Resultado da fusão do PSL com o Democratas, o União Brasil (UB) sequer foi oficializado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e já é considerado uma potência. Nas eleições deste ano, o 'superpartido' receberá a maior fatia do fundo eleitoral para custear suas campanhas, o equivalente a R$ 1 bilhão, e a despeito do que se poderia esperar, aparentemente não terá candidato próprio ao Palácio do Planalto. Ainda que ainda não tenha decidido ao lado de qual postulante a presidente estará, a legenda tem trabalhado os nomes de três lideranças que podem ser apresentadas como opções de vice para um candidato de terceira via, dois deles pernambucanos: Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro, Luciano Bivar (PSL-PE), deputado federal, e Mendonça Filho (DEM-PE), ex-ministro da Educação e ex-governador de Pernambuco.
Membros das cúpulas do Podemos, legenda de Sergio Moro, e do UB têm se encontrado recorrentemente para discutir os termos de uma possível aliança. A agremiação que será presidida por Bivar, no entanto, sequer admite oficialmente que desistiu de lançar um candidato a presidente, e também tem mantido o canal de diálogo aberto com partidos como o PSDB de João Doria e até com o MDB de Simone Tebet. Representantes da sigla, porém, têm afirmado que a prioridade do UB é o fortalecimento das bancadas no Congresso, uma vez que o novo partido deve perder dezenas de parlamentares alinhados com o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a janela de troca partidária.
Mas por que um partido tão grande e que já nasce tão rico abriria mão da cabeça de uma chapa presidencial? “O principal motivo é porque a sigla entraria em uma disputa que já nasce polarizada entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Bolsonaro. Se avaliarmos os números das últimas rodadas de pesquisas, veremos que o petista tem chances reais de ir para o segundo turno e, nesse cenário, ganha de todos os demais candidatos na segunda fase do pleito. Além disso, há a possibilidade de que ele ganhe a disputa já no primeiro turno. Também não podemos esquecer do Bolsonaro, que mantém a sua base de 20% de intenção de voto, sendo muito difícil para outro nome se firmar em uma situação dessas”, observou Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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Rosemary Segurado, cientista política da PUC-SP, por sua vez, lembra que não é totalmente incomum que partidos robustos fiquem de fora das disputas presidenciais no Brasil. “Mais do que lançar ou não lançar um nome, o partido precisa avaliar como pretende estar dentro desse jogo eleitoral. Às vezes é muito mais vantajoso para ele ocupar outros espaços, até mesmo como vice, como ocorreu no caso do Michel Temer (MDB) com a Dilma (Rousseff, PT). A sigla acaba tendo protagonismo mesmo sem ser exatamente a cabeça de chapa. Em um quadro onde não está configurado o espaço para a chamada terceira via, melhor seria avalizar algum dos projetos já postos do que alçar um voo próprio”, pontuou.
Pré-candidato a presidente pelo DEM, Mandetta é médico, foi secretário de Saúde de Campo Grande, deputado federal e ministro da Saúde até 2020, quando deixou o cargo após desavenças com Bolsonaro. Como Moro também auxiliou o presidente da República - como titular da pasta de Justiça e Segurança Pública - e deixou o governo rompido com o chefe do Executivo, eles teriam certa afinidade, o que facilitaria uma aliança.
Há cerca de um mês, o democrata disse em uma rede social que seu nome "continua à disposição" do UB para a disputa da presidência, mas tinha um encontro marcado com Moro em São Paulo na última segunda (17), que foi cancelado porque o ex-juiz testou positivo para covid-19.
Uma ala do PSL, no entanto, defende que Bivar seja o nome apresentado como vice. Deputado federal, o pernambucano que hoje preside o PSL vai comandar o UB. Em meados do último mês de dezembro, o deputado federal Júnior Bozella (PSL-SP) defendeu no jornal Valor Econômico que o novo partido convencesse "Bivar a aceitar ser o (candidato) a vice do Moro" e que a chapa seria atrativa para dar musculatura à terceira via.
Mais recentemente, o ex-governador Mendonça Filho, hoje pré-candidato a deputado federal pelo DEM, passou a ser cotado para a vice. Mendonça já foi deputado estadual, federal, secretário de Estado, vice-governador e ministro da Educação, mas perdeu as duas últimas eleições que disputou, para o Senado, em 2018, e para a Prefeitura do Recife, em 2020. Ao JC, ele afirmou que se sente lisonjeado em ser lembrado para a posição, mas que está focado em sua pré-campanha para a Câmara.
“Não existe candidatura a vice. Essa, normalmente, é uma escolha decorrente de uma composição política, de uma soma de atributos relativos à construção de uma chapa competitiva. E não sou eu quem conduz isso, a liderança desse processo será feita pelo futuro presidente do partido, Luciano Bivar, e pelo futuro secretário nacional, ACM Neto, tendo em vista o pressuposto de ampliação da bancada e da eleição dos Estados. Quanto a mim, eu já tenho o meu projeto para 2022 definido, devo disputar o mandato de deputado federal. Mas é lógico que, como cidadão, ser lembrado é sempre algo que deixa a gente feliz, mas eu estou muito tranquilo de que o papel que eu posso melhor cumprir é no Parlamento”, declarou Mendonça.
Segundo dados da última pesquisa Ipespe, divulgada no dia 14 de janeiro, o ex-presidente Lula segue na liderança da corrida presidencial de 2022, com 44% das intenções de voto. Em segundo lugar vem Bolsonaro, com 24%, seguido de Moro, com 9%, Ciro Gomes (PDT), com 7%, João Doria, com 2%, Simone Tebet, com 1%, Rodrigo Pacheco (PSD), com 1%, e Felipe D'Ávila (Novo), com 1%.
Diante desse cenário, afirma Rodrigo Prando, pode ser interessante para os postulantes que tentam quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro firmar uma composição com um vice do Nordeste, região que é um celeiro histórico de votos do PT. "Um vice do Nordeste atacaria a cidadela do PT. Quando o Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi presidente, por exemplo, o seu vice era do Nordeste (Marco Maciel). É muito importante que haja um candidato que tenha uma representatividade nacional, mas também um vice que possa atrair a conjugação dos colégios eleitorais formados por esses nove Estados", frisou.
Apesar de concordar com essa avaliação, Rosemary Segurado chama atenção para o fato de que, apesar de serem nordestinos e terem uma representatividade relevante no meio político, o desempenho eleitoral recente de Bivar e Mendonça aponta para o fato de que, talvez, suas presenças em uma chapa presidencial podem não ser tão vantajosas para um candidato a presidente que pretenda se popularizar na região de Lula. “Para o Moro - se ele sair candidato - ou para o Doria, ter um nome do Nordeste como vice pode ser uma solução. Mas esses nomes, especificamente, embora sejam da região, um colégio eleitoral muito importante, podem até ajudar na campanha, mas dificilmente tornarão a chapa mais competitiva”, disse a cientista política.
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