Gravações de ex-cunhada apontam envolvimento de Bolsonaro em esquema de rachadinha, diz UOL; ouça
Segundo os áudios, Bolsonaro comandava um esquema no qual funcionários fantasmas dos gabinetes dele e dos filhos devolviam até 90% dos valores recebidos em salários para o clã
Investigado por prevaricação no caso das compras da vacina Covaxin, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem uma nova dor de cabeça. Gravações inéditas reveladas pelo portal UOL apontam um envolvimento direto do chefe do Executivo Federal em um esquema ilegal de entrega de salários de assessores na época em que ele exerceu seguidos mandatos de deputado federal (entre os anos de 1991 e 2018), a chamada 'rachadinha'. Ouça os áudios ao fim da reportagem.
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Em uma série de reportagens publicada nesta segunda-feira (5), a jornalista Juliana Dal Piva revela um áudio em que a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, confirma que Bolsonaro comandava um esquema no qual funcionários fantasmas dos gabinetes dele e dos filhos – Flávio e Carlos – devolviam até 90% dos valores recebidos em salários para o clã.
Exoneração de cunhado
No áudio, Andréa revela que o irmão, André Siqueira Valle, foi exonerado do gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados em 2007 por não devolver “o dinheiro certo que tinha que ser devolvido”. Andréa e André são irmãos de Ana Cristina Valle, segunda esposa de Jair e mãe de Jair Renan Bolsonaro.
“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’. Não sei o que deu pra ele”, diz a ex-cunhada do presidente na gravação.
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Antes de ser nomeado na Câmara pelo então deputado Bolsonaro, onde ficou entre dezembro de 2006 e outubro de 2007, André foi funcionário do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) por dois períodos – entre agosto de 2001 e fevereiro de 2005 e de fevereiro a novembro de 2006.
Na época, André chegou a morar na casa de Jair e da irmã, no Rio de Janeiro. Atualmente, ele vive em Resende, no interior do Estado, onde reside a maior parte da família de Ana Cristina.
'01' da família Queiroz
Os áudios revelam ainda que, dentro da família Queiroz, Jair Bolsonaro seria o verdadeiro "01", forma como o presidente costuma tratar seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Em troca de mensagens de áudio, a mulher e a filha de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar e Nathália Queiroz, chamam Jair Bolsonaro de "01". Márcia afirma que o presidente "não vai deixar" Queiroz voltar a atuar como antes.
Em outro áudio, a ex-cunhada de Jair descreve como recolher salários não era uma tarefa exclusiva de Fabrício Queiroz. Segundo ela, o coronel da reserva do Exército, ex-colega do presidente na Academia Militar das Agulhas Negras, Guilherme Hudson, atuou no recolhimento de salários de Andrea Siqueira Valle, no período em que ela constava como assessora do antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
'Fatos inverídicos', diz defesa
Procurado pelo UOL, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha de 2022. Wassef afirmou que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos".
Ouça os áudios: