Da AFP
Acadêmicos, sindicatos, empresários e outros membros da sociedade civil se reuniram nesta quinta-feira (11) em diversas cidades brasileiras para se manifestar "em defesa da democracia", em resposta aos ataques do presidente Jair Bolsonaro contra as instituições democráticas
Faltando menos de dois meses para as eleições nas quais buscará um novo mandato, Bolsonaro voltou a criticar publicamente os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e questionou a confiabilidade do sistema de votação por urna eletrônica, alimentando temores de que pode não reconhecer uma eventual derrota.
"Após 200 anos de independência do Brasil deveríamos estar pensando em nosso futuro, em como resolver problemas graves, por exemplo da educação, saúde, da economia, mas estamos voltados a impedir retrocessos", disse o reitor da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Gilberto Carlotti Junior, ao abrir uma solenidade na instituição que reuniu cerca de 800 advogados, professores, empresários, dirigentes sindicais e ONGs.
Do lado de fora da universidade, milhares de pessoas agitaram bandeiras e ergueram faixas contra Bolsonaro.
"Nosso presidente já deu indícios de que fará tudo possível para impedir que haja eleições", disse à AFP a arquiteta Sabrina Cunha, de 62 anos.
"Fui do movimento estudantil durante a ditadura militar (1964-1985), sei o que nos espera", completou.
Outras cidades do país, como Rio de Janeiro e Brasília, onde houve atos na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e na Universidade de Brasília (UnB), também registraram manifestações nas ruas.
Em Pernambuco, a manifestação ocorreu na Faculdade de Direito do Recife, no Centro da cidade.
Bolsonaro desconsiderou as manifestações que aconteceram durante o dia e acusou a esquerda por organizar o movimento.
"Alguém discorda que isso aqui é a melhor carta da democracia? Alguém tem dúvida? Acha que outro pedaço de papel substitui isso daqui?", declarou o presidente, com a Constituição brasileira em mãos, durante uma live nas redes sociais.
- Manifestos pró-democracia -
Nas últimas semanas, mais de 900 mil representantes da sociedade civil assinaram um manifesto "em defesa da democracia" lançado pela USP, que foi lido em um vídeo por artistas como Caetano Veloso, Anitta e Fernanda Montenegro.
Outras cartas semelhantes foram publicadas por importantes associações empresariais, incluindo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), algo visto por muitos observadores como um revés para Bolsonaro, já que grande parte do empresariado o apoiou nas eleições de 2018.
O Brasil vive um "momento inédito em que capital e trabalho se juntam em defesa da democracia", afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias ao ler o manifesto divulgado na semana passada pela Fiesp intitulado "Em defesa da democracia e da justiça".
Os participantes do evento na USP traçaram paralelos com um evento realizado em 1977, quando um manifesto em defesa da democracia foi lido na mesma universidade em um momento de ditadura militar no Brasil.
Bolsonaro repete com frequência, sem apresentar provas, de que o sistema eleitoral brasileiro não é confiável. O presidente questiona os resultados das eleições de 2014 e 2018.
No mês passado, Bolsonaro reproduziu essas ideias diante de uma audiência de embaixadores estrangeiros em Brasília.
Os Estados Unidos reagiram elogiando as eleições brasileiras como "um modelo para o mundo inteiro". O YouTube acabou removendo o vídeo do discurso do presidente por violar a "política de integridade eleitoral" da plataforma.
Na última pesquisa do instituto Datafolha, divulgada em 28 de julho, Bolsonaro aparece 18 pontos percentuais atrás de Lula, o favorito para vencer a eleição (47% contra 29%).
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