Grito dos Excluídos e Excluídas no Recife clama pela vida e lembra os problemas do Brasil real
O Grito dos Excluídos e das Excluídas ocorreu pacificamente. O evento contou com a participação de vários representantes dos movimentos sociais, sindicatos e de partidos ligados à esquerda
Pacífico, mas crítico. Colorido, mas com bandeiras pretas, incluindo uma bandeira do Brasil com manchinhas vermelhas, lembrando as mais de 583 mil pessoas que faleceram devido às consequências da covid-19. E, acima de tudo, plural, com grupos que lutam contra o racismo, pelo direito das mulheres, dos índios, dos negros, representantes de movimentos sociais, e sindicatos formaram os vários grupos que fizeram a passeata da 27ª edição do Grupo dos Excluídos e Excluídas que ocorreu na manhã desta terça-feira (7) no Centro do Recife. Houve aglomeração, embora os organizadores pedissem para os participantes fazerem um distanciamento social. A aglomeração é um dos fatores que podem contribuir para a transmissão do coronavírus.
A organização estima que cerca de 50 mil pessoas participaram do evento, levando em consideração que a passeata chegou a "ocupar" 13 mil metros quadrados ao mesmo tempo. Em vários momentos da passeata, os diversos grupos se distanciavam para não ficarem muitos próximos. "O grito nunca foi tão necessário. Queremos um Brasil mais inclusivo e neste ano estamos fazendo um apelo pela democracia. A vida se tornou pior nos últimos dois anos com 14 milhões de desempregados e 55 milhões de pessoas que só comem uma vez ao dia", comentou o diretor estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Paulo Ubiratan. A entidade apoiou a iniciativa que é realizada pelo Fórum Dom Helder Câmara. O tema do Grito este ano foi "Vida em Primeiro Lugar, na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda".
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A passeata contou com uma batucada formada por várias nações de maracatus. "A história dos maracatus representa a defesa da liberdade e da vida, o combate ao racismo e a discriminação. Estamos fazendo um bate-virado pelo fora bolsonaro", argumentou o ex-deputado federal Paulo Rubem Santiago, que é filiado ao PSOL.
Até um grupo de pelo menos 50 policiais civis - que estavam de folga - participaram do evento, segundo o coordenador nacional do Movimento dos Policiais Antifascistas e diretor de comunicação do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), Áureo Cisneiros. "Estamos na luta contra o ar de golpismo que deseja tomar conta do Brasil e temos a esperança de fazer uma segurança pública pautada nos direitos humanos", comentou.
INÍCIO
Os participantes começaram a chegar a partir das 07 horas na Praça do Derby, onde ocorreu a concentração. De lá até a dispersão, o evento contou com o policiamento constante, mas discreto. "Estamos levando esta bandeira para lembrar as vítimas da covid-19 e a condução desastrada que o governo federal fez desta pandemia", afirmou Roberta Almeida, da coordenação do Grito dos Excluídos. Ela e mais um grupo levaram durante toda a passeata uma bandeira do Brasil, manchada de pontinhos vermelhos.
A trilha sonora da passeata foi tão diversa quanto os grupos presentes, indo desce sucessos de Gonzaguinha, Alceu Valença, Titãs, Geraldo Vandré, Milton Nascimento, entre outros. Os batuques de maracatus também foram uma constante na concentração e na caminhada. As camisas dos participantes tinha desde blusa do tradicional bloco olindense Eu Acho é Pouco até dizeres como "Fora Bolsonaro"; "Vacina no Braço e Comida no Prato"; "Vidas Negras Importam", entre outras.
A passeata contou com a participação de vários políticos como os deputados federais Marília Arraes e Carlos Veras; os deputados estaduais João Paulo (PCdoB), Teresa Leitão (PT) e Dani Portela e a vereadora e escritora Cida Pedrosa (PCdoB). "O grito é um movimento importante em defesa da democracia. Não tem sentido uma tentativa de golpe. Acredito que ele quer implantar uma ditadura, tirando os poderes do Judiciário e do Congresso Nacional", comentou o deputado estadual João Paulo, se referindo as afirmações de Bolsonaro e as críticas que o presidente fez a alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes.
Por volta das 13 horas, a passeata chegou a Praça do Carmo, e os grupos foram se agrupando ao redor do Pátio. Uma orquestra de frevo começou a tocar, poucas pessoas dançaram e a maior parte dos manifetantes foi deixando o local. "Do nosso ponto de vista, foi positivo. Não chegou qualquer relato de conflito ou animosidade e estavam presentes representantes de vários movimentos sociais", disse uma das coordenadora do evento, Sandra Gomes, que faz parte da coordenação do Fórum Dom Helder Câmara.
A realização do evento deixou interditada, desde o começo da manhã, a Avenida Conde da Boa Vista e a Avenida Guararapes, no Centro do Recife. A assessoria de imprensa da Secretaria de Defesa Social informou que" as manifestações ocorridas neste Sete de Setembro, no Recife e demais cidades pernambucanas, transcorreram dentro da normalidade, sem ocorrências policiais. Somente nos três principais pontos de concentração (Centro do Recife, Imbiribeira e Avenida Boa Viagem) foram empregados 150 homens e mulheres da Polícia Militar, com apoio das demais forças de segurança. Os trabalhos continuam de modo a acompanhar a total dispersão e volta para casa".