Governo Bolsonaro cancela reunião com caminhoneiros para tratar sobre greve e abala relação com categoria
Na justificativa para desmarcar a reunião, o governo disse que havia sido veiculado na imprensa que ministros estariam presentes, o que não seria verdade
A Secretaria Especial de Articulação Social do governo Bolsonaro recuou e cancelou uma reunião com caminhoneiros marcada para a quinta-feira (28) para tentar baixar a temperatura na relação com a categoria e, assim, conseguir impedir uma eventual paralisação do segmento.
O encontro havia sido marcado com o deputado Nereu Crispim (PSL-RS), presidente da Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, e representantes dos caminhoneiros. Na justificativa para desmarcar a reunião, o governo disse que havia sido veiculado na imprensa que ministros estariam presentes, o que não seria verdade.
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"Em razão das notícias veiculadas na imprensa de que a reunião seria realizada com a participação de Ministros de Estado, o que não se coaduna com o convite enviado, esta Secretaria Especial de Articulação Social informa o cancelamento da reunião do dia 28", diz mensagem enviada a Crispim pela chefe de gabinete do órgão que compõe a Secretaria de Governo.
Deputado ameaça greve
Em conversa com a Folha de S.Paulo, Crispim, que diz ser o deputado mais leal ao governo em votações de pautas econômicas, afirma que o governo Jair Bolsonaro está encomendando a paralisação de 1º de novembro e que não há previsão de novos encontros para negociação.
Para o parlamentar, Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, da Economia, hoje "só trabalham para banqueiro e investidor da Bolsa de Valores". "Os R$ 400 que eles estão oferecendo é esmola para o caminhoneiro", completa, em referência ao auxílio que Bolsonaro prometeu criar para a categoria.
Crispim também afirma que os caminhoneiros não querem mais conversar com o ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, principal interlocutor da categoria até o momento.
"A única pessoa que não queremos que participe de uma reunião com caminhoneiros é ele. Não fez nenhuma entrega por caminhoneiros autônomos. Fazemos questão de que não participe. Ele se dizia autorizado pelo governo para tocar essas pautas e nunca resolveu nada, desde 2018. Sempre conversa fiada", diz o parlamentar.
Governo vê tentativa de autopromoção
Nos bastidores do Planalto, a avaliação é a de que Crispim tenta se promover às custas do governo e que por isso publicitou a reunião e disse que ministros participariam. Diante disso, decidiram interromper a interlocução com ele.
Mas lideranças dos caminhoneiros, como Wallace Landim, o Chorão, líder da greve de 2018, apontam Crispim como o negociador parlamentar da categoria.