Com aliança Lula-Alckmin, Paulo Câmara mostra lado articulador, ganha destaque em jantar e pode assumir ministério
Segundo políticos presentes no "Jantar pela Democracia", evento organizado pelo Prerrogativas, Paulo sentou à mesa com Lula e Alckmin e foi cortejado com invejados elogios por ambos
Ferrenhos oposicionistas até pouco tempo atrás, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin se encontraram no domingo (19) “Jantar pela Democracia”, evento organizado pelo Prerrogativas, grupo de advogados antilavajatistas. Essa foi a primeira aparição pública de ambos lado a lado desde começaram a discutir uma aliança para disputar as eleições de 2022. Um dos principais articuladores desta — outrora improvável — união é o governador Paulo Câmara (PSB), que também esteve no jantar.
Homem forte no partido, Câmara tem participado constantemente de conversas e reuniões com o ex-presidente de olho no próximo pleito eleitoral. Ele foi beneficiado em 2018 pelo apoio de Lula, ainda que a distância, ao seu palanque. Agora quer garantir a mesma ajuda para seu sucessor.
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Apesar deste interesse, Câmara tem dito que sua ideia, na verdade, é criar uma ampla frente de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesse domingo, o governador foi às redes sociais para comemorar o que ele classificou como “mais um avanço” desta pauta, após o “Jantar pela Democracia”.
Articulador de destaque
O governador chegou a ser cotado como vice de Lula, mas a ideia foi de pronto rejeitada, por dois motivos básicos: falta de interesse de Paulo em disputar cargos eletivos no próximo ano e a necessidade de Lula em ampliar suas alianças. Nada disso, porém, tira o destaque que o governador tem nas costuras nacionais.
“Decorrido o tempo na cadeira de governador e com a ausência de outras lideranças com o peso que [o ex-governador] Eduardo Campos tinha, por exemplo, ele foi ocupando cada vez mais esse papel de articulador, de tomador de decisões. E tem se saído bem”, avalia a cientista política Priscila Lapa, professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho).
Por isso, o socialista deve ‘ganhar’ o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações em caso de vitória do petista. “Esta pasta sempre foi nossa nas gestões do PT. Agora vai para as mãos do governador”, afirma ao JC, sob anonimato, um deputado do PSB, entusiasta da aliança entre seu partido e Lula.
O assunto, porém, não chegou a ser mencionado no evento promovido pelos advogados do grupo Prerrogativas. Segundo políticos presentes, Paulo sentou à mesa com Lula e Alckmin e foi cortejado com invejados elogios por ambos. "Pessoa da melhor qualidade", "grande gestor" e "o homem de Pernambuco" foram algumas das palavras ouvidas pelo governador.
O assunto eleitoral, porém, não entrou no cardápio, Lula e Alckmin preferiram não discutir nada relacionado ao acordo entre ambos em público. Em uma sala reservada, no entanto, de acordo com quem estava no evento, o petista confirmou que quer mesmo o ex-governador como vice-presidente em sua chapa, mas preferencialmente pelo PSD.
O externado desejo do ex-presidente dá munição ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), que também estava no “Jantar pela Democracia” para adiar um possível apoio à candidatura de Lula. O jovem gestor era um dos nomes mais resistentes ao apoio ao ex-presidente. Mas recuou e passou a defender um entendimento com o petista, visto que o vice poderia sair do PSB.
Com a possibilidade do ex-governador paulista ir para o PSD, Campos tende a voltar a defender uma candidatura própria dos socialistas. Tanto é que, dos políticos pernambucanos presentes no jantar, ele — conhecido por sua presença nas redes sociais — foi o único sem fazer publicações sobre o encontro.
“O prefeito João Campos vai voltar a falar em candidatura própria, mas só por um tempinho. Ele sabe que estaremos com o presidente Lula”, afirmou um deputado socialista.
Engolindo sapos
Para os políticos presentes, ao sentar na mesma mesa que Lula, quase ao lado da prima e desafeta Marília Arraes (PT), Campos parece decidido a "engolir alguns sapos” para viabilizar a aliança com o PT. Esta união, porém, só teria uma condição da qual João não abre mão: ele quer Alckmin, a quem rasgou elogios recentemente, no PSB.
“O prefeito é um nome importante em seu partido, dada sua tradição político-familiar. Desde o começo, ele queria apoiar Ciro Gomes por causa de uma promessa feita em 2020, mas ele veio diminuindo as resistências a Lula e, agora, só quer seu partido na vice do ex-presidente”, afirma José Alexandre, doutor em ciência política pela UnB.
Apesar do desejo do prefeito, Priscila Lapa acredita que o socialista estará no palanque de Lula independente de qual legenda ocupe a vaga de companheiro de chapa do petista.
“Não acho que Alckmin, onde estiver, seria empecilho para um apoio de Campos. Aliás, quanto menos "puro sangue" petista na história, acho que o prefeito se sente mais confortável. Campos entende a importância e o peso de Lula no campo político em que ele atua, mas sabe separar bem isso do PT”, conclui a professora.
O JC procurou o governador Paulo Câmara e o prefeito João Campos por meio de suas assessorias, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.