Centro-direita pernambucana minimiza consequências locais de possível aliança Lula e Alckmin: 'não muda o cenário'
Ex-presidente e ex-governador paulista ensaiam aproximação que pode culminar em chapa nas próximas eleições
A relação cada vez mais próxima entre o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido), que ensaiam uma aliança visando as eleições de 2022, parece não chamar muito a atenção do grupo de centro-direita que faz oposição ao governo socialista em Pernambuco. Na visão de lideranças desse bloco político, mesmo que o agora ex-tucano saia candidato a vice na chapa do petista, como se tem especulado nas últimas semanas, os impactos desse arranjo teriam pouca ou nenhuma reverberação local.
Para o deputado federal Daniel Coelho, presidente do diretório estadual do Cidadania, por exemplo, por ser uma figura pouco popular entre os pernambucanos, Geraldo Alckmin não teria musculatura para impulsionar a votação de um eventual candidato apoiado por Lula na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas. “Não vejo consequência local. Em Pernambuco, Alckmin perdeu de Cabo Daciolo em 2018. Teve 1% dos votos no Estado. Aqui, não vejo peso algum no movimento. Talvez em São Paulo altere algo”, observou.
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Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas últimas eleições presidenciais Alckmin recebeu 77.987 votos (1,65%) em Pernambuco, alcançando a quinta posição no primeiro turno da disputa. Acima dele aparecem Fernando Haddad (PT) em primeiro lugar, Jair Bolsonaro (PL) em segundo, Ciro Gomes (PDT) em terceiro e em quarto lugar Cabo Daciolo (Brasil 35), que obteve 93.330 votos (1,98%). Na última semana, Daciolo anunciou que abriu mão da pré-candidatura à presidência em 2022 e declarou apoio a Ciro Gomes.
O ex-senador Armando Monteiro (PSDB) aponta que, vista sob “lentes convencionais”, a aproximação entre Lula e Alckmin pode estranhar inicialmente aqueles que se propõem a analisá-la, mas ressalta que na política esse tipo de movimento não costuma ser tão incomum assim. “Na primeira vez que o governador disputou a eleição contra o PT, em 2006, o debate foi muito duro, já havia o problema do mensalão e ele fez críticas muito contundentes ao partido. Mas a política tem esses caprichos, de repente as circunstâncias mudam. Ele saiu do PSDB, claramente ele tem um problema com o governador João Doria, eles passaram a ser desafetos, e aí ele começou a dialogar com outros partidos e pode se filiar até ao PSB. É um movimento que deve ser visto com uma lente não convencional ”, detalhou.
Além do PSB, partidos como o Solidariedade e o PSD já demonstraram interesse em receber o ex-tucano, mas a decisão de Alckmin sobre a sua nova casa partidária só será divulgada no próximo ano. Pesam na decisão do ex-gestor questões ligadas às eleições estaduais de São Paulo e a própria possibilidade de participar da chapa do ex-presidente Lula.
Como até o momento todos os partidos aos quais Alckmin cogita filiar-se já estão na Frente Popular de Pernambuco, Armando acredita que a consolidação da aliança do ex-governador com Lula não deve ter impacto nas costuras de estratégias no Estado. “Para nós isso não muda o cenário, pois ele vai ingressar em uma legenda que aqui, no plano estadual, já está vinculada ao campo adversário. E nós, da oposição, continuamos juntando forças, sobretudo com os partidos que já estão nesse campo em Pernambuco, o que não é o caso dos partidos que estão sendo cogitados para acolher o Alckmin”, afirmou o tucano.
Questionado se acredita que uma chapa de Lula com Alckmin pode prejudicar a consolidação de um candidato de terceira via, Daniel Coelho disse que, até a votação, um candidato fora da polarização entre o petista e Bolsonaro encontrará ambiente para crescer. “A terceira via terá seu espaço. Alguém irá se consolidar para disputar uma vaga no segundo turno”, cravou.
“Eu tenho a impressão de que a presença do Alckmin servirá menos como uma alavanca eleitoral em São Paulo e mais como demonstração de amplitude, de abertura, que você pode ter em uma chapa pessoas de perfis diferentes, com origens partidárias diferentes, uma chapa para quebrar um pouco a ideia de que o Lula é uma figura de esquerda e que só compõe dentro desse campo. É algo como o que ele fez quando se aliou com o José Alencar”, completou Armando Monteiro.