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''É hora de dar um basta nesta escalada'', diz Arthur Lira em discurso após atos de Bolsonaro

De acordo com o parlamentar, que preside a Câmara dos Deputados, no Brasil não haveria mais espaço para "radicalismo e excessos"

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Renata Monteiro

Publicado em 08/09/2021 às 13:58 | Atualizado em 08/09/2021 às 14:24
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Após as manifestações do último dia 7 de Setembro, em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mais uma vez insinuou que poderia agir "fora das quatro linhas" por discordar de determinações dos Poderes Judiciário e Legislativo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), fez um pronunciamento na tarde desta quarta-feira (8) tecendo fortes críticas aos gestos do militar da reserva. De acordo com o parlamentar, no Brasil não haveria mais espaço para "radicalismo e excessos" e seria a hora de "dar um basta nesta escalada". Lira é o único que tem o poder de desengavetar um dos muitos pedidos de impeachment que já foram protocolados na Câmara ao longo do mandato de Bolsonaro.

Já no começo do seu discurso, Lira afirma que aguardou as últimas manifestações do presidente chegarem ao fim para se pronunciar porque não queria ser "contaminado" pelo calor de um ambiente já aquecido, mas que não esquece jamais que preside "o Poder mais transparente e democrático". O deputado disse estar compromissado com o "Brasil real" e lembrou que, na Câmara, pautas que afetam diretamente a população, como o auxílio emergencial e as vacinas, foram tidas como prioridade ao longo da pandemia.

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"Na Câmara dos Deputados, aprovamos o auxílio emergencial e votamos leis que facilitaram o acesso à vacinação. Avançamos na legislação que permite a criação de mais emprego e mais renda. A Casa do Povo seguiu adiante com as pautas do Brasil – especialmente as reformas. Nunca faltamos para com os brasileiros. A Câmara não parou diante de crises que só fazem o Brasil perder tempo, perder vidas e perder oportunidades de progredir, de ser mais justo e de construir uma nação melhor para todos", declarou o progressista.

Lira declarou, ainda, que os Poderes possuem delimitações e que isso define "respeito e harmonia", não podendo, com isso, "admitir questionamentos sobre decisões tomadas e superadas – como a do voto impresso". O deputado completou a sua fala dizendo que seguirá defendendo o direito dos parlamentares à livre expressão e a prerrogativa que a Casa possui de puni-los internamente se entender que algum deles cruzou a linha.

"É hora de dar um basta a esta escalada, em um infinito looping negativo. Bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade. O Brasil que vê a gasolina chegar a R$ 7 reais, o dólar valorizado em excesso e a redução de expectativas. Uma crise que, infelizmente, é superdimensionada pelas redes sociais, que apesar de amplificar a democracia estimula incitações e excessos", disparou Arthur Lira.

No seu discurso, o presidente da Câmara também enalteceu quem participou dos atos de ontem e disse que uma democracia se faz assim, "com participação popular e liberdade e respeito à opinião do outro". "Foi isso que inspirou Niemeyer e Lúcio Costa, quando imaginaram a Praça dos Três Poderes: colocaram o Executivo, o Judiciário e o Legislativo no meio. Equidistantes – mas vizinhos e próximos suficientes para que hoje a gente possa se apresentar como uma ponte de pacificação entre Judiciário e Executivo. E é este papel que queremos desempenhar agora. A Câmara dos Deputados está aberta a conversas e negociações para serenarmos. Para que todos possamos nos voltar ao Brasil Real que sofre com o preço do gás, por exemplo", observou Lira.

Já perto de finalizar o seu pronunciamento, Lira colocou a Câmara dos Deputados como um "motor de pacificação" diante dos movimentos golpistas do presidente da República. Ele disse que a Câmara seguirá votando e aprovando projetos de interesse público e "estendendo a mão" aos demais Poderes para encerrar desentendimentos.

Por fim, Lira frisou: "Vale lembrar que temos a nossa Constituição, que jamais será rasgada. O único compromisso inadiável e inquestionável que temos em nosso calendário está marcado para 3 de outubro de 2022. Com as urnas eletrônicas. São nas cabines eleitorais, com sigilo e segurança, que o povo expressa sua soberania. Que até lá tenhamos todos, serenidade e respeito às leis, à ordem e, principalmente, à terra que todos nós amamos", destacou.

Confira abaixo o discurso completo do presidente da Câmara:

Diante dos acontecimentos de ontem, quando abrimos as comemorações de 200 anos como nação livre e independente, não vejo como possamos ter ainda mais espaço para radicalismo e excessos.

Esperei até agora para me pronunciar porque não queria ser contaminado pelo calor de um ambiente já por demais aquecido. Não me esqueço um minuto que presido o Poder mais transparente e democrático.

Nossa Casa tem compromisso com o Brasil real – que vem sofrendo com a pandemia, com o desemprego e a falta de oportunidades. Na Câmara dos Deputados, aprovamos o auxílio emergencial e votamos leis que facilitaram o acesso à vacinação. Avançamos na legislação que permite a criação de mais emprego e mais renda. A Casa do Povo seguiu adiante com as pautas do Brasil – especialmente as reformas. Nunca faltamos para com os brasileiros. A Câmara não parou diante de crises que só fazem o Brasil perder tempo, perder vidas e perder oportunidades de progredir, de ser mais justo e de construir uma nação melhor para todos.

Os Poderes têm delimitações – o tal quadrado, que deve circunscrever seu raio de atuação. Isso define respeito e harmonia. Não posso admitir questionamentos sobre decisões tomadas e superadas – como a do voto impresso. Uma vez definida, vira-se a página. Assim como também vou seguir defendendo o direito dos parlamentares à livre expressão – e a nossa prerrogativa de puni-los internamente se a Casa com sua soberania e independência entender que cruzaram a linha.

Conversarei com todos e com todos os poderes. É hora de dar um basta a esta escalada, em um infinito looping negativo.

Bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade. O Brasil que vê a gasolina chegar a R$ 7 reais, o dólar valorizado em excesso e a redução de expectativas. Uma crise que, infelizmente, é superdimensionada pelas redes sociais, que apesar de amplificar a democracia estimula incitações e excessos.

Em tempo, quero aqui enaltecer a todos os brasileiros que foram às ruas de modo pacífico. Uma democracia vibrante se faz assim: com participação popular e liberdade e respeito à opinião do outro.

Foi isso que inspirou Niemeyer e Lúcio Costa, quando imaginaram a Praça dos Três Poderes: colocaram o Executivo, o Judiciário e o Legislativo no meio. Equidistantes – mas vizinhos e próximos suficientes para que hoje a gente possa se apresentar como uma ponte de pacificação entre Judiciário e Executivo. E é este papel que queremos desempenhar agora. A Câmara dos Deputados está aberta a conversas e negociações para serenarmos. Para que todos possamos nos voltar ao Brasil Real que sofre com o preço do gás, por exemplo.

A Câmara dos Deputados apresenta-se hoje como um motor de pacificação. Na discórdia, todos perdem, mas o Brasil e a nossa história tem ainda mais o que perder. Nosso país foi construído com união e solidariedade e não há receita para superar a grave crise socioeconômica sem estes elementos.
Esta Casa tem prerrogativas que seguem vivas e quer seguir votando e aprovando o que é de interesse público. E estende a mão aos demais Poderes para que se voltem para o trabalho, encerrando desentendimentos.

Por fim, vale lembrar que temos a nossa Constituição, que jamais será rasgada. O único compromisso inadiável e inquestionável que temos em nosso calendário está marcado para 3 de outubro de 2022. Com as urnas eletrônicas. São nas cabines eleitorais, com sigilo e segurança, que o povo expressa sua soberania.

Que até lá tenhamos todos, serenidade e respeito às leis, à ordem e, principalmente, à terra que todos nós amamos.

Muito obrigado!

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