No debate promovido pela TV Jornal nesta terça-feira, 25 de outubro, Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) conseguiram ocupar a maior parte dos cinco blocos com suas propostas para o Governo de Pernambuco. As adversárias neste segundo turno diminuíram os ataques sobre condutas egressas e apoios políticos, travando esse embate no campo da Justiça ao protocolarem ações criminais.
Assim que chegou à sede do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, Raquel Lyra assinou uma representação criminal contra Marília Arraes. A tucana acusa sua adversária de mentir e tentar lhe imputar culpa sobre crises envolvendo a morte de adolescentes na Funase durante o período no qual foi secretária da Criança e da Juventude.
O assunto voltou à tona durante o debate, mas durante um curto período de tempo, se comparado aos debates anteriores. Marília Arraes respondeu à ação de Raquel Lyra no mesmo âmbito e apresentou ao Ministério Público Eleitoral uma notícia-crime contra a adversária por denunciação caluniosa. Os advogados da deputada federal afirmam que a tucana imputou falsamente os crimes de calúnia, injúria e difamação à deputada federal.
Nos bastidores, ambas as campanhas consideraram o debate proveitoso. Afirmam que, comparados aos outros embates, reduziu-se o tempo de ataques envolvendo apoios políticos. Marília Arraes associou Raquel Lyra ao presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto a tucana tentou ligar a adversária ao governador Paulo Câmara (PSB). Ambas negaram a associação e seguiram com o debate de propostas sobre saneamento básico, geração de emprego.
O novo discurso de Marília Arraes envolvendo a Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) foi feito em meio a um questionamento sobre fortalecimento de projetos e programas voltados para geração de oportunidades para jovens e adolescentes, incluindo os que estão no sistema socioeducativo. A candidata do Solidariedade questionou como a adversária vai cuidar dos menores infratores.
Raquel Lyra classificou o tema como de extrema relevância e afirmou que Marília Arraes se reporta ao problema de maneira ultrapassada, anterior ao Estatuto da Criança e Adolescente. A ex-prefeita de Caruaru disse ter dedicado seus mandatos ao cuidado de crianças e adolescentes e afirmou que só serão 'internos' os menores que não puderem cumprir medidas socioeducativas em em meio aberto. Além disso, se comprometeu com envio de recursos para instaurar equipes multidisciplinares lidarem com esse problema.
Marília Arraes rebateu contando a história de uma mulher chamada Irismar. "Ela pediu ajuda ao Estado, a você, que era secretária, para que seu filho fosse reabilitado e entregue melhor à sociedade. Ela recebeu o filho morto e nem você ou sua secretaria deram assistência psicológica ou social a essa mulher. (...) Sua gestão como secretária de Eduardo Campos foi uma tragédia, o que levou a sua demissão. Até a ONU interferiu. Não foi somente Yuri, foram sete jovens assassinados e outros torturados, além de nove rebeliões", disse.
Raquel Lyra classificou como desesperada e inescrupulosa a fala de Marília Arraes, acusando-a de tentar lhe imputar responsabilidade indevida. A tucana afirma que não conseguiu assumir a presidência da Funase por causa de uma indicação política de Eduardo Campos, então governador, e alegou que a deputada federal usa a dor de uma mãe em prol da eleição.
Propostas
Raquel Lyra e Marília Arraes apresentaram suas propostas durante todos os blocos, mas dedicaram-se especialmente aos seus planos de Governo quando foram questionadas pelos jornalistas Ciro Bezerra e Izabela Barbosa.
Creches
Marília Arraes afirmou que, apesar de a atribuição do governo do estado ser cuidar do ensino médio, é necessário fazer com que os jovens cheguem nessa modalidade de ensino preparados. A candidata afirmou que começará a cuidar da base desde a gestação com a Casa da Mulher Pernambucana, locais onde as mulheres terão acesso a exames, pré-natal e assistência de programas sociais para as crianças de até um ano de idade.
"Vamos fazer parcerias com os municípios, cuja atribuição é cuidar das creches, mas o Governo vai junto com eles fazer esse trabalho. Vamos redistribuir o ICMS para que os municípios possam destiná-lo a essa finalidade. Vamos aproveitar as novas regras de distribuição do Fundeb e, com certeza, cuidar da fome. Não dá pra falar em educação e cuidar da primeira infância com uma geração que passa fome", disse Marília Arraes.
Nesse sentido, a candidata do Solidariedade ciou propostas para cuidar da alimentação das crianças, gestantes e demais pernambucanos. Ela garantiu destinar R$ 1 bilhão no combate à fome, com diversos programas sociais atrelados: o 'Cestão do Povo', o 'Quentinha Pernambucana' e as cozinhas solidárias nas comunidades.
Raquel Lyra afirmou que começou a ser chamada de "Racreche" em Caruaru diante das vagas abertas em creches no município, destacando que essa iniciativa oferece cinco refeições por dia às crianças, além de saúde e vacinação em dia, e acaba por oferecer às mães oportunidade de trabalhar. "Montamos qualificação profissional dentro das creches. Vamos construir 60 mil vagas em 250 creches a serem construídas pelo governo e mantidas no primeiro ano, até chegar o recurso do Fundeb para as prefeituras", disse.
A tucana também garantiu a construção de cinco novas grandes maternidades em Pernambuco, citando a construção da unidade Santa Dulce dos Pobres em Caruaru. Ela também afirmou que a adversária seria contra a construção de novas creches no estado. Marília rebateu, afirmando que a ex-prefeita de Caruaru formulou seu plano de governo junto a Anderson Ferreira (PL), candidato apoiado por Bolsonaro (PL) no primeiro turno.
"Pernambuco não precisa somente de maternidade, mas também de hospitais materno-infantis, para cuidar das mães e das crianças. Isso vai acontecer em Petrolina, quando fizermos um grande hospital de alta e média complexidade e o Hospital Dom Malan passar a ser materno-infantil; em Serra Talhada, quando o Hospital Agamenon Magalhães ser exclusivo materno-infantil e o Eduardo Campos atender alta e média complexidade", disse.
Habitação
Marília Arraes recordou o governo do seu avô, Miguel Arraes, citando os títulos de posse e casas obtidos durante a gestão do socialista em Pernambuco. Raquel Lyra afirmou que a política de habitação precisa ser política pública e criticou o governador Paulo Câmara por destinar mais verba para propaganda que para construção de moradia.
"Como prefeita de Caruaru, entreguei 4.5 mil habitações na cidade e na zona rural, trocando casas de taipa por alvenaria. Cuidar de habitação é cuidar do entorno. Construímos canais que quando chegam as chuvas, impedem que as pessoas percam tudo ou coloquem em risco tudo que possuem", disse Raquel Lyra, citando ainda as visitas às zonas atingidas pela crise das chuvas deste ano na Região Metropolitana do Recife.
A tucana se comprometeu com um programa habitacional para construção de 50 mil novas habitações para retirar pessoas de área de risco. Além disso, afirmou que vai regularizar terras, fazer um programa para entregar material de construção civil com apoio técnico para quem fez reformas em casas e promover investimento em drenagem.
Marília Arraes afirmou que a candidata esqueceu que iniciativas desse porte são feitas em parceria com o Governo Federal. "Não podemos falar em habitação popular com um presidente, cujo time está com você, que desmontou o Minha Casa, Minha Vida. Teremos o Minha Casa, Minha Vida Pernambuco, que vai destinar no mínimo R$ 350 milhões para habitação popular", disse.
Ela afirmou que será necessária a ajuda do eventual Governo Lula, usando como base um cálculo de que 50 mil casas devem custar R$ 4 bilhões. "Vamos precisar de um presidente que se preocupa com o Nordeste", disse. Raquel afirmou que somente a governadora vai entregar as obras e citou a paralização na construção de 10 mil unidades habitacionais e atacou Marília, afirmando que a adversária não destinou emendas para a habitação ou aos morros do Recife.
Transporte Público
Marília Arraes citou sua convivência na Câmara com Luiza Erundina, deputada federal do PSOL que defende o direito constitucional de ir e vir dos trabalhadores. A candidata afirmou que fará "licitações decentes" para que as concessões não penalizem os usuários, com fiscalização e aumento da frota, além da implementação de bilhete único para toda a Região Metropolitana e o fim dos anéis viários, o bilhete social para quem busca emprego e a expansão da rede de metrô.
"Isso a gente não pode fazer sozinho. Quem disser que é possível fazer só, como minha adversária diz, comete desonestidade intelectual. A gente vai precisar do Governo Federal e o único candidato preocupado com o desenvolvimento de Pernambuco é Lula. Por isso, tenho lado e certeza de que, junto com Lula, Pernambuco terá a pujança econômica que já tivemos", disse Marília Arraes.
Raquel Lyra rebateu e disse que quem recebeu apoio de Anderson Ferreira, candidato de Bolsonaro, foi Marília Arraes. A ex-prefeita de Caruaru faz referência ao apoio do então prefeito de Jaboatão ao PT no segundo turno da eleição pela Prefeitura do Recife, em 2020. Agora, a deputada federal rejeitou qualquer aproximação com o presidente estadual do PL.
"Eu vou cuidar e liderar a questão do transporte público na RMR, chamar todos os prefeitos para dizer que Pernambuco precisa garantir o direito de ir e vir. Irei ao presidente da República e perguntar para garantir a expansão do metrô, sua requalificação. Se ele disser que não vai fazer nada, vou pedir que me dê para que eu possa tomar conta, como fiz com a segurança em Caruaru", disse Raquel Lyra, que ainda prometeu garantir o bilhete único e a tarifa integrada.
Marília Arraes se defendeu, afirmando que em 2020, Anderson Ferreira não era candidato de Bolsonaro, mas que assumiu o presidente enquanto estava aliado com Raquel Lyra. A candidata do Solidariedade ainda atacou a tucana sobre transportes.
"A família dela é dona de uma empresa de ônibus, quem precisa se descolar de uma cidade pra outra, paga passagem mais cara porque na época em que o pai dela foi governador, mudou-se todo o sistema de transporte intermunicipal para favorecer a empresa dela. Essa não é uma governadora capaz demudar a situação aqui no Recife. Vai ficar pior para usuário, mas a favor de quem manda, das empresas", disse.
Saneamento básico
Raquel Lyra classificou a atual rede de coleta e tratamento de esgoto como descaso. "A Compesa, com respeito os servidores, não é prioridade do governador garantir água e esgoto tratado. Despejamos bilhões de litros de esgoto in natura, em Caruaru temos o terceiro rio mais poluído do Brasil por descaso e falta de oportunidade", disse.
Ela afirmou estar diante de uma nova oportunidade de garantir novos investimentos e garantiu que vai trabalhar com a manutenção da Compesa pública. "Mas construirei alternativas que permitam investimentos necessários para que a gente possa, até 2033, como coloca o Marco do Saneamento Básico, garantir que Pernambuco possa ter águia e esgoto tratado na casa das pessoas", disse.
A ex-prefeita de Caruaru ainda garantiu rede de esgoto na zona rural e que vai trabalhar fazendo concessão administrativa. "Concessão não é privatização. A gente vai permitir investimento privado, mas garantir investimento publico. Nas contas do Estado, a Compesa distribui lucro, devolve pra conta única pra se embaralhar dinheiro que deveria se usado no tratamento. Pra mim, será prioridade, Mas Marília votou contra o marco regulatório do saneamento, que garante universalização do tratamento de esgoto", disse.
Marília Arraes rebateu e disse que Raquel, ao usar "palavras difíceis", fala em concessão e Marco Legal do Saneamento para defender a privatização da Compesa. "Assuma suas posições. A Compesa hoje tem R$ 6 bilhões para investimento, mas vamos correr atrás. Se for fazer tudo isso sozinha como ela diz, Pernambuco vai precisar de uma máquina de dinheiro. A gente vai buscar recursos no Governo Federal, eu conheço Brasília, tem recursos para fazer o que precisa ser feito, mas cobrar do privado que as metas sejam cumprida".
Raquel Lyra criticou Marília e disse que a deputada não destinou emendas para tratamento de esgoto em Pernambuco. "O acesso a água e esgoto será prioridade absoluta em nosso Governo. Vamos reestruturar a Compesa, garantir sua permanência publica, usar a inteligência dela para garantir a conclusão de obras importantes. Vamos antecipar a PPP da Compesa, usar investimentos para garantir que a PPP da RMR, que na verdade é uma terceirização, possa ser concluída e garantir na região tratamento de esgoto".
As considerações finais de Marília Arraes e Raquel Lyra
Marília Arraes agradeceu a Deus a oportunidade de disputar a eleição, classificada pro ela como a mais importante desta geração e da história recente do Brasil.
O que está em jogo é a democracia contra o autoritarismo e a civilização contra a barbárie. Agradeço a ele por ter resistido ao longo desse processo, falta pouco para o dia das eleições, e quero dedicar este espaço a pedir seu voto para Lula. O que está em jogo neste país vai muito além do que a gente imagina, é a fome e a miséria que voltou. Precisamos ter um presidente que se preocupa de verdade com quem mais precisa. Quando o pobre cresce, passa a consumir, a ter carro e moto, a andar de avião e ter filho na universidade, a sociedade inteira ganha. Por isso, tenho lado. Da democracia, de Arraes, de Lula, que sacrificaram sua vida pra defender o que temos hoje tão ameaçado. Quero ser governadora de Pernambuco porque conheço nosso estado, cada cidade, cada região. Tenho trajetória de coerência e orgulho de todos os cargos que ocupei, da minha formação, muito além da acadêmica, mas do lado lado de quem mais precisa, com pé no chão, na estrada, andando e conversando com p pessoal da periferia, de embate com esse pessoal de Paulo Câmara que desmantelou o projeto de Eduardo Campos, que dava certo com Lula. Agora temos oportunidade de trazer tudo isso de volta. Acompanhe bem nos próximos dias, que verão quem está do lado de quem mais precisa e quem está do lado dos patrões em Pernambuco - Marília Arraes.
Raquel Lyra, pro sua vez, afirmou estar claro que Pernambuco decidiu por uma mudança no segundo turno, pois terá pela primeira vez uma governadora.
É hora de comparar trajetórias, biografias, propostas. Construí e me preparei a cada passo, aprendia transformar a vida das pessoas pra melhor. É claro que ninguém tem condição de resolver todos os problemas de uma cidade, estado ou pais. Mas a gente andou muito e garantimos melhor qualidade de vida pra nossa gente, porque cheguei aos invisíveis, àqueles que o Governo normalmente não enxerga, cuidei do homem e mulher da zona rural, garanti o cuidado e acolhimento às mães de crianças que puderam nascer num lugar descente, colocar seu filho na creche. Batemos recorde de geração de emprego de carteira assinada. Andamos nas ruas do nosso estado, ouvindo as pessoas, entendendo suas dores, e buscando com elas, juntos, construir ume estado melhor para se viver. É nele que quero estar com meus filhos. Quero dizer que quero ter saudade do tempo que vamos construir, estou pronta para ser a próxima governadora de Pernambuco. Não farei isso sozinha, farei a transformação com um time de especialistas, mas também junto com você, para a gente garantir um estado melhor pra se viver - Raquel Lyra
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