Lula deixa porta aberta para retomar aliança com PSB e diz que ''jamais negaria um telefonema'' a Paulo Câmara
O ex-presidente disse que PT e PSB não podem ficar de ''biquinho' porque Marília Arraes disputou o Recife contra João Campos
Cotado para disputar a Presidência da República mais uma vez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabe da necessidade de alianças para formar um palanque competitivo em 2022. Assim, deixa as portas abertas para conversar com diferentes siglas, entre elas o PSB, do governador Paulo Câmara.
A relação entre petistas e socialistas é cheia de altos e baixos. Estiveram do mesmo lado em 2018, quando o PT tinha Fernando Haddad como candidato a presidente e Humberto Costa candidato a senador na chapa da Frente Popular. No ano passado, as siglas romperam depois que o PT teve Marília Arraes (PT) disputando o Recife contra João Campos (PSB).
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Mas, na visão de Lula, no momento certo, haverá conversa com o PSB e uma nova composição entre os partidos não está descartada. "Mantenho relação civilizada com Paulo Câmara, tive conversa com ele e, na hora que precisar, terei as conversas necessárias com ele e com pessoas do PSB. Não faço politica olhando coisas erradas, mas as coisas boas. O PSB lançou candidaturas contra mim duas vezes e não perdi a amizade", disse o ex-presidente à Rádio Folha, nesta quarta-feira (19).
Paulo Câmara sabe que jamais negarei telefonema dele. E espero que ele não deixe de receber telefonema meu, temos boa relação. Todo mundo quer conversar e é importante porque política é feita dissoLula
Ele, inclusive, usou como exemplo a eleição do ano passado para dizer que PT e PSB não precisam permanecer rompidos. "Partidos precisam ter candidatos quando entendem necessário. É decisão do partido. O PT ter lançado Marília contra João não demonstra que precisam estar rompidos, o país tem 6 mil municípios. Fomos aliados em muitos municípios. Não é por causa de divergência em um ou outro que o PT e o PSB vão ficar de biquinho. Nós temos que ser maduros e entender em função de cada circunstância, entender em função de cada realidade, a gente se juntar ou a gente separa", explicou.
Mesmo assim, o petista destacou que Marília Arraes ou Humberto Costa possuem todo o direito de se colocar como candidatos e que mesmo se não houver aliança com o PSB em Pernambuco no primeiro turno de 2022, não há impedimento de união no segundo turno.
Lula reforçou que trabalha por alianças, mas disse não ver problema caso os partidos queiram lançar sus próprias candidaturas. "Já sofri pressão para não me candidatar, mas persisti. O que acho é que cada um deve avaliar o que é bom, onde ganha, onde perde e não perder relação de amizade por isso. Não fico magoado se alguém falou mal de mim, não faço política com fígado, faço com a cabeça".
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, já fez críticas a Lula. Questionado sobre a relação com o socialista, Lula disse que seria uma ingenuidade pedir a Siqueira que não o criticasse. "Se Siqueira elogiasse todas as ações do PT ele deveria estar no PT, não no PSB. O PT perdeu deputados e cresceu. Votou contra a Constituição, depois assinamos porque participamos, tínhamos visão de ser contra o plano real e fomos e o PT continuou crescendo. Perdi para FHC, pois o sucesso do plano real era visível e fiz campanha contra. Então, o partido perde quando erra e ganha quando acerta. O PT tem acertado muito mais", afirmou.
Mesmo que ainda existam rusgas na relação entre PT e PSB, o próprio Siqueira já afirmou que não se pode ficar olhando para o retrovisor e que o partido precisa, primeiro, avaliar os cenários de 2022 e quem terá reais chances de vencer Jair Bolsonaro. Além de Lula, Ciro Gomes (PDT) almeja o apoio dos socialistas para seu palanque.
Plano nacional
O ex-presidente comentou sobre suas movimentações políticas visando as eleições presidenciais de 2022 e elogiou entrevista em que o Fernando Henrique Cardoso (PSDB) votaria nele no pleito do ano que vem.
“Eu gostei da entrevista do FHC. Sempre tivemos uma disputa civilizada. Ele me conhece bem, conhece o Bolsonaro. Fico feliz que ele tenha dito que votaria em mim e eu faria o mesmo se fosse o contrário. Ele sempre foi um intelectual e sabe que não dá pra inventar uma candidatura”, disse Lula.
O petista disse ser um erro acreditar que todo o centrão estará com Bolsonaro no próximo ano. Nos últimos dias ele esteve em Brasília conversando com diferentes lideranças políticas. "A imprensa nos induz ao erro quando diz que o Centrão está todo com o Bolsonaro. Não tratem o centrão como um partido único. Ao apagar as luzes da Câmara dos Deputados, cada partido tem interesse no seu estado. Vamos conversar individualmente com cada partido político”, afirmou.
O ex-presidente também comentou as recentes críticas feitas a ele por seu ex-ministro Ciro Gomes (PDT). “Eu adoraria dizer que o Ciro é um amigo. Mas infelizmente ele não quer. Mas eu aprendi uma teoria com a minha mãe Dona Lindu: quando um não quer, dois não brigam. Não farei jogo rasteiro”, declarou.
Lula anunciou ainda que, na semana que vem, deve fazer novas reuniões políticas. Desta vez, os encontros serão com representantes de movimentos sociais, do movimento sindical e intelectuais.
“Semana passada em Brasília falei com mais de 60 políticos, de vários partidos. Semana que vem vou conversar com os movimentos sociais, intelectuais e com o movimento sindical. Quero conversar muito. Quem faz política conversa. Dono da verdade, carrancudo, não serve pra política”, afirmou.
Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro também foi alvo de comentários de Lula. O petista disse que o atual mandatário tenta “imitar” o ex-presidente norte-americano Donald Trump ao tentar instigar a sociedade contra o atual modelo de urna eletrônica.
“O Bolsonaro tá querendo imitar o Trump de novo… Dizendo que se não tiver voto impresso vai ter fraude eleitoral. Fraude eleitoral foi a eleição dele, que me prenderam pra eu não ser candidato, e ainda ganharam na base da fake news”, concluiu Lula.
Paulo Câmara sabe que jamais negarei telefonema dele. E espero que ele não deixe de receber telefonema meu, temos boa relação. Todo mundo quer conversar e é importante porque política é feita disso<br>
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