Doleiro Alberto Yousseff, condenado por Moro na Lava Jato, financiou campanha de principal aliado do ex-juiz
Duas empresas de Youssef pagaram R$ 21 mil — o equivalente a R$ 88 mil em valores atualizados — à campanha de Alvaro Dias ao Senado
O operador financeiro Alberto Youssef, condenado em 2015 na Lava Jato, financiou uma das campanhas eleitorais do senador Alvaro Dias (Podemos), maior aliado político do ex-juiz Sergio Moro (Podemos), responsável pela condenação do doleiro, pivô da operação.
Duas empresas de Youssef pagaram, em 1998, R$ 21 mil — o equivalente a R$ 88 mil em valores atualizados — à campanha de Dias, que à época concorria ao Senado pelo PSDB. As doações se referem a horas de voo em jatinhos que Youssef cedeu ao então candidato.
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Foi esta campanha que levou Alvaro Dias ao Senado pela segunda vez. Desde então o político tem conquistado reeleições e permanecido na Câmara Alta do Congresso Nacional.
As informações estão na prestação de contas de Dias entregue naquele ano ao Tribunal Regional Eleitoral no Paraná (TRE-PR), mas vieram a público no final da noite dessa terça-feira (28) em uma reportagem da Folha de S.Paulo.
Alberto Youssef, de 54 anos, foi condenado por Moro na Lava Jato em penas que somam mais de 120 anos de prisão e chamado em uma das sentenças de "criminoso profissional". Porém deixou o regime fechado em 2016, graças a um acordo de delação.
Doações foram reveladas na CPI
Um ano antes, durante depoimento à CPI da Petrobras, quando ainda estava preso por ordem de Moro, Youssef falou sobre as doações ao hoje aliado do ex-juiz após pergunta feita por um deputado petista.
"Na época, eu fiz a campanha do senador Alvaro Dias, e parte dessas horas voadas foram pagas pelo [Luis] Paolicchi, que foi secretário de Fazenda da Prefeitura de Maringá, e parte foram doações mesmo que eu fiz das horas voadas", disse ele.
Nos documentos entregues pelo senador à Justiça Eleitoral há 23 anos, duas empresas do operador financeiro são listadas. Uma delas é a San Marino Táxi Aéreo, que pagou R$ 9,8 mil. Detalhamento das contas diz que esse valor se refere à "cessão para uso em viagens de campanha correspondente a seis horas da aeronave PT-IEC Turbo Commander, estimada a preço de mercado conforme declaração do doador".
A outra é a Youssef Câmbio & Turismo, com outros R$ 11,2 mil. Há a mesma explicação, mas referente a oito horas de voo da aeronave Learjet C-25 PT-LLN. A campanha a senador teve custo declarado de R$ 391 mil (R$ 1,6 milhão em valores atualizados).
Paolicchi, que pagou parte das doações a Alvaro Dias, foi figura central na virada do século em um escândalo de desvios na Prefeitura de Maringá, cidade natal de Moro.
O ex-secretário Paolicchi acusou políticos do Paraná de terem suas campanhas abastecidas com os recursos públicos desviados do município. Além do atual senador do Podemos, foram mencionados, entre outros, o então governador Jaime Lerner (que morreu neste ano e havia sido eleito pelo PFL, hoje DEM) e Ricardo Barros (PP), que é líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. O prefeito investigado era Jairo Gianoto, eleito pelo PSDB.