Eleições 2022

Disputa pelo Senado em Pernambuco será desafio para partidos e pré-candidatos ao governo

Seja na situação ou na oposição, articulações políticas e grande número de nomes disponíveis para apenas uma vaga pode dificultar processo de escolha dos candidatos

Mirella Araújo Renata Monteiro
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Mirella Araújo
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Publicado em 23/12/2021 às 17:14
ISAC NÓBREGA/PR
MINISTRO Gilson Machado seria o nome do presidente Jair Bolsonaro - FOTO: ISAC NÓBREGA/PR
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A candidatura para o Senado Federal seria uma caminho natural dos políticos que não mais almejam pleitear cargos no Executivo, tampouco demonstram disposição para concorrer a um mandato proporcional à Câmara dos Deputados - o que não diminui o seu lugar de prestígio. Com apenas uma vaga a ser disputada, a Frente Popular liderada pelo PSB tem um grande desafio pela frente diante das acomodações políticas que possam fortalecer a continuidade de um projeto que já perdura por 16 anos. No palanque da oposição, as costuras em busca deste quadro também não serão uma tarefa fácil.

Historicamente em Pernambuco, a escolha pelo nome do candidato a senador gira em torno das lideranças partidárias, dos chamados “caciques” locais. A exemplo do senador Jarbas Vasconcelos (MDB), Humberto Costa (PT) e Fernando Bezerra Coelho (MDB).“A vaga do Senado é sempre disputada por várias razões: a primeira, é que se trata de um mandato de 8 anos. Isso é importante para algumas lideranças políticas que têm dificuldade de ter uma votação a cada eleição, mas controlam as legendas em seus estados”, explica o cientista político e professor da Asces-Unita, Vanuccio Pimentel.

Por outro lado, segundo a avaliação da cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa, uma variável que vem ganhando força nos últimos anos é justamente a perda da imagem de que o Senado seria um “estaleiro político”.

“Tem aí uma questão estrutural, da importância que tem a composição do Senado para o envio de recursos para seus redutos. Essa articulação em âmbito federal é feita para que o município e o estado sejam valorizados nessa disputa orçamentária, que é algo da própria da política”, afirma a docente.

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Frente Popular

Após o indicativo de desistência do ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio, para disputar a sucessão do governador Paulo Câmara, o PSB tem trabalhado internamente pela escolha de um nome, desta vez com perfil político e ligação histórica com a legenda. Enquanto esse imbróglio tende a ser resolvido nas primeiras semanas de janeiro de 2022, despontam nomes como os dos deputados federais e presidente estaduais de seus partidos, Silvio Costa Filho (Republicanos), Wolney Queiroz (PDT), André De Paula (PSD) e Eduardo da Fonte (PP), como pré-candidatos para o Senado.

“É natural que qualquer partido sonhe em poder ter representantes nos seus estados tanto na Câmara quanto no Senado. Mas já dizia Tancredo Neves, que eleição majoritária é muito mais destino do que projeto pessoal. Qualquer candidatura majoritária tem que partir de um desejo coletivo e naturalmente na hora certa o governador Paulo Câmara, como condutor do processo, vai apresentar os critérios para a escolha do candidato ao Senado e a vice-governador”, avalia Costa Filho, afirmando publicamente que está “pronto para enfrentar esse desafio”.

Para o deputado federal Eduardo da Fonte, alguns fatores relevantes para a escolha desse candidato a senador precisam ser considerados, como "as bandeiras defendidas ao longo da trajetória política, principalmente a história dentro da Frente Popular”. “O PP é um partido que tem crescido muito em Pernambuco, nós temos 18 prefeitos, 11 deputados estaduais. O Senado é a nossa prioridade. Nós estamos acompanhando o PSB nas gestões de Eduardo Campos, do governador Paulo Câmara. Apoiamos o PT nas quatro eleições, então nunca saímos desse campo político”, enfatizou o parlamentar.

Tanto o Republicanos quanto o PP devem ter autonomia em seus diretórios estaduais para deliberar sobre os candidatos que devem apoiar nas eleições de 2022. As duas agremiações são próximas, a nível nacional, do presidente da República Jair Bolsonaro (PL). Entretanto, Silvio Costa Filho e Eduardo da Fonte possuem histórico de defesa pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nos bastidores, esse alinhamento com Lula, caso petistas e socialistas estejam no mesmo palanque nacional, poderia contar como um fator decisivo para a montagem da chapa majoritária. Neste caso, o PSB indicará o candidato a governador - entre os nomes alternativos de perfil político estão os dos deputados Tadeu Alencar, Danilo Cabral e Felipe Carreras -; o PT caberia a vice, tendo nomes como Dilson Peixoto, Humberto Costa e Carlos Veras no páreo; e a escolha do Senado por um dos partidos que convergem com essa conjuntura.

Acontece que na política nenhum cenário pode ser considerado impossível e o presidente estadual do PDT, Wolney Queiroz já levantou a possibilidade de haver um duplo palanque presidencial para apoiar Lula e o ex-ministro Ciro Gomes em Pernambuco. O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, lançou o nome de Queiroz para a vaga ao Senado, caso o PSB bata o martelo sobre o apoio a Lula.

“Para o PDT que tem uma postulação para presidente da República, é fundamental viabilizar um palanque. Então que pelo menos consigamos espaço no Senado para defender o nome de Ciro. Sem dúvida a gente tendo uma candidatura escolhida pela Frente Popular, primeiro demonstramos solidificação com a aliança com o PSB, consolidada com Isabella de Roldão na Prefeitura do Recife, e segundo que teremos uma representação do interior do Estado. A estratégia do ponto de vista territorial é importante”, destacou Wolney.

A indicação de um nome fora da área metropolitana se torna um contraponto aos pré-candidatos ao governo da oposição que são do interior do Estado, como Miguel Coelho (DEM), prefeito de Petrolina, no Sertão, e Raquel Lyra (PSDB), prefeita de Caruaru, na região Agreste. Entre as defesas pelo perfil ideal, todos os parlamentares foram unânimes em afirmar que ainda há tempo para que esse assunto seja debatido, a partir de uma definição sobre quem será o candidato a governador.

“O grande desafio do PSB é o tamanho da Frente Popular. Quando Eduardo (Campos) assumiu o governo de Pernambuco, ele traçou uma estratégia de ampliação da frente incluindo uma gama muito grande de partidos. Essa estratégia sempre esteve em sintonia com o projeto nacional à presidência em 2014. Agora, sem Eduardo e com um projeto nacional em definição, o PSB enfrenta essa chuva de pretendentes para o Senado. Todos eles, com peso nas legendas que ocupam”, observa o cientista político Vanuccio Pimentel.

Oposição

Além de Miguel e Raquel, a centro-direita pernambucana trabalha com o nome do prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL), como possível candidato a governador em 2022. Dentro desse grupo, no entanto, parecem travadas as negociações sobre quem poderia ocupar as vagas de postulantes a senador em chapas majoritárias que venham a ser confirmadas.

Líderes do Movimento Levanta Pernambuco, que circulou o Estado nos últimos dois meses ouvindo as principais demandas da população nas mais variadas áreas, Anderson e Raquel resistem em apontar quem fará o que no projeto eleitoral do grupo - que conta também com Cidadania e PSC -, muito embora comente-se nos bastidores que já estaria praticamente certo que Anderson deve disputar a vaga à Casa Alta. Nesse cenário, a prefeita de Caruaru seria a candidata a governadora pelo bloco.

Quando a gente coloca um nome na frente do projeto o debate começa a se apequenar. A gente não quer discutir nomes, se é homem, se é mulher, se é preto, se é branco, se é baixo ou se é alto, a gente quer saber como está a vida de quem vive no Sertão do Araripe, no Sertão do São Francisco, nos Agrestes pernambucanos, quais as dores de cada uma dessas regiões, para, a partir disso, traçar estratégias que possam levar Pernambuco para o futuro”, declarou Raquel Lyra.

Miguel Coelho, por sua vez, defende que não deve se antecipar e “discutir a escalação”, uma vez que sequer terminou de “montar o time”. O pré-candidato já conseguiu o apoio do Podemos à sua postulação, mas tem trabalhado para conquistar a adesão de outras siglas e não quer deixar portas fechadas.

“Nós estamos recebendo novos apoios. Se você forma o time antes da janela partidária, por exemplo, termina afastando, afinal tem gente que quer vir para colocar o seu nome e ser pelo menos considerado”, disse o prefeito.

Na direita do Estado há rumores de que o ministro do Turismo, Gilson Machado, poderia entrar no páreo e concorrer ao Senado. O auxiliar do presidente tem dito reiteradas vezes que está à disposição do chefe do Executivo federal para qualquer desafio na próxima eleição, mas a confirmação dessa candidatura depende de costuras que hoje ainda são incipientes, como a definição do candidato a governador que dará palanque a Bolsonaro em 2022.

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