AMEAÇA

Após DEM abandonar Baleia Rossi, Maia diz que pode aceitar pedido de impeachment contra Bolsonaro

Políticos que visitavam Maia teriam aconselhado ele a autorizar não apenas um, mas todos os pedidos de impedimento que estão travados na Casa

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Marcelo Aprígio

Publicado em 31/01/2021 às 23:38 | Atualizado em 31/01/2021 às 23:51
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O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a ameaçar abrir um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A declaração teria sido feita na noite deste domingo (31), após o presidente do DEM, ACM Neto, comunicar a Maia que a legenda desembarcará da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à sucessão do democrata. As informações são da colunista Natuza Nery, do portal G1.

A reação de Maia foi presenciada por líderes e presidentes de partidos durante uma reunião tensa na casa do deputado.No encontro, o ex-prefeito de Salvador teria informado a Maiae aos demais que 16 deputados doDEMdecidiram votar em Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara. Com isso,restaria apenas 15 deputados democratas para votar em Baleia, que por sua vez tem o apoio expresso de Maia.

Diante da notícia reportada por ACM Neto, o presidente da Câmara teria afirmado não haver outra alternativa a não ser aceitar um dos pedidos de impeachment contra o chefe do Poder Executivo Nacional. Pela Constituição, cabe ao presidente da Câmara decidir, de forma monocrática, se autoriza ou não a abertura de um processo de impeachment contra o presidente da República. O impeachment só é autorizado a ser aberto com aval de pelo menos dois terços dos deputados (342 de 513). Após a abertura, pelo Senado, o presidente é afastado do cargo.

Sabendo do que diz a legislação, políticos que participavam do encontro teriam aconselhado Maia a autorizar não apenas um, mas todos os pedidos de impedimento que estão travados na Casa. Assim, ainda que esses pedidos não seguissem adiante, o desgaste para barrar cada um deles no Plenário seria significativo, segundo apostam parlamentares experientes.

Reação da esquerda

Líderes de partidos de centro-esquerda, como PT e PDT, estavam na reunião e prometeram engrossar a reação ao lado de Maia. De acordo com participantes do encontro, os políticos teriam afirmado que, se o DEM desembarcasse do apoio a Baleia, teriam que retirar apoio ao candidato do DEM ao comando do Senado, Rodrigo Pacheco (MG).

Se este cenário se concretizar, a candidatura de Pacheco sairia zona de conforto e passaria a correr um risco que atualmente não corre. ACM Neto ouviu todas as reações e deixou a residência oficial do presidente da Câmara para reunir o comando do partido.

Outras ameaças

Três políticos próximos a Maia confirmaram ao jornal Folha de S.Paulo que o democrata teria ameaçado durante a última semana dar prosseguimento ao pedido de impedimento do chefe do Executivo federal. Além dos aliados, outro parlamentar afirma ter ouvido essa informação do coordenador político do governo, o ministro-general Luiz Eduardo Ramos. Maia, no entanto, negou, que tenha ameaçado abrir um processo de impeachment contra Bolsonaro durante conversa por telefone com o titular da Secretaria de Governo.

A ameaça de Maia em deflagrar o impeachment contra Bolsonaro não se restringem apenas a informações de bastidores. As notas taquigráficas da reunião da Mesa Diretora da Câmara, no dia 18 de janeiro, trazem declarações do deputado, que havia se irritado com a fala de uma aliada do candidato à presidência da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que o acusou de adotar uma atitude ditatorial na Casa.

Segundo os documentos da Casa, o democrata respondeu lembrando a defesa que Bolsonaro faz da ditadura e disse: "E, se o presidente continuar apoiando vocês nesse clima pesado, ele vai levar um impeachment pela frente, hoje ou amanhã".

No cenário atual, Jair Bolsonaro já é o presidente mais questionado em um único mandato. Ao todo, oficialmente, a Câmara contabiliza 62 pedidos de impeachment contra o capitão reformado. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) contabilizou 65 petições contra si, mas em dois mandatos: 14 no primeiro e 51 no segundo.

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