Governo federal

Comitê de combate à covid-19 criado por Bolsonaro é questionado por falta de representatividade

Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criou na semana passada um comitê de enfrentamento à covid-19, após reunião com líderes do Congresso, Judiciário e governadores aliados

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Luisa Farias

Publicado em 28/03/2021 às 10:36 | Atualizado em 28/03/2021 às 10:37
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Apesar de a criação do comitê de enfrentamento da covid-19, após um ano de pandemia no país, ter sido considerada uma iniciativa positiva por parte do governo federal, a sua falta de representatividade se tornou alvo de questionamentos.

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A Confederação Nacional dos Municípios (CNM), reivindicou representação dos gestores municipais no grupo, em comunicado divulgado nesta quarta-feira (24). Ao JC, o consultor da área de Estudos Técnicos da CNM, Eduardo Stranz, afirmou que a criação de um grupo representativo é uma reivindicação da confederação desde o início da pandemia e ao avaliar a iniciativa tomada pelo presidente da República, a considera positiva, mesmo que tardia. “Ainda bem que ele tomou essa iniciativa de criar essa instância, de forma integrada e nacional, mas está faltando a interlocução com os municípios. São os municípios que executam a política pública, em cada cidade, da maior a menor, é ali que o cidadão é vacinado”, ressaltou Stranz.

Eles também cobram a Bolsonaro, além de ser o primeiro a dar sinais da gravidade que o país está enfrentando, fazer uma campanha massiva de comunicação para informar a importância da vacina para a população. “Nosso sistema de saúde está no esgotamento físico e de pessoas que possam trabalhar na linha de frente, não há mais condições de atender tanta gente. Precisamos de atitudes duras para que se estanque essa tendência de sobrecarregar o fluxo da saúde”, declarou o consultor.

Por outro lado, há especialistas na área científica que não consideram que o comitê trará mudanças significativas para combater a pandemia. “Ele representa a continuidade do que tínhamos antes, com a ausência de políticas de enfrentamento à epidemia. Não estão incluídas pessoas de referências, instituições de referências e nem adota uma estratégia apontada pelas associações científicas e pelos pesquisadores”, declara a médica e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bernadete Perez, que acredita que há saída para essa pandemia.

Segundo Bernadete, que também é vice-presidente da Abrasco, é preciso fazer um acordo em uma frente ampla de governadores e prefeitos com diretrizes em que a vigilância epidemiológica e o reforço na atenção primária sejam prioridades para a quebra da transmissão do coronavírus. Ela também critica algumas medidas adotadas em Pernambuco, mesmo ressaltando que a autonomia dos estados e municípios, em comparação ao governo federal, é muito limitada. “O Estado poderia ter traduzido essa cadeia de vigilância epidemiológica, quebrando a cadeia, e segurado a onda, fazendo um lockdown regional”, declarou.

Pernambuco

O líder da bancada do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Isaltino Nascimento (PSB), chama atenção para o fato de só governadores aliados terem participado da reunião realizada na última quarta-feira (24) do presidente com os líderes do Legislativo e do Judiciário que culminou no anúncio do comitê. O governador Paulo Câmara (PSB) não esteve presente.

“O efeito da postura é o efeito do medo do impeachment e também da perda de popularidade para a sociedade. (A reunião restrita) é uma demonstração de que a postura é apenas para tentar ganhar tempo, mas a lógica é a lógica da negação, subestimar o efeito da pandemia e boicotar as medidas de prevenção”, disse o deputado estadual.

Isaltino defendeu a atuação descentralizada na adoção de políticas de prevenção e combate à covid-19. “Há uma necessidade das ações serem feitas de baixo para cima, ao invés de serem feitas de cima para baixo. É necessário que nós tenhamos nas cinco regiões do País espaços de diálogo, até porque é necessário que o Congresso Nacional e o próprio governo federal tenham uma participação, mas que as câmaras, as assembleias, ministério público e a sociedade civil também participem”, disse.

Em coletiva de imprensa realizada na última quinta-feira (25), mesma em que foi anunciada a prorrogação da quarentena mais rígida em Pernambuco até o dia 31 de março, o secretário estadual de Saúde, André Longo, saudou a iniciativa da criação do comitê de enfrentamento.

“Antes tarde do que nunca você poder ter um esboço de coordenação nacional com a participação dos poderes da República. É muito importante que a gente tenha esse tipo de articulação e coordenação nacional”, afirmou o secretário.

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