Recurso 'Comunidades' no WhatsApp: saiba o que é e por que Bolsonaro tem interesse
Bolsonaro se reuniu com dona do Whatsapp após cobrar esclarecimentos sobre o lançamento do 'Comunidades' e suposto acordo com o TSE
O Whatsapp está no início do desenvolvimento de um recurso chamado 'Comunidades', que permitirá grupos com milhares de pessoas. De acordo com a Meta, empresa dona do aplicativo, a data exata para implementação do serviço não foi definida, pois dependerá do resultado de testes que ainda serão realizados pelo mundo.
Nos últimos dias, o recurso 'Comunidades' se tornou motivo de discussão política, com o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), criticando um suposto acordo entre o WhatsApp e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que a nova ferramenta só fosse lançada após a eleição.
Nessa quarta (27), em reunião com Bolsonaro, representantes da Meta esclareceram que em momento algum a empresa firmou acordo com o tribunal para adiar o lançamento no Brasil.
Há duas semanas, durante uma motociata, o presidente disse ser “inaceitável, inadmissível e inconcebível” que o Whatsapp adotasse uma “nova política para o mundo, mas uma especial, restritiva, para o Brasil”. Sem apresentar detalhes, acusou ainda que a “censura” havias sido acordada com três ministros da Corte eleitoral.
Bolsonaro já possui recurso semelhante no aplicativo de mensagens Telegram, pelo qual compartilha informações com seus apoiadores e deseja ter o mesmo serviço no WhatsApp, que tem, hoje, um limite por grupo de 256 usuários.
No Telegram, plataforma mais livre e usada por grupos conservadores e de direita no mundo inteiro, o canal oficial de Bolsonaro já tem mais de 1,34 milhão de acompanhantes. O de Lula, seu principal adversário político, tem apenas 63 mil, de acordo com o UOL. Ou seja, o atual presidente tem 21 vezes mais seguidores.
'Fake news'
Quando disponível, a ferramenta permitirá a criação de comunidades e de grupos de diversos interesses. Administradores terão novos recursos, como envio de mensagens a todas as comunidades e gestão da participação nos grupos.
Porém, há um receio de autoridades e críticas do potencial para a disseminação de desinformação na eleição deste ano. Pesquisas mostraram como o Whatsapp foi um canal de difusão de conteúdos falsos nas eleições de 2018. Esse fenômeno gerou preocupações da Justiça Eleitoral naquela disputa.
Uma denúncia de disparo em massa na plataforma ensejou um inquérito no Tribunal Superior Eleitoral, que terminou por não encontrar evidências da prática.
Em outubro de 2021, o TSE decidiu rejeitar as ações que pediam a cassação dos mandatos do presidente Jair Bolsonaro e do vice Hamilton Mourão. A chapa foi acusada de promover disparos em massa de notícias falsas e ataques a adversários, por meio do WhatsApp, durante as eleições de 2018.
Ao proclamar o julgamento, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, frisou que a "maioria expressiva" da Corte - seis dos sete ministros - entendeu que houve condutas ilícitas relacionadas a disparos em massa e à difusão de desinformação contra os adversários.
No entanto, a avaliação do colegiado foi a de que a condenação de Bolsonaro e Mourão não seria possível "por não se ter provado, suficientemente, a conexão com a chapa vencedora ou não se ter demonstrado a gravidade dos fatos, uma vez que não se obtiveram as mensagens nem a comprovação de compra por pessoas ligadas à campanha".
Ministro
Em coletiva, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, esclareceu que o Whatsapp e a Meta deixaram muito claro que em nenhum momento atenderam pedido do TSE para que fossem feitas mudanças em relação às ‘Comunidades’ apenas após as eleições.
"Foi uma decisão global, olhando concorrentes e mercado mundial. Os testes não ocorreram em nenhum país até agora, provavelmente no último quadrimestre eles irão implementar este serviço”, disse Faria.
Questionado sobre o motivo das críticas de Bolsonaro, Faria acrescentou: “O TSE teria pedido em nota que o WhatsApp aguardasse as eleições, mas eles esclareceram que isso não houve. A reação do presidente foi porque ele achava que existia um acordo, mas isso não existiu”. Segundo o ministro, se a decisão da empresa ocorre em âmbito global, o presidente a respeita.
O ministro acrescentou que, de acordo com os representantes, a decisão de reduzir o alcance do reencaminhamento de mensagens, recurso utilizado comumente para espalhar fake news, também foi voltada ao mundo todo, sem regra específica ao Brasil. “A decisão de diminuir reencaminhamento de mensagens foi global. Nada tem a ver com eleição”, disse.
"Continuaremos a avaliar o momento exato para o lançamento da funcionalidade no Brasil e comunicaremos a data quando estiver definida. Reafirmamos que isso só acontecerá após as eleições de outubro", diz a nota da empresa.
O Whatsapp também nega na nota enviada à imprensa que tenha feito acordo com o TSE sobre o 'comunidades'. "É importante ressaltar que a decisão sobre a data de lançamento deste recurso no Brasil foi tomada exclusivamente pela empresa, tendo em vista a confiabilidade do funcionamento do recurso e sua estratégia de negócios de longo prazo. Essa decisão não foi tomada a pedido nem por acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)", diz o comunicado.
Grupos
Também foram anunciadas mudanças nos grupos já existentes. Uma ferramenta de reações, como no Facebook, será inserida para que pessoas possam se posicionar sobre mensagens. Administradores poderão apagar mensagens.
Além disso, será possível compartilhar arquivos com até 2 GB. Será possível fazer salas de conversa em áudio com até 32 pessoas.
Segundo mensagem institucional no site do Whatsapp, apesar da criação do recurso a comunidades serão “naturalmente privadas”. Por essa razão, a criptografia ponta-a-ponta seguirá sendo assegurada no aplicativo.