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Com pesquisas apontando polarização entre Bolsonaro e Lula, centro precisa se mexer caso queira ter chance em 2022, avaliam especialistas

Levantamentos recentes apontam Bolsonaro e Lula no segundo turno de 2022 e a distância para os possíveis adversários vem aumentando

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Cássio Oliveira

Publicado em 17/05/2021 às 8:44
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Diferentes pesquisas divulgadas na última semana reforçam uma polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pela Presidência em 2022. Porém, a pouco mais de um ano do pleito, especialistas apontam ainda haver espaço para o surgimento de uma terceira via.

Hoje, ainda não há certeza sobre quem seria esse nome e a fragmentação é refletida nos nomes postos nos levantamentos. Pesquisa do Datafolha divulgada na quarta-feira (12) trouxe como possíveis candidatos, além de Lula (41%) e Bolsonaro (23%), nomes como Sergio Moro (7%), Ciro Gomes (6%), Luciano Huck (4%), João Doria (3%), Luiz Henrique Mandetta (2%) e João Amoêdo (2%). Segundo o instituto, brancos e nulos somaram 9% e 4% ainda não sabem em quem votar.

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A Consultoria Atlas foi além e incluiu, além os nomes acima, Danilo Gentili e Marina Silva. Por conta de grande número de possíveis candidatos, o cientista político Adriano Oliveira aponta ser necessário mais tempo para ter certeza dos cenários para a próxima eleição. "O candidato de centro ainda não apareceu, não sabemos se terá chance. Ciro Gomes não consegue se diferenciar de Lula, ele tem agenda semelhante ao PT, de nacional desenvolvimentismo. Essa agenda de defesa do estado não é diferente. João Doria fala de vacina, mas não sensibiliza o eleitorado de que ele pautou a vacina, falta a Doria uma narrativa nacional. Então, a ausência da narrativa de centro condena o Brasil à polarização", comentou.

Professor do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho afirma que uma candidatura de centro, teoricamente, tem potencial. "Se observaremos os polos, temos Bolsonaro com 20% de apoio cego, ou seja, independente de críticas estão lá, e Lula a mesma coisa, entre 20 e 25 de apoio cego. Então, quem vai decidir é o centro. A questão é como se viabilizar. Hoje, a possibilidade de o centro se viabilizar está posta num declínio de algum dos polos. Se Bolsonaro desidratar muito por conta da gestão da pandemia e baixar para menos de dois dígitos de apoio popular, há chance de o centro capitanear isso e ir ao segundo turno com Lula. O próprio Ciro diz isso. O centro tem muitos nomes mas estamos distantes da eleição e eles sofrerão um processo de seleção natural. Acredito que teremos dois ou três (nomes) competitivos e eles ficarão à espreita da desidratação de candidatos na ponta", explicou.

Ernani ainda destaca que "uma parte do centro, hoje, faz parte da base de Bolsonaro, então é um jogo". o professor se refere a um fator determinante para a formação dos palanques, que serão as alianças. Hoje, parte dos partidos de centro ou centro-direita, como PL ou PP, estão dando suporte às pautas de Bolsonaro no Congresso. Caso se mantenham com o presidente para a eleição, isso fortalece Bolsonaro. O Nordeste, por exemplo, é a Região onde Bolsonaro teve pior desempenho eleitoral em 2018. Mas, passados dois anos no Planalto, Bolsonaro conquistou aliados como Fernando Bezerra Coelho (MDB) e Arthur Lira (PP), que podem dar palanque à campanha de reeleição em Pernambuco e Alagoas, respectivamente. "Não acredito de saída em uma unificação do centro, até porque parte dos partidos serão cooptados pelos polos (Bolsonaro e Lula)", disse o especialista.

Ponto importante para quem quer ser candidato é visibilidade. A avaliação é do cientista político Antônio Lavareda. Para ele, um candidato que queria bater Bolsonaro e Lula já deveria estar participando de entrevistas e se colocando no cenário. Essa visibilidade, inclusive, seria um dos motivos para Bolsonaro e Lula despontarem como favoritos nas pesquisas.

"Lula é candidato desde 1989, participou como candidato e como importante coadjuvante em todos os pleitos desde então. Por outro lado, Bolsonaro vem em campanha (presidencial) desde 2015. Ele não chegou em 2018 na campanha de paraquedas, ele estava fazendo campanha. Ciro é conhecido, pois foi candidato outras vezes, e Luciano Huck é conhecido, mas não conta, pois é conhecimento como apresentador. Havendo convergência das candidaturas de centro em direção a um nome, se expondo, participando de entrevistas, de debates, o nome alternativo pode crescer e ter participação significativa na eleição", comentou Lavareda na Rádio Jornal.

POLOS

Adriano Oliveira apontou fatores que fortalecem Bolsonaro na disputa pela reeleição. "O resultado das pesquisas desperta curiosidade em virtude do ambiente bélico em que Bolsonaro convive. Se abrirmos os jornais, vemos CPI, negacionismo da covid, total de mais de 400 mil mortos, então o noticiário é negativo, além da crise econômica e taxa de desemprego. Ainda assim, ele é competitivo e hoje estaria no segundo turno. Primeiro, pela força do eleitorado evangélico, ele tem 40% entre evangélicos. Outro ponto é o 'antilulismo', que deve continuar presente se Lula for candidato. E por fim é que o bolsonarismo é uma manifestação de componente ideológico forte", destacou.

Por sua vez, Ernani enxerga como remotas as chances de Lula desistir da candidatura. "Acho quase impossível Lula passar a candidatura para Fernando Haddad. Ele está negociando e falando como candidato e tem chance ímpar de se tornar o único presidente com três mandatos. Isso mexe com vaidade e ele é vaidoso. Lula tem chances de bater Bolsonaro pelo passado, pela lembrança de bonança de seu governo. Se ele desistir, tem de fazer isso rápido caso queira viabilidade, pois a campanha está a pleno vapor", pontuou.

Bolsonaro e Lula acabam alimentando a polarização com críticas mútuas. Na sexta-feira (14), por exemplo, o presidente colocou o sistema eleitoral brasileiro em xeque, defendeu a aprovação do voto impresso auditável e afirmou que Lula só ganhará as eleições de 2022 na fraude. "Um bandido foi posto em liberdade, foi tornado elegível, no meu entender para ser presidente. Na fraude", disse Bolsonaro.

Na oposição, Lula critica o governo federal como forma de desidratar o adversário. "Este é um 1º de maio triste para os trabalhadores e trabalhadoras do nosso País. É um dia de luto pelas 400 mil vidas perdida por conta do covid-19 - muitos delas porque o governo Bolsonaro se recusou a comprar vacinas que os foram oferecidas-; pelos 14 milhões de desempregados vítimas de uma política econômica que enriquece os milionários e empobrece os trabalhadores", disse Lula em vídeo recente.

HERANÇA

A maior parte dos apoiadores de candidatos da chamada "terceira via" optaria por Lula em um hipotético segundo turno contra Bolsonaro segundo o Datafolha. De acordo com o instituto, o ex-presidente teria 55% dos votos na etapa final, contra 32% do atual ocupante do Palácio do Planalto.

Mesmo aqueles que declaram intenção de votar em desafetos do PT, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tendem, em sua maioria, a apoiar Lula no segundo turno. Declaram voto no ex-presidente 55% dos eleitores de Doria, contra 26% que apoiariam Bolsonaro. Uma parcela significativa, de 20%, votaria em branco ou nulo.

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