Apesar de ter elegido a maior quantidade de prefeitos em Pernambuco nas eleições deste ano, o PSB viu sua hegemonia no Estado diminuir consideravelmente. No último domingo (15), a legenda socialista conquistou 52 prefeituras, 18 a menos que em 2016, quando foi realizada a primeira disputa após a morte do ex-governador Eduardo Campos, que mesmo in memoriam foi o principal cabo eleitoral de muitos dos eleitos. A queda de uma eleição para outra é de aproximadamente 26%. Contudo, o número de prefeituras governadas pelo PSB a partir de 2021 ainda pode aumentar. Isso porque o partido está no segundo turno no Recife, com João Campos, e no Paulista, com Francisco Padilha.
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Na avaliação da cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho) Priscila Lapa, a diminuição da capilaridade do PSB pelas prefeituras de Pernambuco ocorre porque, ao longo dos anos, os socialistas vêm perdendo força política, com o desgaste de estar à frente do governo estadual e não conseguir manter dentro da coalizão do governo todos os partidos que anteriormente compuseram a aliança. “Esse desgaste é natural, principalmente quando se enfrenta um ciclo de recessão econômica e quando há mudanças da orientação política em âmbito nacional. Novas forças surgem e ganham protagonismo, forçando a desconcentração de poder”, explica Lapa.
O partido, cujo vice-presidente nacional é o governador Paulo Câmara, tem interesse direto nos resultados municipais porque vai precisar do maior número possível de aliados para tocar o seu projeto em 2022. Nos bastidores, os nomes mais ventilados para a disputa pelo comando do Palácio do Campo das Princesas são o do atual prefeito do Recife, Geraldo Julio, e da ministra do TCU Ana Arraes. O gestor da capital pernambucana, no entanto, pode ter os planos frustrados devido à má avaliação que deve ter ao deixar o governo.
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“O maior desafio posto hoje para o PSB é que o partido não perca a Prefeitura do Recife. Isso porque a administração da capital pernambucana é a pedra angular para os socialistas poderem lançar um nome ao governo estadual na próxima eleição. Se o PSB perde o Recife, o custo para manter seu arco de alianças vai ficar altíssimo e, de quebra, terá grande chance de ver sua hegemonia ser quebrada”, afirma o cientista político e professor da UFPE Ernani Carvalho.
A busca por um palanque robusto para o PSB daqui a dois anos somada à necessidade de ampliar o leque de apoios à candidatura de João Campos, no Recife, forçou os socialistas a abrirem mão de disputas em diversos municípios pelo Estado. Em algumas dessas cidades, filiados ao PSB que queriam ser candidatos foram inviabilizados para dar vez a partidos aliados. Houve quem, como Cristiane Moneta, que concorreu à Prefeitura de Abreu e Lima, peitasse a cúpula socialista e recorresse à Justiça para garantir a candidatura. Lá, os socialistas queriam apoiar Flávio Gadelha (PSL), que terminou a corrida eleitoral como vencedor.
Oposição também perdeu espaço
Legendas de oposição como o PSDB e PTB também sofreram um baque nas urnas. Os petebistas, que por duas eleições seguidas foram os principais adversários do PSB estadualmente, viram os governos municipais sob sua batuta sair de 17 em 2016 para apenas seis neste ano. O tamanho, porém, pode ser ainda menor, visto que Sávio, candidato do partido em Tuparetama, está sub judice e pode ter a votação anulada. Já os tucanos elegeram somente cinco prefeitos em 2020. Há quatro anos, a legenda que já governou o Brasil tinha alçado 13 filiados ao comando de prefeituras em Pernambuco. Em contrapartida, a sigla, presidida nacionalmente pelo pernambucano Bruno Araújo, reelegeu a prefeita Raquel Lyra em Caruaru, maior cidade do interior, ainda no primeiro turno e com uma expressiva votação. DEM e PL, que também fazem oposição ao PSB, elegeram 10 prefeitos cada um.
“Acredito que essas duas legendas padecem da falta de material político, recursos políticos, em razão de estarem afastadas do poder há alguns ciclos eleitorais no estado e agora tb não terem a interlocução com o Governo Federal neste momento. Nesse cenário, outras legendas vão ocupando esses espaços. A oposição deve buscar novos núcleos de poder para se fortalecer para 2022, mas não necessariamente esses partidos estarão de fora”, pontua Priscila Lapa.
Do lado governista, o PSD perdeu três prefeituras, mas é o quarto partido com mais conquistas, são 14. Já o PP do deputado federal Eduardo da Fonte seguiu caminho inverso e quadruplicou o arco de prefeituras governadas pela legenda. Em 2016, quatro pepistas foram eleitos prefeitos em Pernambuco. Neste ano, o número chegou a 16 e pode ser ampliado, em virtude de candidatos eleitos sub judice. Neoaliado dos socialistas, o Republicanos, antigo PRB, foi o partido que, proporcionalmente, mais cresceu no Estado. A agremiação deu um salto do zero e, a partir de 2021, governará 14 municípios. O Avante (ex-PTdoB) conquistou 10 prefeituras nas eleições do último domingo.
“Será um desafio gigante manter o PSB como o grande protagonista dessa frente política. A maior parte das legendas já começa a ter suas próprias lideranças e não faz mais sentido para elas estar abrigada sob o poder socialista”, diz Lapa. “É preciso, talvez, uma nova costura política que envolva cenários nacionais”, completa.
Segundo partido com mais prefeitos eleitos em Pernambuco, o MDB terá 21 prefeitos em Pernambuco a partir do próximo ano. A legenda é oficialmente governista, mas uma de suas lideranças mais importantes, o senador Fernando Bezerra Coelho, é ferrenha opositora do PSB. Dentro do partido, o líder do governo Bolsonaro teve a maior vitória entre as grandes cidades pernambucanas. Seu filho, Miguel Coelho, foi reeleito prefeito de Petrolina com 76% dos votos. Essa força eleitoral de FBC e seu clã pode ser decisiva para o futuro da legenda em 2022, segundo aponta o cientista política e professor da Asces-Unita Vanuccio Pimentel.
“A vitória de Miguel reforça o desejo dos Coelho em ter um espaço estadual de destaque. Ainda é difícil saber como isso afeta a disputa de 2022, porque o MDB pode ser oposição ou situação, e ainda por cima sempre as disputas são judicializadas. Mas é evidente que reforça o peso da família na disputa estadual”, avalia o especialista.
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