Com proximidade da eleição, Bolsonaro dobra viagens ao Nordeste
Presidente tenta ganhar terreno na região onde é mais mal avaliado e onde seu desempenho nas pesquisas eleitorais é pior
De cada quatro viagens que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez pelo Brasil em 2021, uma foi para o Nordeste. Mas o interesse pela região nem sempre foi tão grande. Em 2019, apenas 12,5% das viagens do presidente foram para um dos nove estados nordestinos. Os dados com a lista e os custos de todas as viagens presidenciais de Bolsonaro até o último dia 10 de novembro foram divulgados pela Fiquem Sabendo, agência especializada no acesso a informações públicas.
Além do Nordeste, o Norte também passou a ser mais visitado pelo presidente: passou de 9% para 15,5% de todas as viagens. Em contrapartida, o Sudeste, que nos dois primeiros anos de mandato representava mais da metade das agendas oficiais, hoje não chega a 30% delas.
Para a cientista política Priscila Lapa, professora da Faculdade de Ciência Humanas de Olinda, o aumento no número de visitas de Bolsonaro ao Nordeste está atrelado à proximidade das eleições de 2022. “Esse interesse nunca é do nada. Ele tem muito a ver com a importância do peso do eleitorado nordestino numa eleição presidencial. O Nordeste é o segundo maior colégio eleitoral do País. E é uma região quantitativa, que faz barulho, cujas lideranças se posicionam. É a base desse eleitorado que é o público alvo prioritário de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o Auxílio Brasil. Então, teoricamente, é um perfil de eleitorado que tende a ter essa questão da gratificação”, explica.
A relação de Bolsonaro com o Nordeste nem sempre foi fácil. No primeiro e segundo turnos, o presidente só perdeu em dez estados; incluindo os nove da região. Troca de farpas com os governadores locais, todos de oposição, foram frequentes e aumentaram de temperatura durante a pandemia de covid-19. Além disso, o Nordeste é a região onde o governo federal é mais mal avaliado. E, talvez pela ligação com o ex-presidente Lula (PT), onde Bolsonaro tem o pior desempenho nas pesquisas de intenção de voto.
Em contrapartida, políticos nordestinos ascenderam a papéis de destaque no governo em 2021. Os principais exemplos são o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), talvez os mais importantes articuladores políticos do Planalto hoje. Em outra frente, João Roma (Rep.-BA) assumiu o Ministério da Cidadania e comandará o Auxílio Brasil, principal aposta de Bolsonaro para crescer em popularidade no ano eleitoral.
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Se ao tomar posse, o presidente não tinha nenhum ministro nordestino, hoje são seis nomes na equipe, incluindo o pernambucano Gilson Machado (Turismo). “O presidente Bolsonaro está fazendo o que sempre prometeu: libertar o povo nordestino da esquerda. Ele nunca disse que era contra o Nordeste e os nordestinos. Pelo contrário, ele está fazendo várias entregas, por isso essas viagens. Ele não faz nenhuma visita só para fazer política, reunião ou visitar líderes políticos. Toda visita dele, ele faz com entrega, inauguração ou anúncio de obras. O governo já tem um leque de entregas de água, ferrovias, casas, títulos de posse de assentamentos”, afirma o coronel Luiz Meira, presidente estadual do PTB e um dos principais aliados no Estado.
Para Priscila Lapa, a tentativa de associar a imagem de Bolsonaro às obras é uma estratégia. “Como é uma região com muitas carências de infraestrutura, a questão econômica atinge também fortemente o Nordeste. Então a vinda do presidente acaba sendo com a expectativa de criar a conexão desse eleitorado que é extremamente carente num processo de gratificação e de identificação que o presidente Bolsonaro fez entregas relevantes para o Nordeste. Inclusive como uma tentativa de desfazer na mente do eleitor nordestino de que Lula foi o único ou é o único capaz de fazer entregas relevantes e atender as necessidades da população nordestina”, ela explica.
Ao longo dos três anos de governo, a Bahia foi o estado nordestino mais visitado por Bolsonaro, onde ele esteve 13 vezes. Não à toa, é o maior eleitorado da região; o quarto maior do país. Pernambuco vem em seguida, com seis visitas, seguido de Ceará e Maranhão, com cinco cada. Somados, os nove estados receberam o presidente 46 vezes desde o início do mandato. É muito. Mas só em São Paulo ele esteve em 69 ocasiões. O Rio de Janeiro recebeu 40 visitas.
Questionado sobre como Bolsonaro dialogará com o eleitor nordestino nas eleições de 2022, Meira disse que não deve haver muita mudança em relação à maneira com que o presidente já atua na região. “Ele foi muito bem votado aqui em Pernambuco e no Nordeste em relação ao que se esperava que seria a sua votação. A expectativa é que teria muito menos votos do que teve”, lembra.
Apesar disso, há uma expectativa de que a recuperação econômica, propiciada pelo avanço da vacinação contra a covid-19, tenha efeito sobre o humor do eleitorado local. “Com a economia crescente, a diminuição do desemprego e o (pagamento do) Auxílio Brasil, que vem nesse momento de dificuldade, a tendência é ter esse reconhecimento e uma boa votação. É o que a gente vê na ponta, no dia-a-dia. Agora, não podemos dizer que estamos em céu de brigadeiro. É uma eleição mais difícil do que a primeira, em que havia uma onda e um sentimento para tirar o PT e a esquerda do governo. A gente vê nessa que o eleitor vai votar, mas está mais criterioso. Mas dentro desse critério, a gente aposta que a polarização vai existir. E que na hora de decidir o voto, com certeza, não vão votar num ladrão, corrupto. Vão votar em alguém que está trabalhado”, projeta o petebista.
Enquanto isso, as viagens pelo Nordeste devem continuar. Em Pernambuco, a volta de Bolsonaro é esperada para autorizar a licitação do Arco Metropolitano e a requalificação da BR-232. A visita, porém, ainda não tem data marcada.