor do PT, o ex-presidente Lula, e da Delegada Patrícia, com o recém declarado apoio do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), esses reforços ainda não teriam trazido mudanças significativas para o pleito da capital.

“O cenário local hoje se encontra em dois blocos. O primeiro, com os partidos considerados de esquerda. João Campos está no segundo turno, e só uma reviravolta o tiraria desse cenário. Depois vem Marília, que apesar de ter oscilado no início da disputa, se encontra em segundo lugar de uma curva de crescimento”, avaliou Ribeiro. Sobre o segundo bloco citado pelo docente, ele avalia a questão do voto útil.

“Mendonça Filho e Patrícia Domingos são os principais competidores na disputa pelos votos deste grupo. No entanto, se o voto útil deste segmento não ocorrer para nenhum dos dois postulantes, a chance de um deles chegar ao segundo turno diminui consideravelmente”, pontua.

Ainda dentro desse recorte em cima do tom das campanhas, os especialistas consultados pelo JC ressaltam alguns pontos aquém das avaliações no início na corrida eleitoral. O cientista político e professor da Asces/Unita, Vanuccio Pimentel, cita a questão da fadiga do PSB, e que por isso o desempenho do candidato socialista não surpreendeu como o esperado. “Há um enfraquecimento da legenda no Recife e penso que a estratégia de utilizar a juventude de João Campos vem para dar a ideia de renovação do PSB, e para superar o vácuo pós Eduardo Campos, que era uma liderança muito grande no partido”, afirmou.

Por outro lado, o docente enxerga que a candidatura de Marília Arraes foi a que absorveu melhor uma parte do eleitorado que poderia votar no PSB. Sobre o campo da direita, a dissolução de forças entre os candidatos também foi um fator novo. “Até certo ponto imaginávamos que alguns candidatos teriam mais sucesso em capitalizar os votos da centro-direita, mas que acabaram se dispersando muito”, declarou Pimentel, referindo-se à disputa entre Mendonça e Patrícia, mais evidente nesta reta final.

Ainda segundo o cientista político, as declarações polêmicas feitas pela candidata do Podemos em seu perfil no Facebook podem ter atrapalhado a imagem positiva que vinha sendo construída no início da campanha. A delegada, que tem se colocado como um elemento novo, não político e a única capaz de derrotar o PSB e o PT, tenta agora alavancar essa imagem com a presença de Bolsonaro. “A expectativa para o domingo seria saber se a delegada passará Mendonça ou ficará atrás. Está tudo muito embolado entre os candidatos de centro-direita. E se Marília vai se consolidar de fato como a segunda colocada. Se tivermos alguma surpresa, será nesse miolo. Não acho que teríamos alguma surpresa com relação a João”, afirmou Vanuccio Pimentel.

A VISÃO DOS CANDIDATOS

Ao fazer um balanço da sua primeira campanha majoritária, João Campos ressalta que tentou abrir um caminho de diálogo com os recifenses, sempre apresentando propostas para melhorar a qualidade de vida da população. "A eleição é um dos mais importantes símbolos do que a democracia representa. Uma oportunidade concreta de decidir sobre o futuro, apontar o caminho que se quer para o lugar onde vivemos. Nesta campanha, procuramos sempre estar à altura deste momento tão especial, fazendo uma campanha propositiva, pautada pelo diálogo, ouvindo os moradores de tantas localidades, diferentes segmentos sociais, entidades, representações de setores", declarou o socialista.

"Apresentamos um projeto de cidade que dialoga com o futuro, que deve ser construído com menos desigualdade e com mais direitos. Principalmente o direito a uma vida digna, em que as pessoas tenham condições de sonhar e realizar. E tenham acesso a serviços públicos de qualidade. Foi assim que nos colocamos à disposição dos recifenses, para fazermos, juntos, nossa cidade largar na frente, em um novo tempo que começa", completou João.

Marília Arraes, por sua vez, disse ter a sensação de que os recifenses estão em busca de mudança e se identificaram com as ideias expostas no programa de governo petista. "A campanha deste ano deixou claro que os recifenses querem uma mudança no rumo da cidade, que estão cansados da gestão do PSB que não investe em políticas públicas básicas. Desde o começo da campanha, percebi esse sentimento de mudança das pessoas, que foram se identificando com o nosso programa de governo, o Recife Cidade Inteligente. A nossa campanha foi a única propositiva, com propostas reais e que irão mudar a vida das pessoas. A cada porta a porta, caminhada, visita a um bairro, sentimos que a nossa campanha só faz crescer. E isso ficou nítido nas pesquisas. Estou muito empolgada e confiante", declarou a candidata, por nota.

Única entre os candidatos melhor pontuados nas pesquisas de intenção de voto publicadas até o momento que nunca disputou uma eleição, a Delegada Patrícia tem comemorado “o carinho” que vem recebendo em suas agendas na cidade. “Fizemos uma campanha linda. Leve, para cima, bem humorada. Com alegria. Recebemos o carinho das pessoas em todos os bairros que fomos. No domingo, esperamos que o clima de mudança que sentimos nas ruas da cidade se reflita nas urnas. Temos um compromisso firmado com o povo do Recife. Nossa gestão terá zelo com o recurso público. Nossa missão será fiscalizar cada centavo do dinheiro dos impostos pagos pelo cidadão da nossa cidade”, observou a policial.

Já Mendonça Filho disse estar confiante da sua chegada no segundo turno. "As pessoas não acreditaram, subestimara nossa capacidade de trabalho, nossa articulação política, nossa, sintonia com a cidade. Apresentamos boas ideias, boas propostas", pontuou o democrata. Ao longo de toda a sua campanha, Mendonça tem se colocado como a alternativa para acabar com a "hegemonia de 20 anos de PT e PSB" na capital pernambucana. "Recife hoje é uma cidade muito maltratada e a gente vai e o povo nos uniu e sintonizou conosco e a gente vai mudar", completou. 

PESQUISA

Neste sábado, será divulgada a última rodada da pesquisa Ibope encomendada pelo JC e pela Rede Globo antes do primeiro turno das eleições municipais deste ano. Para este levantamento, profissionais da instituição estão fazendo 1106 entrevistas desde o último domingo (8) nas ruas do Recife e devem seguir com a apuração até poucas horas antes da divulgação dos dados.

A margem de erro estimada nesta rodada segue os estudos anteriores, de três pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral com o número PR-07456/2020.

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